DÚVIDAS

O topónimo alentejano (serra de) Ossa

Atualmente, encontro-me a fazer um trabalho sobre a toponímia da freguesia de Évora Monte [no concelho de Estremoz]. Um dos desafios passa pela pesquisa do étimo de algumas palavras, como Ossa, que dá nome à serra onde Évora Monte se situa.

[...] Creio, de acordo com as pesquisas que já fiz, que é uma palavra latina, que provavelmente deriva da palavra osso. É o que tenho, mas estou na esperança que me possam adiantar mais alguma informação.

Obrigada pela atenção dispensada.

Resposta

Há quem atribua Ossa ao feminino de osso, forma arcaica de urso. Tal era a proposta do filólogo Leite de Vasconcelos (1858-1941), que, nas Lições de Filologia Portuguesa (1926, pp. 233-237), dedica algumas páginas à série toponímica formada por nomes atribuíveis ao referido arcaísmo: Sais (em Resende e atestado como Ossaes na Idade Média), Osseira (Caldelas da Rainha e, também sob a forma Usseira, em Óbidos), Oseira (Cea, Ourense, Galiza), Ossela (Oliveira de Azeméis) e Ossa, o nome em apreço, que Leite de Vasconcelos também identifica como um nome de lugar no concelho de Arouca1.

Contudo, há igualmente quem proponha – caso de A. Almeida Fernandes em Toponímia Portuguesa. Exame a um Dicionário (1999) – que o topónimo (orónimo, ou seja, nome de monte, serra ou montanha) alentejano bem como a maioria dos nomes antes enumerados poderão ter em comum uma mesma raiz pré-romana, com a forma os- e o vago significado de «elevação».

Trata-se, portanto, de um topónimo cuja origem é difícil de determinar, pela falta de atestações – embora as mais antigas pareçam do século XIII (ibidem) e, ao contrário de muita da toponímia portuguesa meridional, não apresentem clara interferência árabe.

1 Leite de Vasconcelos retoma esta série de forma muito sintética nos Opúsculos, volume III – Onomatologia (1931, pp. 195 e 464). Ver também o Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa de José Pedro Machado.

2 À mesma série pertence ainda Assilhó (Albergaria-a-Velha), provavelmente de Osselola ou Osseliola, conforme sustentava Joaquim da Silveira (1879-1972) na Revista Lusitana (vol XVII, 1914, p. 132).

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