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Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Os edifícios históricos que têm inscrições gravadas nas suas pedras são, não raro, testemunhos vivos da evolução da língua e da sua grafia. As marcas de diferentes fases linguísticas encontram-se, por exemplo, em lápides e jazigos nos quais se identificam as famílias que ali descansam. Neste âmbito, no Consultório, procura-se encontrar uma explicação para o facto de, em muitas lápides, sobretudo do século XIX, a palavra família surgir sem acento, situação que não resultará da ação do tempo sobre estes monumentos. Também de agora e de outros tempos é a possibilidade que o advérbio não tem de incidir sobre constituintes de diversa natureza, alterando-lhes o sentido. É este comportamento que motiva uma nova questão, desta feita sobre a função sintática desempenhada por esta palavra. Na nova atualização do Consultório, podemos também encontrar uma breve análise da catáfora enquanto processo linguístico de construção da referência que, por vezes, gera dúvidas, como acontece na análise de uma frase que foi objeto de avaliação num exame nacional. E ainda questões relacionadas com a correção do topónimo «Castelo de Bode» e com a pronúncia das palavras indemnizar subtil, em Portugal.

Primeira imagem: Cemitério de Agramonte, Porto (Portugal) 

2. Nesta segunda-feira, dia 25 de novembro, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) ratificou, em assembleia-geral, reunida em Paris, o dia 5 de maio como Dia Mundial da Língua Portuguesa, um evento importante na afirmação do português no mundo, uma língua que, prevê-se, terá, no final do século, cerca de 500 milhões de falantes (notícia RTP + UNESCO elege 5 de maio como Dia Mundial da Língua Portuguesa; CPLP celebra).

Vide, ainda, entrevista com embaixador Sampaio da Nova, aqui

 

3. No quadro do investimento no português, como prioridade de política externa, o crescimento do plano de promoção internacional da língua portuguesa motiva um artigo de síntese da autoria de Augusto Santos Silva, ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros de Portugal (divulgado no Diário de Notícias), no qual analisa a evolução deste investimento no ensino e difusão da língua, dando particular atenção ao crescimento das cátedras, enquanto estruturas sediadas em universidades que promovem a pesquisa no âmbito da língua, da cultura, da história e da sociedade. Estas cátedras, que são associadas a figuras importantes da cultura e das ciências portuguesas, funcionam como um instrumentos precioso na difusão internacional da língua.

4. Também a propósito do ensino do português no mundo, recorda-se (num artigo divulgado no Correio da Manhã) a fundação, em Macau, da escola portuguesa, em 1998, um ano antes da transição para a administração da China. Esta escola tem funcionado como um organismo que tem preservado a cultura e a língua portuguesas na região, como o comprovam os testemunhos e os dados reunidos no artigo de Paulo Oliveira Lima. Por fim, a notícia de que, na Venezuela, a Universidade Católica Andrés Bello (UCAB) prevê disponibilizar, a partir de 2020, um curso de Língua Portuguesa para os 10 mil alunos que estudam naquela instituição. (notícia aqui). 

5. A conquista da Copa Libertadores da América e do Campeonato Brasileiro de Futebol pelo clube brasileiro Flamengo, orientado pelo treinador português Jorge Jesus, está na ordem do dia. A presença de Jorge Jesus no Brasil tem desencadeado vários fenómenos, alguns dos quais de natureza linguística. As conferências de imprensa e as declarações do técnico rapidamente vieram demonstrar uma evidência: embora a língua seja a mesma, os termos técnicos são muito diferentes entre Portugal e Brasil. Daí criação de um glossário de "futebolês", para ajudar os adeptos brasileiros a entenderem o treinador português. Entre os termos que necessitam de tradução, encontram-se guarda-redes (goleiro, em português do Brasil), avançados (atacantes), golo (gol), plantel (elenco), relvado (gramado), taça (copa) ou equipa (equipe).* .

   * Sobre  as diferenças entre as duas variantes do português neste domínio vocabular: «O futebol falado diferentemente no Brasil e em Portugal» +  «Futebolês» (na rubrica  Glossário),+ «Já se sabe o que é um "zagueiro"?» + «Viva o «futebolês»!» + «Incidências do futebolês»

5. O fenómeno das vitórias do Flamengo ("Flamengão"  como lhe chamam os adeptos mai fervorosos) tem sido tão intenso que tem desencadeado inclusive a criatividade nos títulos da imprensa brasileira. É o caso do título «Pula que nem Pipoca», do jornal brasileiro Meia Hora. Ou nos "memes" (ideias repetidas pelos utilizadores de internet) que têm vindo a ser divulgados nas redes sociais a propósito das duas vitórias do clube orientado por Jorge Jesus (ver aqui). Ou, ainda, na música, como este samba "Obrigado, Jesus"....

 

6.  Assinala-se hoje, 25 de novembro, o Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres, uma data simbólica que tem como objetivo alertar para os casos de violência contra as mulheres que, infelizmente, todos os dias, continuam a ser notícia e vitimaram já 25 mulheres em Portugal, desde o início do ano. Estes casos têm trazido para a atualidade termos como feminicídio* e recordam-nos algumas respostas do consultório: «Ginocídio e feminicídio» e «"Violência de género" e "igualdade de género"». Como bem refere a campanha contra a violência doméstica, há ditados e provérbios que têm mesmo de deixar de ser populares (por exemplo, «Entre marido e mulher não metas a colher», «Por trás de um grande homem está uma grande mulher» ou «Quanto mais me bates, mais gosto de ti!» – e, pelo contrário, denunciarmos logo às autoridades casos destes que tenhamos conhecimento. 

* O termo feminicídio tem a variante femicídio. A primeira forma é mais consistente do ponto de vista morfológico, de acordo com a explicação dada em nota às nas respostas "Feminicídio ≠ uxoricídio" e a já citada  "Ginocídio e feminicídio"

 

Cf. Pacotes de açúcar vão ter mensagens para combater violência doméstica + Campanha contra a violência no namoro – Quem te ama, não te agride! + “Entre marido que agride e a mulher é preciso meter a colher” 

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1. «Se nos disserem "O cozinheiro é brutal", devemos ir cumprimentá-lo ou fugir a sete pés?» – pergunta Carla Marques, consultora permanente do Ciberdúvidas, que, em O nosso idioma, dedica um apontamento à elasticidade semântica que o adjetivo brutal tem demonstrado em variados registos, pelo menos, desde a arte literária oitocentista de Eça Queirós à informalidade da apreciação de um filme nos nossos dias. Na mesma rubrica, um texto de Carlos Rocha aborda o valor documental de uma forma errada do verbo moer e explora a etimologia de xerém, termo da gastronomia tradicional de Portugal, de Cabo Verde e do Brasil.

2. Se nunca mais houvesse erros no uso existencial do verbo haver, escusado seria o reparo feito neste dia, no Pelourinho. Mas a memória humana é curta, como comprova uma breve peça jornalística que, a propósito de rivalidades entre estrelas do futebol, aventa a hipótese de que «houvessem dúvidas». Sara Mourato explica por que razão o verbo tem de estar no singular.

3. No Consultório, as novas respostas em linha abordam os seguintes tópicos: o valor possessivo do pronome átono lhe em frases como «morder-lhe as canelas»; o uso adjetival de muitos particípios passados irregulares (aceite ou aceito, feito, ganho, pago, etc.); a gramaticalidade da expressão «o demais»; e a eventual concordância do infinitivo a completar a construção «alguma coisa ser difícil de...».

4. Ainda no Consultório, uma pergunta da Guiné-Bissau permite revelar que a expressão «faltar ao respeito» conhece uma variante mais frequente no Brasil, «faltar com o respeito». Noutros países de língua portuguesa, a locução conhece, não obstante, outras formas, talvez episódicas, como acontece na Guiné-Bissau, onde, em perda para o crioulo local e as línguas tradicionais, o português continua precário, apesar do seu estatuto oficial. Tenha o futuro linguístico que tiver,  as carências tantas vezes prementes da Guiné-Bissau pedem estabilidade em vários níveis para serem enfrentadas, razão por que se revestem de grande importância as eleições presidenciais de 24/11/2019. No arquivo do Ciberdúvidas são vários os artigos e respostas que abordam os aspetos linguísticos deste país, a saber: "A língua e os nomes na Guiné-Bissau"; "A grafia de Guidage/Guidaje (Guiné-Bissau)"; "Os gentílicos da Guiné, da Guiné-Bissau e da Guiné Equatorial"; "Fiz cinco anos no Brasil» (português da Guiné-Bissau)"; "Os nomes pátrios da Guiné Equatorial e da Guiné-Bissau"; "Os gentílicos de Lamego, Douro, Chaves, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe"; "O mapa etnolinguístico da Guiné-Bissau e a língua, bem maior da literatura";"O positivo e o negativo de quem ensinou português na Guiné-Bissau, na Namíbia e em Timor-Leste"; "A origem dos topónimos em Angola, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe no programa Língua de Todos"; "O Ensino 'privado' na Guiné-Bissau"; "As prioridades do IILP no mandato do seu novo diretor executivo".

5. Destaques da presente semana dos programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa: no programa Língua de Todos, transmitido pela RDP África na sexta-feira, dia 22 de novembro, pelas 13h20**, o 10.º aniversário da criação da cátedra de Português Língua Segunda e Estrangeira, da Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane; no Páginas de Português, emitido pela Antena 2, no domingo, 24 de novembro, pelas 12h30**, o livro Camões Conseguiu Escrever Muito para Quem Só Tinha um Olho, de Lúcia Vaz Pedro. Destaque, ainda, em ambos programas, para uma evocação do compositor, cantor e produtor musical português José Mário Branco (1942-2019).

 ** Ambos os programas são repetidos: o Língua de Todos, no sábado, dia 23 de novembro, depois do noticiário das 09h00, e o Páginas de Português no sábado seguinte, dia 30 de novembro, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental,  ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.

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1. Os falantes nativos de português usam o conjuntivo sem grandes questionamentos, mas os estrangeiros que o aprendem já adultos nem sempre se sentem à vontade com as subtilezas do seu uso frásico. Por exemplo, quando se emprega o verbo esperar  para construir uma frase começada por «espero que...», que forma de conjuntivo deve figurar na oração que vem depois, em referência a algo já ocorrido: «espero que corresse bem», ou «espero que tenha corrido bem?» A resposta à questão faz parte da presente atualização do Consultório, onde também se dá conta de como confinamento, não sendo uma palavra assim tão rara, só recentemente encontrou registo  dicionarístico em Portugal. Comenta-se ainda a possibilidade de empregar alimentação no plural, isto é, como palavra contável, permitindo que a forma «alimentações» ocorra em certas frases; e revela-se que, afinal o predicativo do sujeito não aparece apenas associado ao verbo ser. Finalmente, uma velha e conhecida confusão, dicionarizada há praticamente duas décadas: a de empregar solarengo no sentido de «cheio de sol», ou seja, em lugar de soalheiro, vocábulo com tradição e pitoresco.

2. Morreu José Mário Branco (1942-2019), um dos maiores cantores de intervenção de Portugal, que, a par de José Afonso (1929-1987), Sérgio Godinho, Fausto e outros, marcou a transição política e cultural que, no país, culminou na rutura renovadora de 25 de abril de 1974. Explorando intensamente a dimensão política da música e do canto, mesmo em anos mais recentes, José Mário Branco definiu um percurso de coerência na defesa de ideias de justiça social e de igualdade. Foi sobretudo pela exigência e apuro da sua excecional obra musical que se distinguiu este autor, cujas letras – poemas próprios ou alheios* – revelam o peso que dava à palavra e um conhecimento profundo das virtualidades da língua portuguesa e dos seus usos literários ou não literários, eruditos ou mais populares. Desta aguda curiosidade pelos segredos do idioma materno e do fenómeno da linguagem em geral, é sintomático o facto de, já em idade bem madura – 64 anos –, José Mário Branco ter começado a estudar linguística na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, sendo reconhecido como o melhor aluno do curso em 2006  (ver página dos respetivos Alumni). O seu génio polifacetado, abrangendo áreas  tão diversas  como o cinema e o teatro, deixa uma herança imensa – da obra como compositor, músico e intérprete à atividade como produtor, arranjador e mentor de novos talentos da música de raiz portuguesa, incluindo o fado e o cante alentejano. Ficam estes breves exemplos dos títulos das muitas canções deste legado que, além de já fazer parte da memória contemporânea de Portugal, manterá por muito tempo a capacidade crítica de alertar e inquietar consciências: "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades"; Qual é a tua ó meu?"; "Alerta"; "Cantiga do fogo e da terra "; "Ronda do soldadinho"; "Menina dos meus olhos"; "Fado da tristeza"; "Fado Penélope"; "Barca dos amantes"; "Quando eu for grande; "FMI"; "Queixa das almas censuradas",  "Mudar de vida", Dez canções que contam a história de uma voz que ficará para sempre "muito mais viva que morta". E, ainda, José Mário Branco mudou a música portuguesa e os portugueses + “José Mário Branco é marca de um grande apuro e exigência”.

* Alguns dos poetas musicados na discografia de José Mário Branco: D. Dinis (Cantigas de Amigo), Martim Codax, Nuno Fernandes Torneol, Airas Nunes, Pedro Eanes SolazLuís de Camões, Natália Correia, Alexandre O’Neill, Sophia de Mello Breyner, Antero de QuentalRuy Belo, Bertolt  Brecht, Manuela de Freitas, entre outros.

Fonte da imagem: "Morreu José Mário Branco", Blitz, 19/11/2019.

3. Em Lisboa, a Fundação Calouste Gulbenkian acolhe em 21 e 22 de novembro p.f. a primeira edição da Conferência Internacional das Línguas Portuguesa e Espanhola (CILPE 2019), uma iniciativa da Organização de Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI) que tem como objetivo geral abordar a situação das línguas portuguesa e espanhola com vista à sua maior promoção. O encontro procura assim contribuir para reforçar o bilinguismo e a internacionalização do português e do espanhol, em benefício das suas comunidades de falantes deste dois idiomas, as quais, no seu conjunto, envolvem 800 milhões de pessoas. Entre os oradores, contam-se figuras que têm intervindo em matéria de politica de língua, no âmbito da atividade do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), entre elas, o atual diretor-executivo desta entidade, Incanha Intumbo, e os seus mais recentes antecessores Marisa Guião de Mendonça (2014-2018) e Gilvan Müller de Oliveira (2010-2014), bem como a presidente do conselho científico do IILP, a linguista portuguesa Margarita Correia.

4. Falar da relação da língua portuguesa com diferentes regiões de Espanha arrasta inevitavelmente o tema dos laços linguísticos e históricos galego-portugueses. Registo, portanto, para duas notícias que dizem respeito à Galiza: o alerta feito pela Associação de Docentes de Português na Galiza (DPG), em 19/11/2019, para o preenchimento de vagas no ensino secundário com professores sem especialização na língua portuguesa, situação que pode pôr em causa a qualidade do ensino ministrado aos alunos galegos do referido nível de estudos; e a série de palestras que o tradutor e professor universitário Marco Neves vai proferir na Galiza, de 25 a 28/11/2019, sobre um livro de sua autoria que, do lado português, participa do relançamento do debate à volta da convergência (identidade?) e das divergências entre o português e o galego – trata-se de O Português e o Galego são a Mesma Língua?, publicado em 2019 pela editora galega Através (ler apresentação na Montra de Livros).

 5. Temas principais dos programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa:

– A comemoração dos 10 anos de criação da cátedra de Português Língua Segunda e Estrangeira, da Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane vai ser assinalada com a exposição “Português de Moçambique no Caleidoscópio”, com a qual se pretende sensibilizar os visitantes para a imensa riqueza linguística de Moçambique. O programa Língua de Todos, transmitido pela RDP África na sexta-feira, dia 22 de novembro, pelas 13h20**, entrevista a professora Inês Machungo, curadora da exposição, sobre este aniversário e as atividades associadas.

– Começando por evocar a memória de José Mário Branco (ver mais acima), o programa Páginas de Português, emitido pela Antena 2, no domingo, 24 de novembro, pelas 12h30**, convida depois a professora Lúcia Vaz Pedro a falar de Camões Conseguiu Escrever Muito para Quem Só Tinha um Olho, um livro que reúne casos de erros reais em sala de aula, alguns hilariantes – como este: à pergunta «qual a função do apóstrofo?», o aluno responde que «os apóstrofos são os discípulos de Jesus e andavam sempre com ele».

 ** Ambos os programas são repetidos: o Língua de Todos, no sábado, dia 23 de novembro, depois do noticiário das 09h00, e o Páginas de Português no sábado seguinte, dia 30 de novembro, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental,  ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.

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1. As variantes do português em diversos países são marcadas por uma evolução própria e autónoma, fruto de várias razões a que não são alheias as variáveis individuais. O português falado na Guiné-Bissau assume também esta autonomia, mas as inovações e contrastes com a variante do português europeu acabam por oferecer dúvidas aos falantes. É o caso da expressão «fiz cinco anos no Brasil». No Consultório analisa-se a aceitabilidade desta construção, que inclui o verbo fazer com um valor semelhante a estar ou permanecer.  A formação da palavra infelizmente continua a colocar problemas a quem a considera do ponto de vista morfológico. Tratar-se-á de uma formação parassintética, uma vez que existem as formas independentes infeliz felizmente? O verbo ser assume inúmeras possibilidades de realização sintática e semântica, mas será sempre copulativo? Este problema coloca-se na frase «À noite serei em tua casa», o que gera a dúvida sobre se o sintagma preposicional «em tua casa» tem a função de predicativo do sujeito? A frase «Foi-lhe clemente» será correta, apesar de o adjetivo clemente se construir com complemento preposicional? Ou só será aceitável a forma «Foi clemente com ele»? E a expressão «a meu lado» será adequada sem artigo definido? Por fim, qual a pronúncia correta de Hefesto, deus grego do fogo, filho de Zeus e Hera?

Primeira imagem: Mapa do Português no mundo do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo (atualmente em reconstrução). 

2. A questão do Acordo Ortográfico de 90 regressa por mão do consultor D'Silvas Filho, que apresenta dois apontamentos: um sobre a primeira reunião do Conselho de Ortografia da Língua Portuguesa (COLP) outro sobre aspetos essenciais relacionados com a ação do Grupo de trabalho da Assembleia da República para a avaliação do Acordo Ortográfico de 90.  

3. Há frases feitas que se agarram a situações e a contextos, o que as torna banais e esvaziadas. Onde está a beleza da comunicação ou a criatividade em «Está tudo bem?» ou em «Fica bem»? E, no comércio, como não esperar as previsíveis frases «Então, diga.», «Hoje, o que vai ser?» ou «Em que posso ajudá-lo.»? Frases feitas, não pensadas, que são usadas como expressões formulaicas, cujo sentido se perdeu por já não ser intencional, que só podem irritar quem as ouve e pensa no que poderão querer dizer. Eis o tema da crónica de Miguel Esteves Cardoso no jornal Público (de 16 de novembro), que, com a devida vénia,  transcrevemos na rubrica O Nosso Idioma

4. As expressões cristalizadas podem também adquirir um sentido opaco e não acessível a todos os falantes. Este fenómeno pode ter lugar se a construção da expressão assentar numa estrutura metafórica ou até numa comparação elíptica. Este último fenómeno está presente na expressão «como sardinha em lata», cujo sentido nos é explicado pela lexicógrafa Ana Salgado, num apontamento divulgado na plataforma Gerador

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1. Em Portugal, é sabido que as vogais  e, i e u (ou o), quando átonas, são um desafio para a boa dicção. Palavras como ministérioprodutividade saem diminuídas sob formas como "mnistério" e "prutividade", em consequência da redução vocálica que caracteriza a variedade lusitana. No Pelourinho, um novo apontamento dá conta de mais uma ocorrência deste fenómeno, numa intervenção do primeiro-ministro português no debate quinzenal que decorreu no parlamento português no dia 12 p.p.: o termo competitividade, dando ímpeto ao discurso, acaba silabicamente atropelado pela prolação "comptividade". Na mesma rubrica, outro caso, também em Portugal: os erros, que se tornaram constantes, num  concurso televisivo... visando a cultura geral dos telespectadores.

2. A presente atualização traz seis novas questões ao consultório: como soa o o da penúltima sílaba de carbono? Será a locução «com relação a» tão correta como «em relação a»? Uma pessoa que tem as nacionalidades italiana e alemã é "italiana-alemã" ou italiano-alemã? Qual a função sintática do constituinte «da burla» na expressão «história universal da burla»? Que tipo de antecedente tem a locução pronominal relativa «o que»? Porque se diz «tem-la, como em «tu tem-la visto», e não «tem-na»?

3. Registe-se, entre as notícias que correm, a iniciativa do Governo português para um plano de não retenção no ensino básico (do 1.º ao 9.º anos), medida que gerou discussão parlamentar no debate quinzenal acima referido. Vem, portanto, a propósito mencionar os dados que a Eurostat, a organização estatística da Comissão Europeia, faculta quanto às diferenças e dificuldades existentes entre os jovens com menos de 15 anos da União Europeia na vertente da compreensão da escrita no período 2000/2015. A respeito desta competência, sublinha o blogue Grazia Tanta (publicação de 11/11/2019): «As melhorias mais significativas observam-se na Letónia, no Luxemburgo e em Portugal [...]. A evolução da situação em Portugal é bem positiva, situando-se o país em 2015 com um indicador melhor do que a média europeia, o que não acontecia quinze anos antes; e agora com uma grande aproximação ao valor apresentado por Espanha.» A mesma evolução positiva de Portugal se repete na Matemática e nas Ciências. Espera-se, portanto, que as medidas governamentais contribuam para manter, se não para melhorar, os indicadores portugueses.

4. Faça-se ainda referência a uma novidade no reforço da presença do português no domínio das tecnologias: a variedade de Portugal passou a estar igualmente disponível no assistente digital da Google, ferramenta que permite uma conversa natural com o smartphone para controlar uma série de funcionalidades (por exemplo, regular luzes da casa ou definir o despertador). Como assinala o jornal digital Observador, «a partir desta quinta-feira [14/11/2019], não há "pá", "'bora" ou "'tá" que fique despercebido»

5. Em ambos os programas que a Associação Ciberdúvidas produz para a rádio pública portuguesa, volta-se a focar a decisão da UNESCO de instituir o Dia Mundial da Língua Portuguesa, comemorado a 5 de maio (ver também nas Notícias), com entrevistas a António Sampaio da Nóvoa , embaixador português na UNESCO, e Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal. Recorde-se que o programa Língua de Todos é transmitido pela RDP África na sexta-feira, dia 15 de novembro, pelas 13h20*. O Páginas de Português vai para o ar na Antena 2, no domingo, 17 de novembro, pelas 12h30*.

 * Ambos os programas são repetidos: o Língua de Todos, no sábado, dia 16 de novembro, depois do noticiário das 09h00, e o Páginas de Português no sábado seguinte, dia 23 de novembro, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental,  ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.

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1. Mas, afinal, há vírgulas obrigatórias ou não? Que regras, que critérios, enfim, que dicas podem existir para o seu uso correto? Em O nosso idioma, regressa este tema incontornável, com um texto de Carla Marques, consultora permanente do Ciberdúvidas, que apresenta um conjunto de situações de escrita onde as vírgulas afirmam a sua necessidade.

2. Diversificam-se as obras destinadas a apoiar as aulas e os cursos de Português como Língua Não Materna (PLNM). Na Montra de livros, apresentam-se dois volumes elaborados conforme o Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas (QECR): trata-se de Gramática de Português Língua Não Materna Níveis A1 e A2 Gramática de Português Língua Não Materna Níveis B1, B2 e C1, que têm por autoras três docentes especializadas em PLNM – Teresa S. FerreiraInês Cardoso e Sílvia Melo-Pfeifer. Refira-se ainda que a obra, publicada pela Porto Editora, tem revisão científica do linguista Paulo Feytor Pinto.

3. Em Portugal, foi notícia o caso chocante do bebé abandonado num contentor de lixo, o qual, felizmente, foi encontrado e encaminhado para um processo que envolve um decreto de adotabilidade, termo semanticamente diferente da parónima adaptabilidade, conforme esclarece uma das novas perguntas em linha no Consultório. Outras dúvidas abordadas nesta atualização:  diz-se «alimentar-se com verduras» ou «de verduras»? E é o que significa curcuma – ou cúrcuma? Como se pronuncia o nome da letra y em Portugal? Quando se fala de dois anos seguidos, por exemplo, de 2019 e 2020, usa-se barra ou hífen? E, numa expressão como «ensino quer público quer privado», a conjunção correlativa «quer... quer» é disjuntiva ou copulativa? Finalmente, como explicar a diferença entre «o frango está a ser cozinhado» e «o frango está a cozinhar»?

Na imagem à esquerda, uma silhueta (1935) de Eveline von Maydell (1890-1962), no Museu Nacional do Traje e da Moda, em Lisboa.

4. Entre as notícias relacionadas com a promoção da língua portuguesa e das culturas que por ela se manifestam, salientem-se:

– O discurso proferido pelo presidente da República português, Marcelo Rebelo de Sousa em 14/11/2019 na Academia francesa*, sobre a riqueza da língua.

* Marcelo ajudou a definir a palavra ville para o dicionário da Academia francesa  + Marcelo Rebelo de Soususa causou debate "intenso" na Academia francesa

– A Conferência Internacional das Línguas Portuguesa e Espanhola, que promove e realiza a Organização de Estados Ibero-americanos para a Educação a Ciência e a Cultura (OEI)  nos dias 21 e 22 de novembro de 2019, na Fundação Gulbenkian, em Lisboa. No contexto deste encontro, haverá uma reunião que conta com a presença do atual diretor executivo do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP)**, o guineense Incanha Intumbo, e de todos os seus  antecessores: a moçambicana  Marisa Mendonça, o brasileiro Gilvan Müller de Oliveira e os cabo-verdianos Manuel Brito-SemedoOndina Rodrigues FerreiraMário Almeida Fonseca (excetua-se a angolana Amélia Mingas, recentemente falecida).

** Sobre os 30 anos do IILP, criado  no dia 1 de novembro de 1989, e, São Luís do Maranhão, no Brasil – por ocasião do encontro dos chefes de Estado dos países de língua oficial portuguesa (na altura, Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe, que antecedeu  a criação da CPLP em 1996 −, veja-se a mensagem do embaixador português Francisco Ribeiro Telles, atual secretário executivo da Comunidade dos Povos de Línga Portugues, aqui.

–  Registo ainda de uma iniciativa bilingue, resultante da parceria da Revista Pessoa com a revista norte-americana Words Without Borders e com a Columbia University School of Arts: de 13 a 16 de novembro, em Lisboa, decorre a segunda edição de  The Pessoa Festival.  Este encontro, realizado pela primeira vez em Nova Iorque em 2018,  tem lugar no Lisboa Pessoa Hotel, morada onde funcionava a tipografia na qual, em 1915, se fazia a impressão da revista Orpheu. O evento tem mesas temáticas com a participação de escritores, editores e críticos literários.

5. A decisão da UNESCO de instituir o Dia Mundial da Língua Portuguesa, comemorado a 5 de maio, constitui o tema de destaque em ambos os programas que a Associação Ciberdúvidas produz para a rádio pública portuguesa (ver também nas Notícias). No programa Língua de Todos, transmitido pela RDP África na sexta-feira, dia 15 de novembro, pelas 13h20**, entrevista António Nóvoa, embaixador de Portugal na UNESCO, sobre o impacto destas comemorações, enquanto no programa Páginas de Português, emitido pela Antena 2, no domingo, 17 de novembro, pelas 12h30***, convida-se Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros, para, no contexto do mesmo tema, falar das medidas do governo de Portugal para a internacionalização da língua.

 *** Ambos os programas são repetidos: o Língua de Todos, no sábado, dia 16 de novembro, depois do noticiário das 09h00, e o Páginas de Português no sábado seguinte, dia 23 de novembro, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental,  ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.

6. O último programa da 10.ª série do magazine Cuidado com a Língua! é dedicado ao tema da veterinária, dando realce à origem de palavras como trela ou veterinário, a algumas expressões que incluem nomes de animais e à flexão do tão maltratado verbo intervir (no  primeiro canal da RTP, na quarta-feira, dia 13 de novembro de 2019, depois da 21h00****).

*** *Hora oficial de Portugal continental – ficando  este e os demais  programas disponiveis  via RTP Play.   

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1. Os sentidos das palavras atêm-se aos usos e são os usos que lhes asseguram a vitalidade ou lhes ditam o esquecimento. Esta ação, associada aos efeitos da própria temporalidade ao incidir sobre a língua, leva a que certos sentidos que já tiveram momentos de uso pleno se tornem opacos e distantes dos falantes.  É o que parece motivar a questão relacionada com a possibilidade de outros sentidos do verbo temperarque não o de "condimentar a comida". Para além desta, outras respostas estão disponíveis no Consultório. Entre elas, pergunta-se se o verbo pronominal questionar-se pode ser complementado por um constituinte introduzido por como. E no caso do verbo adaptar-se, qual a função sintática do pronome -se? Neste espaço, esclarece-se ainda a pronúncia de avessas na expressão «às avessas» e explica-se um caso de crase numa cantiga galego-portuguesa. 

2. Uma ida ao veterinário cria o contexto para o último programa da 10.ª série do magazine Cuidado com a Língua!, num episódio que destaca a origem de palavras como trela ou veterinário e onde se recordam algumas expressões que incluem nomes de animais. Será ainda entre animais que se encontrará um pretexto para passar em revista a flexão do tão maltratado verbo intervir (no  primeiro canal da RTP, na quarta-feira, dia 13 de novembro de 2019, depois da 21h00*).

* Hora oficial de Portugal continental – ficando  este e os demais  programas disponiveis  via RTP Play

3. Na rubrica Correio, regista-se uma mensagem de descontentamento de um consulente relativamente ao artigo "10 expressões racistas que deveríamos tirar do nosso vocabulário" (transcrito do portal brasileiro Universa) e a resposta do Ciberdúvidas. 

4. A classe do adjetivo tem, desde sempre, mantido uma relação atribulada com os escritores. Se houve quem honrasse o adjetivo como um deus capaz de expressar todos os matizes da realidade, do pensamento e do sentimento, outros houve que o declararam proscrito e buscaram a pureza da linguagem liberta dos excesso barrocos atribuídos a esta classe de palavras. O escritor e jornalista brasileiro Nelson Rodrigues, por seu turno, considerou, desde o início da sua escrita, inclusive a jornalística, que a abolição do adjetivo pela imprensa «castrou emocionalmente» os acontecimentos e, nos seus textos, explorou à exaustão as potencialidades das palavras pertencente a esta classe, em frases marcadas pela imaginação, pelo inesperado e excêntrico e, por vezes, pelo mau gosto. Também amante das potencialidades do adjetivo foi Jorge Luís Borges, poeta, escritor e crítico literário argentino. É esta semelhança na atitude perante o adjetivo que leva o diplomata brasileiro André Chermont de Lima a aproximar os dois escritores que, não tendo aparentemente qual relação, partilham esta perspetiva da escrita (artigo originalmente publicado na revista brasileira Estadão, que aqui reproduzimos, com a devida vénia). 

5. Julia Kristeva, linguista, filosofa, psicanalista e crítica literária franco-búlgara, uma das figuras centrais do estruturalismo, sendo autora da obra seminal Semiótica (1969), onde trabalha a teoria da significação ligada ao funcionamento textual, numa perspetiva histórica, recebeu no passado dia 10 de novembro o Doutoramento Honoris Causa, pela Universidade Católica Portuguesa. A propósito da sua vinda a Portugal, Julia Kristeva concedeu uma entrevista à Revista do Expresso, na qual, entre muitos temas, refletiu sobre a linguagem como forma de moldar o pensamento, tendo afirmado a este propósito: «Não existe outra maneira de pensar. Pensamos pela linguagem e mesmo quando não falamos por meio da linguagem e nos exprimimos por meio de emoções ou por gestos, imagens ou sons, essa é uma translinguagem. O ser humano tem esta grelha que o constitui e a partir da qual encontra as linguagens plurais que são translinguísticas e que permitem à linguagem sair da sua estrutura. Mas enquanto pensamos e estamos na linguagem, também a transformamos. O pensamento está dentro e fora da linguagem. E ele inova, é como um renascimento.» (entrevista completa aqui).

6. A formação do plural dos nomes é, por vezes, uma autêntico quebra-cabeças, situação que dá o mote a um apontamento da lexicografa Ana Salgado, que apresenta uma breve sistematização das regras de flexão das diferentes possibilidades de composição de nomes (divulgado no sítio eletrónico Gerador). 

7. Damos destaque a alguns eventos relacionados com a língua: 

— A criação da Cátedra José Saramago pela Universidade de Sveti Kliment Ohrisdki, em Sófia, na Bulgária; e

— A criação de bolsas de mérito, atribuídas por Macau a alunos lusófonos e do sudoeste asiático.  

8. Celebra-se nesta data, 11 de novembro, o Dia de São Martinho, sendo tradição fazer-se um magusto, no qual se assam castanhas nas brasas da fogueira e se bebe água-pé ou jeropiga. No Ciberdúvidas, podemos reler vários artigos relacionados com o tema: «Castanha», «Água-pé», «A propósito de jeropiga», «Jeropiga, de novo», «Magusto». São também variados os provérbios relacionados com esta época: «no dia de São Martinho, vai à adega e prova o vinho», «dia de São Martinho, fura o teu pipinho», «dia de São Martinho, lume, castanhas e vinho», «pelo São Martinho, todo o mosto é bom vinho», «por São Martinho, semeia fava e linho», «se o inverno não erra caminho, tê-lo-ei pelo São Martinho».

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. A concordância é um fenómeno sintático que se manifesta ao nível da frase, afetando diversos dos seus constituintes (nomes, adjetivos, verbos, determinantes, pronomes) e envolvendo marcas como o número, o género ou o tempo. A complexidade deste processo gramatical gera, com alguma frequência, dúvidas que nascem do confronto entre as regras gramaticais e a diversidade e riqueza dos usos de uma língua. Duas das questões colocadas no Consultório são um bom exemplo desta realidade: estará correta a frase «Maria é um dos vencedores»? e como fazer a concordância de um verbo com um sujeito composto? A questão do uso da vírgula com orações subordinadas adverbiais ou com orações coordenadas explicativas é outro dos assuntos abordados na nova atualização que inclui também uma resposta que aborda os vários aspetos relacionados com a grafia do verbo redarguir e uma outra sobre a possibilidade de grafar os nomes comuns com maiúscula. Ainda a existência do verbo duelar e a possibilidade de uso de porquê como substantivo.  

2. A Espanha vai a eleições no próximo domingo, dia 10 de novembro, numa nova tentativa de encontrar soluções para os muitos problemas que o país vive: a criação de uma maioria parlamentar, a resolução do problema da Catalunha, entre outras questões que ensombram o país vizinho. A situação política vivida em Espanha convoca uma vez mais algumas questões de natureza lexical, como é o caso da justificação do uso do plural eleições ou o uso incorreto de desde com valor espacial (como em «uma transmissão desde Madrid»). Para além disso, as questões vividas em Espanha recordam-nos sempre que a proximidade que temos com este país é também linguística, como fica bem patente neste conjunto de provérbios que bem poderão ser usados a propósito da situação política atual: «Boca de verdades, cien enemistades» («Diz a verdade e arranjarás inimigos»), «Caras vemos, corazones no sabemos» («Quem vê caras não vê corações»), «Del dicho al hecho hay mucho trecho» («Dizer é fácil, fazer é mais difícil»), «Gato escaldado del agua fría huye» (Gato escaldado de água fria tem medo»).

3. A complexidade que caracteriza Espanha passa também pela pluralidade de línguas que são faladas neste país, fruto da sua evolução histórica. Abordando a questão do ponto de vista dos nomes que são dados a estas línguas, o professor universitário Marco Neves recorda, no blogue NCultura, «10 nomes de língua de Espanha, incluindo o português», num artigo onde defende, não sem controvérsia, que o galego e o português são dois nomes da mesma língua. 

4. Na atualidade relacionada com a língua destacamos alguns acontecimentos:

— A notícia de que as obras para a construção do Museu da Língua Portuguesa em Bragança terão início no final do mês de novembro. Este museu pretende ser um espaço idêntico ao que existe no Brasil, em São Paulo, desde 2006, e que se encontra, atualmente, em reconstrução devido a um incêndio, em 2015, que destruiu totalmente as instalações do museu, localizado no edifício histórico da Estação da Luz;

— A realização do II Fórum Internacional da Língua Portuguesa – 500 Anos da Circum-Navegação do Mundo: Novas Contribuições em Investigação e Ensinoentre 13 e 15 de novembro, em Madrid, encontro organizado pela Universidade Complutense de Madrid (UCM) e pela Associação de Professores de Língua Portuguesa em Espanha (APLEPES), o qual tem por objetivo a comemoração dos 500 anos da viagem de circum-navegação e questões relacionadas com o ensino e difusão da língua portuguesa; 

— A publicação da tradução de sonetos de Camões para crioulo, da autoria do escritor José Luiz Tavares, numa obra bilingue intitulada Ku Ki Vos: Sonetus di Luiz de Camões (Com que voz: sonetos de Luís de Camões), com a chancela da editora Abysmo (notícia).

5. A distinção entre advérbios e pronomes* e o legado de Jorge de Sena** são os temas dos programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas para a rádio pública portuguesa.

* O programa Língua de Todos será transmitido pela RDP África na sexta-feira, dia 8 de novembro (repetição no sábado, dia 9 de novembro, depois do noticiário das 09h00), pelas 13h20 e **programa Páginas de Português, pela Antena 2, no domingo, 10 de novembro, pelas 13h30 (com repetição no sábado seguinte, dia 16 de novembro, às 15h30). 

Hora oficial de Portugal continental,  ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. A obra e a personalidade de Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004) deixaram memória perene na vida literária e cívica de Portugal. É o que se assinala neste dia, 6 de novembro de 2019, em que se cumprem cem anos sobre o seu nascimento, um aniversário marcado por um extenso programa de atividades culturais a realizar até 20/12/2019 no Porto (sua cidade natal), em Lisboa e noutras cidades portuguesas (ver programa aqui). No Ciberdúvidas, a rubrica Antologia dá igualmente testemunho do génio de Sophia na descoberta da linguagem e da sua língua materna em poemas como "A palavra", "Arte Poética – II", "Breve encontro " e, a propósito da diversidade do português, "Poema de Helena Lanari". Recorde-se ainda a trasladação dos restos mortais da poetisa portuguesa para o Panteão Nacional em 02/07/2014, acontecimento de que a Abertura também fez registo na mesma data.

No Consultório, consultem-se as perguntas e respostas de índole gramatical, motivadas pelos textos desta autora: "Análise sintactica de duas frases de Sophia de Mello Breyner Andresen"; "A palavra almadilha (Sophia de Mello Breyner)"; "O e em dois versos de Sophia de Mello Breyner"; "Sophia de Mello Breyner: demais, outra vez"; "Metalogismos e metataxes em Sophia de Mello Breyner"; "Análise sintática de duas frases de Sophia de Mello Breyner Andresen". E, ainda. o documentário da autoria de Manule Mozos, Sophia, na Primeira Pessoa + No centenário do nascimento de Sophia – Parte I +  No centenário do nascimento de Sophia – Parte II

Fonte da imagem: Eduardo Moga, "Sophia de Mello Breyner, um tumulto de clarão e sombra", in blogue Letras I.Verso e Re.Verso, 11/06/2018

2. «Sophia foi poeta», ou «poetisa»*? A discussão, recorrente, pode surpreender quem se demore com outras palavras terminadas em -a, só que tradicionalmente do género masculino. Dê-se o exemplo de druida, um vocábulo da noite mágica dos tempos que, em Portugal, se popularizou não só pelo celtismo mais linguístico ou musical mas também por causa dos álbuns de Astérix, um herói da banda desenhada franco-belga. Mas, se houver necessidade de referir uma mulher, falamos de «uma druida», ou será mais correto  empregar formas como druidesa e druidisa? Esta é uma das novas questões em linha no Consultório, cuja atualização abrange ainda outras dúvidas, da pronúncia dos plurais de mês e vez à análise da construção «feito de cristal e flores» e do uso frásico do verbo pousar, passando pelo composto téorico-pragmático e a associação do verbo expressar com o nome célula.

* Releia-se a nota que, sobre o emprego de poeta e poetisa, se deixou na Abertura de 02/07/2019.

3. Da atualidade em que a língua portuguesa é tema, saliente-se:

– o II Fórum Internacional da Língua Portuguesa. 500 anos da Circum-Navegação do Mundo: Novas Contribuições em Investigação e Ensino, organizado pela Universidade Complutense de Madrid (UCM) e a Associação de Professores de Língua Portuguesa em Espanha (APLEPES) e realizado nos dias 13, 14 e 15 de novembro de 2019, na Faculdade de Filologia da UCM;

– a capacidade de resistência dos alunos e dos professores envolvidos no ensino da língua portuguesa na Venezuela, atendendo às graves dificuldades sentidas neste país, conforme sublinhou Paula Cristina Pessanha Isidoro, professora da Universidade de Salamanca, em intervenção feita no II Congresso e VI Encontro de Professores de Língua Portuguesa, que reuniu  quase uma centena de docentes em 02/11/2019, na cidade venzuelana de Maracay, no estado de Arágua (ler Correo de Venezuela de 04/11/2019, p. 6; ler também "A importância do português na Venezuela").

4. Tópicos centrais dos programas que Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa:

–  no programa Língua de Todos, transmitido pela RDP África na sexta-feira, dia 8 de novembro, pelas 13h20,  A consultora linguística Sandra Duarte Tavares responde a dúvidas sobre a distinção entre pronomes e advérbios;

– no programa Páginas de Português, emitido pela Antena 2, no domingo, 10 de novembro, pelas 13h30, evoca-se o legado de Jorge de Sena, a propósito do centenário desta figura maior da literatura portuguesa do século XX, e entrevista-se Teresa Calçada, comissária do Plano Nacional de Leitura.

* Ambos os programas são repetidos: o Língua de Todos, no sábado, dia 9 de novembro, depois do noticiário das 09h00, e o Páginas de Português no sábado seguinte, dia 16 de novembro, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental,  ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.

5. No 25.º episódio da 10.ª série do magazine Cuidado com a Língua!, que vai para o ar na RTP1, neste dia,  06/11/2019, depois das 21h00**, visita-se a Cinemateca de Lisboa, na companhia do jornalista Mário Augusto, que revela os segredos de palavras como ecrã, tela ou fita, entre outras que constituem o vocabulário da chamada «sétima arte»  (notícia aqui).

**  Hora oficial  de Portugal continental, podendo o programaser visto, posteriormente, via RTP Play. 

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. A palavra plafom entrou no português a partir do estrangeirismo plafond e as sucessivas adaptações que a palavra sofreu ocorreram não só no plano ortográfico como também no plano semântico, como se explica na resposta «O uso e o significado do galicismo plafond», que integra a nova atualização do Consultório. Aqui encontramos ainda questões relacionadas com a concordância com a expressão «nem um nem outro», com a correção da preposição a usar com a palavra espelho (ao ou no?) e com o plural da expressão «nota de assentos». Por fim, uma explicação sobre a construção da indefinição em português, a partir da identificação da diferença entre «comprei livros, uns livros e alguns livros». 

2. O cinema é o tema central do 25.º episódio da 10.ª série do magazine Cuidado com a Língua!, onde pela mão do jornalista Mário Augusto se fará uma incursão no mundo das palavras da sétima arte, passando pelo ecrã, pela tela ou pela fita, ao mesmo tempo que se percorrem alguns espaços da Cinemateca de Lisboa (notícia aqui). 

3. Lisboa vai ser palco, pela quarta vez, da Web Summit, um evento que decorre entre 4 e 7 de novembro e que conta com mais de 70000 participantes, cerca de 2159 startups e com a presença de oradores influentes, como Brad Smith, presidente da Microsoft, Guo Ping, presidente da Huawei, ou Tony Blair, antigo primeiro-ministro britânico (ver notícias). No plano linguístico, esta cimeira (opção portuguesa para a palavra summit) trará consigo, mais uma vez, uma invasão linguística de anglicismos, que ocupará o espaço mediático e, claro, o da cimeira. Veja-se, a título ilustrativo, o título do artigo do jornal Público: «A Web Summit no país das startups». Este momento seria o ideal para a comunicação social promover o uso de palavras ou expressões portuguesas em substituição das inglesas: diretor executivo em lugar de CEOpresidente  em vez de chairman, «empresa emergente» a substituir startupaplicação em vez de app, entre muitos outros casos. 

Relativamente à questão do nome do próprio evento, recordemos a resposta «Web Summit, star-up e feature: como usar em português?» e ainda questões em torno de palavras que incorporam o termo "web", como "webgrafiaou "webliografia": «O neologismo "webliografia"» e «A palavra "webgrafia"». 

4. O crescente domínio da língua inglesa foi também um assunto que preocupou o poeta, crítico, ensaísta, ficcionista, dramaturgo, tradutor e professor universitário português, naturalizado brasileiro em 1963 Jorge de Sena, que o abordou num dos seus poemas intitulado "Noções de Linguística". Recordamos hoje este escritor que amava a língua portuguesa pelos cem anos do seu nascimento (comemorados a 2 de novembro), data que motiva diversos eventos tanto em Portugal como no Brasil*.

* Ver a série de trabalhos do jornal  Público em evocação do centenário de Jorge Sena, intitulada O Século de um Intelectual Indispensável + Jorge de Sena: o gigante indigesto da cultura portuguesa Jorge de Sena, antologista + Jorge de Sena e o Brasil O exílio na poesia de Jorge de Sena +  A política em SenaE, ainda. Jorge de Sena, António Ramalho Eanes: cultura, educação e uma homenagem Portugal, realidades e percepções: magnífica lição de Jorge de Sena

(Imagem: Jorge de Sena por Victor Couto)

5. A partir de janeiro de 2020, a Holanda vai passar a conhecer-se por outro nome – lembra o professor universitário e tradutor Marco Neves, em artigo publicado no seu blogue Certas Palavras. Uma reflexão  sobre as designações curtas e longas associadas a diferentes países e a força dos usos, que nem sempre respeitam as vontades políticas.

6. O português como língua segunda estará em destaque em Cabo Verde, de 7 a 9 de novembro, no âmbito das «V Jornadas de Língua Portuguesa: investigação e ensino», que terão como tema central «A aprendizagem da oralidade na aula de português como língua segunda: compreensão, expressão e interação», um encontro organizado pela Cátedra Eugénio Tavares de Língua Portuguesa (programa).