Luciano Eduardo de Oliveira - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Luciano Eduardo de Oliveira
Luciano Eduardo de Oliveira
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Luciano Eduardo de Oliveira, poliglota, tradutor, professor de idiomas, formado em Letras na Unifac Faculdades Integradas de Botucatu.

 
Textos publicados pelo autor

Luciano Eduardo de Oliveira aponta algumas expressões que marcam a diferença entre os falantes do Rio de Janeiro e os de São Paulo.

 

A publicação de Variantes Cariocas da Língua Portuguesa (apresentado  no Ciberdúvidas, na rubrica Montra de Livros), inspirou-me a anotar algumas diferenças lexicais entre o Rio de Janeiro e São Paulo (SP),...

Pergunta:

Gostaria de saber se há alguma versão portuguesa do nome da dinastia que reinou vários territórios da Europa Central, os Jagiellonowie (em polaco). Encontro muitas variantes em português, mas nenhuma definitiva.

Resposta:

São possíveis formas como Jagellon1 Jagelão (plural Jagelões) e Jaguelão (plural Jaguelões), mas não parece haver na verdade um termo fixo. Também ocorre Iáguelòv, na transcrição feita na obra Os Eslavos, povos e nações, publicada em 1968 em Lisboa e no Rio de Janeiro pelas Edições Cosmos.

De qualquer modo, dado que o g de Jagiellonowie é uma consoante velar (o g de guerra), e não uma pré-palatal (o g de gerir), a forma Jaguelão afigura-se mais adequada. Quanto ao j, este soa de fato como i semivocálico em polaco, mas considerando-se que o j latino, ainda que tardio, passou ao português como segmento pré-palatal (o j de janela), não parece inadequado escrever Jaguelão, em vez de "Iaguelão". Refira-se que a partir do radical jaguelon- (cf. Salomão, salomon-, solomónico) se forma o adjetivo jaguelónico, que permite construir a expressão «dinastia jaguelónica», que é a forma que aparece na Wikipédia.

1 Jagellon é forma francesa que ocorre em enciclopédias publicadas em Portugal: Enciclopédia Focus (Lisboa, Edições Sá da Costa, 1965-1970) e Enciclopédia Verbo Luso-Brasileira de Cultura (1971).

Pergunta:

Sou astrónomo amador e vejo-me frequentemente confrontado com o alfabeto grego, que é usado para catalogar as estrelas de cada constelação. Quando as letras deste alfabeto são apresentadas no nosso idioma, encontro algumas designações diferentes, não só entre o português europeu (pt-PT) e o português do Brasil (pt-BR), mas também em cada uma destas variedades linguísticas. Acreditando que existe uma única forma correcta em cada norma, gostava que me esclarecessem sobre esta situação, tanto no âmbito do português europeu como do português do Brasil.

Exponho de seguida as situações dúbias, assinalando a variedade linguística em que as encontro, não colocando de parte a hipótese de nenhuma delas estar correcta:

ζ - Zeta ou Dzeta (pt-BR)?

η - Eta ou Etá (pt-BR)?

λ - Lambda ou Lâmbda (pt-BR)?

μ - Miú, Miu (pt-BR e pt-PT), Mi ou Mu (pt-BR)?

ν - Niú, Niu (pt-BR e pt-PT), Ni ou Nu (pt-BR)?

ο - Omicron ou Ômicron (pt-BR)

υ - Upsilon, Úpsilon (pt-BR e pt-PT), Hipsilo ou Ípsilon (pt-BR)?

χ - Chi ou Qui (pt-BR)?

ω - Omega ou Ômega (pt-BR)?

Desde já agradeço a atenção dada a este caso e, de uma forma geral, o trabalho que dedicam a esclarecer as nossas dúvidas.

Resposta:

No Brasil1 e em Portugal2:

ζ – zeta ou dzeta;

η – eta;

λ – lambda;

μ – mi ou mu;

ν – ni ou nu;

ο – ômicron (Brasil), ómicron (Portugal)

υ –ípsilon (variantes: ipsilão, ípsilo, ipsílon, ipsilone, hipsilão, hípsilo, hípsilon);3

χ – chi ou qui

ω – ômega (Brasil), ómega (Portugal)

1 Fonte: Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa

2  Fonte: Dicionário Priberam da Língua Portuguesa e Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora.

3 Os dicionários de português europeu que foram consultados só acolhem ípsilo e ipsilão.

Pergunta:

Tenho reparado que agora muita gente, especialmente a classe política, deixou de «reavaliar, reexaminar, reanalisar, rever, reconsiderar, repensar, reinterpretar, debruçar-se novamente» sobre acordos, matérias, decisões. Não, agora essas coisas são «revisitadas», aparentemente, à boa maneira inglesa — revisit.

Dos vários dicionários da língua portuguesa que consultei, o verbo visitar tem, entre outros, o significado de «passar revista a/inspecionar/percorrer fiscalizando/vistoriar», aplicando-se a instalações fabris ou locais de trabalho, e não propriamente a acordos ou decisões. Curiosamente, o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora nem sequer regista o termo revisitar. No entanto, o dicionário de inglês-português desta editora dá como tradução de revisit: «revisitar, voltar a visitar, visitar de novo.»

O verbo inglês revisit admite apenas dois significados — (1) «voltar a visitar alguém ou algum lugar (come back to, return to)»; e (2) «reexaminar/reavaliar uma decisão, acordo ou matéria após algum tempo» (re-examine, make a fresh appraisal, reconsider, review, rethink).

Admito que, figurativamente, talvez possamos «revisitar», por exemplo, a obra literária de algum escritor, mas será que também podemos fazê-lo em relação a decisões, acordos, assuntos, tal como no inglês?

Resposta:

Revisitar em português com esse sentido, para além do anglicismo semântico, talvez se possa compreender como uso metafórico de (re)visitar. Como um dos significados de visitar é «percorrer fiscalizando; inspecionar, vistoriar» («inspetores visitam a fábrica mensalmente», Dicionário Houaiss), revisitar seria fazer uma nova fiscalização, inspeção ou vistoria, não só de lugares, mas também de documentos.

Contudo, concordo que é mais adequado usar um dos verbos vernáculos que nos apresenta: reexaminar ou reavaliar, ou até mesmo retomar, reconsiderar, repensar, ou alguma perífrase com voltar: «voltar a discutir», «voltar a considerar», «voltar a pensar».

Pergunta:

No Brasil, nós usamos rarissimamente a palavra anedota. Ela já foi aqui muito usada, mas parece ter sido substituída pela palavra piada.

Seria então, no Brasil, a palavra anedota um arcaísmo ou um lusismo, enquanto em Portugal piada é um brasileirismo?

Resposta:

O Dicionário Houaiss não faz nenhum comentário quanto a anedota ser ou não arcaísmo. No entanto, parece mesmo que anedota se usa cada vez menos no Brasil, ou pelo menos no estado de São Paulo, de onde o estimado consulente e este consultor são oriundos.

Em Portugal, usa-se anedota sobretudo para designar uma «pequena narrativa jocosa cuja conclusão provoca o riso» (dicionário da Academia das Ciências de Lisboa), enquanto piada é reservada para um dito espirituoso», uma «referência indireta, irónica e por vezes mordaz dirigida a alguém» — «Não gostou da piada ao seu novo corte de cabelo» — ou à «qualidade da pessoa ou coisa que diverte, que é engraçada, que faz rir» — «tipo com piada», «livro com muita piada» — (idem).

É interessante notar que em outras línguas, como em inglês e em espanhol, mas não só, anecdote e anécdota referem-se a situações curiosas que aconteceram com alguém, não necessariamente engraçadas.