Pergunta:
Porque «Rosa preocupa a mãe» não admite a passiva sintática «A mãe foi preocupada por Rosa», mas admite a passiva adjetiva «A mãe ficava preocupada com Rosa»?
E, em relação à frase «A polícia acalma a multidão», por que se admite a passiva sintática — «A multidão foi acalmada pela polícia» —, mas não admite a passiva adjetiva «A multidão ficou acalmada»?
Obrigada!
Resposta:
Os verbos acalmar e preocupar são verbos psicológicos que têm sido estudados e agrupados segundo especificidades que os caracterizam.
Amélia Mendes, no artigo "Uma análise dos verbos psicológicos com base nos dados de um corpus: regularidade, variação e polissemia verbal", in Actas comemorativas dos 25 anos do CLUL, (2002) , refere que os verbos protipicamente psicológicos:
a) admitem construção como transitivos, tendo como complemento, ou objeto, direto uma entidade que assume o valor semântico de experienciador e tendo o causador como sujeito:
(1) «Rosa preocupa a mãe.»
b) admitem construção com se (ergativa), assumindo o causador a forma de um grupo preposicional iniciado pela preposição com.
(2) «A mãe preocupa-se com (a) Rosa.»
A autora não analisa a construção passiva destes verbos, mas inclui preocupar no grupo dos verbos psicológicos prototípicos e associa acalmar a um grupo mais restrito que tem variações aspetuais. Diz a certa altura que verbos como acalmar «são todos deadjetivais e admitem uma grande variação de entidades lexicais no preenchimento da posição de objeto direto (…): acalmar uma pessoa, acalmar o trânsito, acalmar a bolsa, acalmar as ondas». Diz ainda que expressam uma gradação e que veiculam uma grande diversidade de sentidos, dependendo muito do contexto para a construção do seu significado.
Por seu lado, Márcia Cançado, na obra