José Mário Costa - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
José Mário Costa
José Mário Costa
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Jornalista português, cofundador (com João Carreira Bom) e responsável editorial do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Autor do programa televisivo Cuidado com a Língua!, cuja primeira série se encontra recolhida em livro, em colaboração com a professora Maria Regina Rocha. Ver mais aquiaqui e aqui.

 
Textos publicados pelo autor

As agências de publicidade são lugares por vezes simpáticos, onde se respira um cosmopolitismo que, convidando à criatividade, não deixa de convidar também à passividade perante os barbarismos. Uma reunião de publicitários chega a tornar-se atroz com o número de expressões inglesas que utiliza, quando, na sua maioria, têm equivalência em Português. «Target (destinatário, público-alvo)! Clipping (recorte, análise ou monitoragem de informação)! Costumer (cliente)! Manager (director, administrador,...

As manhãs de quinta, 13, e sexta, 14, encheram-se de euro via rádio portuguesa. Ainda não há euro que se veja, ou se troque, nem sequer ninguém ainda sabe se os portugueses vão mesmo deixar o escudo para a tal moeda única europeia — mas o fantasma do euro já anda a fazer a cabeça dos portugueses.
     Na manhã de quinta-feira, a TSF até lhe dedicou o seu habitual Fórum de quase três horas, euro para aqui, euro para ali, eles eram jornalistas, comentadores, especialist...

A Êispu 98 está a ser um êxito: os políticos e os jornalistas da televisão portuguesa gostam tanto dela, que já encontraram formas personalizadas de lhe pronunciar a abreviatura. Cada um tem a dele! No jornal das 22 horas da TV2, na quinta-feira, a jornalista Isabel Silva Costa abriu bem o «concurso», com Êis... mas concluiu-o mal, com . A montagem poupou o ministro António Vitorino e o comissário Torres Campos, citando-os em passagens que os não expunham à pronúncia da fu...

Erros de Português todos damos, mas, se há abusadores, são os legendistas/tradutores dos filmes que passam na televisão portuguesa. No sábado à tarde, numa fita que tratava do amor à primeira vista, na SIC, lá estava o «houveram» coisas. Raro é o filme em que as legendas saem limpas de erros elementares, próprios de quem não tem a instrução primária. O pior é que esta doença dos «houveram» é maleita contagiosa: pelo menos na TV (e na rádio), lá vem, frequente, a calinada.

Pergunta:

Ainda nos tempos da escola secundária aprendi várias palavras e expressões das quais desconheço a origem e só posso adivinhar a grafia. Aqui vai:

1. Bué, ou será "boé"?
2. Buerére (Bueréré, buéréré?)

3. Buéda fixe (bué de fixe, bué da fixe?)

É claro que há várias variantes onde as regras de concordância variam, como em Bués de charros em confronto com Bué charros, ou Bué fixe em lugar da expressão acima.

Não quero questionar o significado de cada uma delas que me parece bastante claro mas tão somente o sua origem.

Resposta:

A origem é angolana e já pertence à coloquialidade de estratos alargados da população mais jovem portuguesa de zonas suburbanas. É nestas áreas que se cruzam as maiores influências étnico-culturais das comunidades africanas residentes na área de Lisboa, em particular.

Bué é um calão luandense, que tem o significado do beaucoup francês, "muito de": «bué de charros», «bué de confusão», «bué de preconceitos». Tudo o resto (incluindo a variante "boé") são corruptelas derivadas de uma apropriação crescente da linguagem popular portuguesa.

Outros casos idênticos, da mesma origem: bazar (de base, desaparecer: "bazei por uns dias"), banga (estilo: "puxar banga"), etc.

 

Cf. Qual é a origem de «bué»?