Consultório - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Carlos Augusto Kavan Estudante São Paulo, Brasil 489

Lendo alguns fóruns na Internet, deparei-me com o seguinte modelo de frase: «Jorge gosta de frutas porque faz bem.» Nota-se que há a conjunção porque, não sendo precedida de vírgula.

O fórum cita o porque explicativo e causal, citando suas diferenças, sendo uma delas a de que o porque causal não pode ser precedido de vírgula e estabelece uma causa entre as duas orações; neste caso, a causa de Jorge gostar de frutas deve-se ao fato de estas fazerem bem, o que explica a ausência de vírgula. No entanto, tal análise torna-se, de certa forma, muito subjetiva, gerando uma dúvida no leitor. Da mesma forma que o porque da frase pode ser entendido como causal, também pode ser entendido como explicativo; a explicação do motivo de Jorge gostar de frutas deve-se ao fato de elas fazerem bem.

Li por vários outros fóruns e sites atrás de métodos para diferenciá-los, mas não obtive sucesso.

Afinal, há algum método de diferenciá-los com exatidão ou podemos nos esbarrar nesse mesmo problema de ambiguidade na análise?

Grato.

Ana Maria Garcia dos Santos Funcionária pública Lisboa, Portugal 644

Para além da minha profissão na área tributária, sou escritora e poeta. A língua portuguesa é, para mim, essencial no meu dia a dia e costumo dizer que tive o privilégio de ter bons professores de português ao longo da minha vida estudantil. A minha tendência natural foi seguir Humanidades, desejando formar-me em História, contudo acabei em Direito. Recentemente, para além do prazer, por necessidade, comecei a fazer revisão de textos (técnicos, históricos, infantojuvenis, poéticos/poesia…).

Naturalmente, que no decorrer desta nova atividade, tenho-me deparado com todo o tipo de formação e conhecimento das pessoas que se cruzam comigo. Na sequência da revisão a um prefácio elaborado num livro de poesia por uma professora de português, e em virtude de não ser do meu conhecimento a utilização de, no final de uma frase, reticências seguidas de um ponto de exclamação, questiono se tal é correto aplicar-se.

Segue um exemplo: «[…] A determinada parte do texto, verifica-se uma dor plangente, e a necessidade de uma fuga que se crê premente, porquanto, só os braços da sua mãe, lhe dão o conforto que o mundo roubou sem porquê…! […]»

Grata, desde já, pela atenção que possam dispensar.

José Garcia Formador Câmara de Lobos, Portugal 733

As locuções «não só...mas também...», «tanto...como...», «seja... seja...» devem-se fazer acompanhar de alguma vírgula?

«O Rui não só era estudioso mas também muito persistente.»

«Conquistou várias vitórias tanto a nível económico como social.»

«O João tanto trabalhava em casa como praticava desporto.»

«É preciso ser persistente seja nos tempos bons seja nos tempos maus.»

Cordialmente.

Cátia Silva Professora Ovar, Portugal 451

Gostaria de saber qual a expressividade literária da frase «Novamente.» no livro Um de nós mente de Karen M. McManus.

A frase é apenas isso e está inserida no seguinte parágrafo:

«Inclino-me no banco e tiro o telemóvel do bolso, percorrendo as mensagens. Leely enviou meia dúzia de mensagens sobre as roupas da Noite das Bruxas e Olivia anda angustiada porque não sabe se deve voltar para Luis. Novamente. Ashon desliga por fim o telemóvel.»

Obrigada

Gabriel Luduvice Nunes Wolfovitch Estudante Brasil 926

Na frase:

«Ao longo desse período, os operários enfrentavam condições insalubres e insustentáveis, enquanto tinham que trabalhar de maneira quase ininterrupta.»

A vírgula utilizada antes de enquanto está correta?

Fernando Bueno Engenheiro Belo Horizonte, Brasil 833

Examine-se este excerto evangélico:

«Então o pai reconheceu ser precisamente aquela a hora em que Jesus lhe dissera 'o teu filho vive'; e creu, ele e todos os de sua casa.»

Qual a razão do uso da vírgula após a palavra creu?

Acrescento que, embora o sujeito não esteja em posição canônica, sendo ele imediatamente posposto ao verbo, não demandaria vírgula, a exemplo de «Partiu o motorista e os passageiros em meio a uma terrível tempestade», «Receberam o candidato e seu professor os aplausos mais calorosos».

Obrigado.

Henrique Silva Compositor Niterói, Brasil 1K

Em textos antigos, não é raro ver o ponto e vírgula sendo usado em orações coordenadas sindéticas explicativas. Exemplo disso é o seguinte trecho de um conto de Machado de Assis publicado originalmente em 1881, chamado "Teoria do medalhão":

«De oitiva, com o tempo, irás sabendo a que leis, casos e fenômenos responde toda essa terminologia; porque o método de interrogar os próprios mestres e oficiais da ciência, nos seus livros, estudos e memórias, além de tedioso e cansativo, traz o perigo de inocular ideias novas, e é radicalmente falso.»

Além disso, ainda hoje é muito comum ver o ponto e vírgula sendo uso antes de orações aditivas/copulativas. Quanto a isto, aqui mesmo no Ciberdúvidas há um ótimo exemplo, numa resposta dada em 1998 pelo falecido José Neves Henriques: «Na academia aprendi jogos; e lutas que incluem defesa pessoal.»

Em todas as gramáticas que consultei, no entanto, as únicas orações coordenadas sindéticas em que o uso do ponto e vírgula parece ser considerado aceitável são as conclusivas e as adversativas. Assim, gostaria de saber a opinião de vocês sobre esta questão.

Principalmente no caso das sindéticas explicativas, chegamos de fato ao ponto em que conectá-las com o ponto e vírgula pode ser considerado errado ou inadequado? Ou é simplesmente algo que caiu em desuso (como o próprio ponto e vírgula, aliás)?

Para terminar, agradeço a todos os colaboradores deste site, que me ajudaram não só a esclarecer diversas dúvidas, mas também a expandir meus horizontes no que se refere ao uso da nossa língua.

Paulo Klush Puim Servidor São Paulo, Brasil 960

Lemos comumente que o adjunto adverbial modifica verbo, adjetivo e advérbio e que, na ordem direta, se posiciona no fim da frase. Assim sendo, é separado por vírgulas quando posicionado de outro modo.

Mas essa diretiva não se fragiliza quando o adjunto adverbial modifique, não o verbo, mas o adjetivo? Nesses casos, parece-me que a ordem direta e, portanto, também o uso de vírgulas na ordem indireta dependem de uma análise quanto ao posicionamento do adjunto adverbial em relação ao adjetivo.

Pergunto se, no caso abaixo, a ordem direta não seria esta, sendo assim justificável não usar vírgulas:

«A expressão incomum no contexto requer leitura atenta.» (planeja-se que «no contexto» modifique o adjetivo incomum)

Se o raciocínio acima estiver de acordo com a norma, não só seria correto não utilizar vírgulas na construção acima como o uso delas poderia vincular de maneira indesejável o adjunto adverbial a outro termo:

«No contexto, a expressão incomum requer leitura atenta.» (não me parece aqui que o adjunto adverbial modifique incomum, entendo que modifique o verbo).

Muito obrigado desde já.

Fernando Bueno Engenheiro Belo Horizonte, Brasil 3K

Existe alguma gradação de ênfase no uso de parênteses ou travessões no interior de uma frase? Por exemplo:

«Cada cartaz aborda um tipo de flores – a seleção levou em conta a ocorrência e a beleza delas, como as rosas, as margaridas, os crisântemos, as orquídeas – ou outros aspectos como período da floração e formas de polinização.»

Se fossem usados parênteses, seria indiferente?

Agradeço desde já.

Lucas Ximenes Escritor Porto Velho, Brasil 12K

Gostaria de saber se eu posso ou não usar vírgulas antes da preposição "com".

Vou citar algumas frases de exemplo, que sempre me confundem.

«João me encarou, com os olhos abertos.»

«Leslie segurou a corda enquanto falava, com os olhos brilhando de entusiasmo.»

«Rose lançou um olhar furioso, com sua cabeça balançando.»

Na literatura inglesa, esses casos são mais difíceis de acontecer, pois eles costumam remover o com e deixar a frase intacta. Levantei uma dúvida sobre isso e me foi dito que o com deixaria as frases mais genuínas, pois, caso contrário, soaria a tradução.

Ou seja, o "com" é ou não necessário?