Sara Mourato - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sara Mourato
Sara Mourato
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Licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa – PLE/PL2. Com pós-graduação em Edição de Texto, trabalha na área da revisão de texto. Exerce funções como leitora no ISCTE.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

É sabido que agradecer com Obrigado ou Obrigada varia conforme o género da pessoa que o diz. No entanto, deparei-me com a seguinte dúvida:

A frase «Desde já, o meu muito obrigado», caso seja uma mulher a dizê-lo, varia para «Desde já, o meu muito obrigada», ou mantém-se o masculino?

Resposta:

Na frase referida – «Desde já, o meu muito obrigado» –, obrigado é um substantivo. Enquanto substantivo, a palavra é invariável no género, ou seja, é um substantivo masculino que não tem forma feminina (veja-se o Guia de Uso do Português, de Maria Helena de Moura Neves, ou o Dicionário de Questões Vernáculas, de Napoleão Mendes de Almeida).  A oração está, portanto, perfeitamente correta e não deve ser grafada de outra forma. 

Por outro lado, «muito obrigado» como locução interjetiva, exclamação que expressa muita gratidão (Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, pp. 2636), varia em género de acordo com o enunciador: «Muito obrigado/a por assistirem à conferência». 

Pergunta:

"Prelectivo" está correcto como adjectivação de prelecção? Se não, qual é o termo correcto?

Resposta:

O adjetivo preletivo1 não se encontra atestado em nenhum dicionário consultado. No entanto, assim como temos seleção e seletivo, este adjetivo parece possível, sendo que a uma variante do radical de preleção1 se junta o sufixo -ivo. Assumindo como correto, este adjetivo é relativo a preleção que, por sua vez, significa «ato ou efeito de prelecionar; discurso ou conferência didática; lição, sermão» (Infopédia).

A título de exemplo, refira-se o artigo de António Emiliano para a revista Linguística, onde, no resumo, encontramos: «O estilo geral do artigo é ensaístico, apologético e "prelectivo", com utilização miníma de notas, citações e bibliografia de referência.» O adjetivo encontra-se entre aspas no texto original, o que nos leva a crer que é exatamente por o mesmo não se encontrar registado. 

 

1 A grafia prelecção, com c mudo, é anterior à norma ortográfica em vigor, no quadro da qual a palavra passou a escrever-se preleção, sem a consoante muda (cf. ponto 1 da Base IV do

Pergunta:

Eu sei que o substantivo masculino esmero se pronuncia com a sílaba tónica -me- com um e fechado: como se fosse "esmêro". Mas qual é a pronúncia da primeira pessoa do singular do presente do indicativo do verbo esmerar? Será «eu esmero-me», com a sílaba tónica pronunciada com um e aberto, como em "esméro"? Ou será «eu esmero-me», com a sílaba tónica pronunciada com um e fechado, como em "esmêro"?

Desde já, mui grato pela atenção despendida.

Resposta:

O substantivo masculino esmero, em português de Portugal padrão, pronuncia-se, efetivamente com e fechado: /iʒmˈeɾu/. Acontece que, nas diferentes variantes da língua portuguesa, a pronúncia pode ser distinta, como se pode constatar no Portal da Língua Portuguesa. Por sua vez, a primeira pessoa do presente do indicativo – eu esmero –, à semelhança da do verbo levar – levo –, pronuncia-se com aberto: /iʒmɛɾu(cf. Gonçalves, F. Rebelo, 1966. Vocabulário da Língua Portuguesa. Coimbra Editora)

Pergunta:

A palavra em questão é francesa; retirei-a da revista  n.º 1214, novembro de 2018, pg. n.º 103. Da leitura daquela revista, retive que se trata de uma anomalia genética, na qual um indivíduo nasce, é formado, em alguns dos seus órgãos/sistemas, por células cujo ADN tem apenas herança paternal, e outros órgãos/sistemas herança genética normal (de pai e mãe). Não sei como será a palavra em português, mas creio poder ser "disomia", derivado, em parte de, cromossoma. Também admito que a palavra em português possa ser "demissomia", à semelhança, pelo seu contrário, de "trissomia" (genoma no qual no lugar de um dado par de cromossomas, existem três, por anomalia, tal como a conhecida trissomia 21, a trissomia 12, entre outras). Pois, acontece que na Internet não encontro tais palavras; o mesmo acontecendo nos dicionários a que tenho acesso. Assim, como gostaria de aprofundar um pouco aquele conceito, (disomie/disomia/demissomia...), solicito a vossa estimada ajuda no sentido de me indicarem uma possível fonte de informação/pesquisa.

Muito obrigado.

Obs.–"Demissomia", em vez de "disomia", pela razão de (demi), metade do "soma" genético, que é composto, na normalidade, por dois cromossomas, alelos. Mas é tão só um "palpite".

Resposta:

Em português, o termo associado à anomalia genética em que um indivíduo, no processo de gestação, recebe duas cópias de um cromossoma ou parte de um cromossoma de um dos pais e nenhuma cópia do outro é dissomia (uniparental)1. O termo é formado por dis-, o substantivo grego sôma (corpo) e ia. Se comparamos o termo com o termo trissomia (presença de três cromossomas de um tipo específico – 21 – no organismo), percebemos que basta trocar o tri- por dis- (correspondendo a dois), ao invés de demi-, como sugere (*demissomia).

1 Este conceito encontra-se definido por Fernando J. Regateiro, em Manual de Genética Médica (Imprensa da Universidade de Coimbra, 2007, p. 161): «A dissiomia uniparental é uma forma muito rara de hereditariedade. Pode ocorrer como heterodissomia e como isodisomia. Na heterodissomia uniparental, o complemento cromossómico diplóide é constituído p...

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