Pergunta:
Enquanto estudante de tradução, gostaria de saber se a expressão «estou barado!» é já aceite na escrita portuguesa, ou se permanece ainda uma marca do discurso oral.
Resposta:
A expressão «estar/ficar varado», no sentido de «estar/ficar fortemente surpreendido ou impressionado com algo», ocorre em textos de vários autores. Cito alguns com exemplos extraídos do Corpus do Português:
«Eu cá até pensei: bem, lá fizeram as pazes. Nisto: pum, pum. Dois tiros. Fiquei varado. Até caí com o susto.» Alberto Lopes, A Última Estação
«Numa dessas noites, eu saía de uma confeitaria do Rossio, de comprar trouxas-de-ovos para levar à minha Adélia, quando encontrei o Doutor Margaride, que me anunciou, depois do seu abraço paternal, que ia São Carlos ver o Profeta. – E você, vejo-o de casaca, naturalmente também vem.. Fiquei varado.» Eça de Queirós, A Relíquia
«Tenha compaixão.
– Passa fora, gatuno! O que tu querias nesse espinhaço bem sei eu.
Ele recuou aterrado, convulso. E varado por aquela violência ficou soluçando no meio da rua solitária.» Fialho de Almeida, A Ruiva
«E para a outra vez não é só ela quem prova da "canja", são os dois! Os dois eram a esbofeteada e o Antunes. O Antunes estava varado. Não percebia patavina.» José de Almada Negreiros, Nome de Guerra
A expressão «estar/ficar varado» surge a primeira vez no séc. XV, com o sentido de «ser trespassado por lança», ou para referir um navio que esteja em seco, na praia. Destas duas acepções vir-lhe-ão os sentidos abstractos que lhe atribuímos de «ficar sem acção, sem capacidade de reagir, imobilizado».
É, pois, uma expressão que, sem ser muito utilizada, poderá ocorrer aqui ...