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Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. As eleições legislativas tiveram lugar em Portugal ontem, dia 6 de outubro, tendo os resultados ditado a vitória do Partido Socialista, embora sem uma maioria absoluta, o que implica que o partido terá de procurar um acordo com um ou mais partidos políticos de modo a garantir estabilidade governativa. Com efeito, na noite da contagem dos votos e da divulgação faseada dos resultados, a palavra que provavelmente mais se ouviu nos meios de comunicação social, repetida por jornalistas, políticos e comentadores, foi acordos. E porque as hesitações e as oscilações na forma de pronunciar a palavra continuam a ocorrer, justifica-se que se recorde que a pronúncia correta da palavra no singular como no plural é com "o" tónico fechado(/acôrdo/ e /acôrdos/), tal como já se recordou em diversas ocasiões (aqui, aqui e aqui).

Dado que este acontecimento político, de relevo nacional e internacional, vai motivar muitas páginas escritas e muitas intervenções orais a propósito de todos os cenários que se vão desenhar, relembremos algumas respostas do Ciberdúvidas que abordam questões linguísticas relacionadas com esta temática: «Eleição e Eleições», «Eleições eleitorais», «Haverão eleições, diz Costa. E diz mal», ««Eleito como» e «considerado como»», «Elegível e legível», «Ganhado», «Plural de eleitor-fantasma», «Reeleito + arreia (arrear)», «Precariedade e não «precaridade»». 

2. A teoria dos géneros textuais constitui um dos enquadramentos teóricos fundacionais dos programas de português do ensino básico e secundário em Portugal. Neste contexto, a publicação Ensinar géneros de texto: conteúdos, estratégias e materiais adquire extrema importância não só pela pertinência do tema como também por reunir um conjunto de propostas que contemplam uma abordagem teórico-didática de diferentes géneros textuais estudados em contexto escolar. Uma obra coordenada por Antónia Coutinho e Noémia Jorge, editada com o apoio do Centro Luís Krus / Escola de Verão da Nova (FCSH) / Associação Professores de Português / Porto Editora e apresentada na Montra de Livros.

3. A realidade política e os seus contornos dão azo a que a criatividade linguística procure todo o seu esplendor de forma a traduzir as realidades que vão tendo lugar e também as opiniões de quem as observa e analisa criticamente. Todas estas perspetivas parecem estar encerradas na nova palavra bolsomínion, aplicada à realidade política brasileira, cuja formação e grafia se explicam na nova atualização do Consultório. O nome estratégia, muito recorrente em domínios lexicais do foro político e de âmbito militar, é também tratado para dar conta do consenso existente em várias línguas europeias relativamente à sua etimologia. Não menos militar é a expressão «abrir fogo», cuja regência preposicional também aqui se analisa. «Não me diga», expressão de espanto, de interrogação ou de afirmação, motiva dúvidas quando à pontuação que a ela se deve associar e que aqui se esclarece. Por fim, a possibilidade de dar ordens de forma indireta e através de frases interrogativas é também  motivo de reflexão associado à frase «Você pode ver que dia é hoje?»

4. O uso excessivo de estrangeirismos em língua portuguesa está em foco no magazine Cuidado com a Língua!, emitido na quarta-feira, dia 9/10, na RTP1, a partir das 21h00 (hora oficial de Portugal continental) – com uma abordagem de realidades muito distintas, da loja vintage  ao drink ao final do dia (notícia aqui). 

5.  Como já aqui foi noticiado, a  1.ª Reunião Ordinária do Conselho de Ortografia da Língua Portuguesa (COLP) tem lugar hoje e amanhã (7 e 8 de outubro). Neste encontro inaugural procurar-se-á definir áreas prioritárias de intervenção do órgão agora constituído. Neste mesma reunião, terá lugar uma homenagem a Evanildo Bechara, professor, gramático e filólogo brasileiro, e ao filólogo português João Malaca Casteleiro (mais informações aqui).

 

6. Entre os acontecimentos relacionados com aspetos da língua, destacamos aqui: 

— A atribuição do prémio Nobel da Medicina (a ter lugar no dia de hoje), que motiva um alerta para a forma como se pronuncia a palavra Nobel (recorde-se aqui e aqui);

— O restauro, em Espanha, do testamento de Fernão de Magalhães, um original de 1519, que foi escrito pelo navegador antes de iniciar a viagem de circum-navegação, do qual apenas resta um fragmento (embora se possua uma cópia do texto integral), que foi identificado há dez anos. Trata-se de um documento de grande interesse histórico e também linguístico. 

 

 

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Recorre-se à metáfora, quando se diz que esta ou aquela palavra foram "torcidas" ou "esvaziadas" de sentido para defesa de interesses obscuros, como é o caso de verdade, tantas vezes pronunciada – ou "seduzida" – em apoio de mitos e mentiras. Em O nosso idioma, Carla Marques, consultora permanente do Ciberdúvidas, deixa um apontamento em forma de diálogo, em que um dos interlocutores revela alguns dos paradoxos (e artifícios) da comunicação político-institucional. Na mesma rubrica, Sara Mourato comenta um neologismo – em português, praticamente por vir – que dá que fazer aos media de língua espanhola: trata-se do anglicismo pedophrasty, recorrente nas críticas dirigidas à jovem Greta Thunberg e aos seus apoiantes, no contexto dos protestos contra a crise climática. Que significa ao certo? Como adaptá-lo ao português?

Na imagem, programa de A Cadeira da Verdade, comédia de Ramada Curto (1886-1961), que foi levada à cena no Teatro da Trindade (Lisboa) em fevereiro de 1932. Fonte: MatrizNet.

2. Nesta atualização do consultório, mais perguntas: como empregar «tanto quanto» e «tão quão»? Querendo especificar palavras como tipo ou formato, diz-se «formatos de anúncio» ou «formatos de anúncios», ou seja, associa-se-lhes um nome no singular ou no plural? Se já existe calculador, calculante e calculista, qual a necessidade de outro adjetivo com significado semelhante, calculativo? Por último, retoma-se um problema de sintaxe: o da forma o que, cujo uso frásico tem uma análise dependente do modo como se vê a sua estrutura interna.

3. Realiza-se a 1.ª Reunião Ordinária do Conselho de Ortografia da Língua Portuguesa (COLP)  na Casa de Pernambuco, no Porto, nos dias 7 e 8 de outubro de 2019, com organização do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), em parceria com a Universidade do Porto. Do encontro, são anfitriões o ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Augusto Santos Silva; o reitor da Universidade do Porto, António Sousa Pereira; e o presidente do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, Luís Faro Ramos. Após a sessão de abertura, terá lugar uma homenagem aos académicos Evanildo Bechara, da Academia Brasileira de Letras, e João Malaca Casteleiro, da Academia das Ciências de Lisboa, promovida pela equipa central do Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa (VOC), com apoio do IILP e da Universidade do Porto (pormenores na rubrica Notícias).

4. Em Portugal, a história e a atualidade justificam o registo de duas datas importantes:

– Comemora-se a 5 de outubro o aniversário da implantação da República, um acontecimento que teve ampla repercussão não só institucional mas também linguística, dado ter criado as condições para a grande Reforma Ortográfica de 1911, cujos princípios constituem a base dos acordos ortográficos posteriores.

– Em 6 de outubro, realiza-se em Portugal a eleição da Assembleia da República, da qual saírá também o novo governo constitucional português.  Vale a pena recordar a Abertura de 30 de setembro de 2015, nas vésperas das últimas eleições legislativas realizadas em Portugal, em 4 de outubro desse ano. Se a palavra que marcara a anterior legislatura (2011-2015) era troica, num contexto de crise económica e financeira, sem grande hesitação se dirá que foi geringonça o vocábulo que deu o tom à vida política portuguesa em finais de 2015. O seu uso intensificou-se, inicialmente como maneira depreciativa de referir o acordo político que viabilizou então a formação de governo. À volta da origem de geringonça, consultem-se os seguintes artigos e respostas: "475 anos de geringonça" ; "Geringonça, a palavra que deu a volta ao texto"; "O bom e o mau uso do léxico político no jornalismo"; "A Geringonça, mas a da 'Esopaida' de António José da Silva"; "A geringonça vocabular do ano". A propósito da linguagem política e do vocabulário das eleições, sugere-se ainda a leitura de:   "Características do discurso político"; "Metáforas do discurso político";"A língua em termos de eleições";  "Algumas figuras de estilo"; "Eleições e eleições" , "Cartazes eleitorais"; "'Haverão eleições', diz Costa. E diz mal"; "Política"; "Política II"; "Ética na política"; "A classe de palavras de político"; "Concordância: 'ela é um dos políticos'"; "Deputados à/da Assembleia"; "'Deputado a' e 'deputado 'a'"; "Botar + votar + deitar"; "O vocábulo arruada".

Fonte da imagem: Unsplash.

5. Falando ainda de atualidades, mas noutros quadrantes de atividade ou noutros âmbitos geográficos:

– O Brasil é notícia graças a iniciativas na promoção do português, como é o caso dos cursos de língua portuguesa promovidos em Camboriú, no estado de Santa Catarina, dirigido a mulheres provenientes do Haiti, com vista à sua integração.

– Estão abertas até 30/11/2019 as inscrições na 11.ª edição do Festival Itinerante do Cinema de Língua Portuguesa (FESTin), um acontecimento realizado anualmente, que visa difundir e desenvolver o cinema nos países de língua portuguesa.

6. Espaço ainda para um registo triste, o da morte de um dos mais velhos alfarrabistas de Portugal, o livreiro João Rodrigues Pires, que era o proprietário de O Mundo do Livro, uma livraria do Largo da Trindade, em Lisboa.

Fonte da imagem: Jay Clark em Unsplash.

7. O livro Comunicar com sucesso, de Sandra Tavares Duarte, e a obra do escritor António Lobo Antunes, abordada numa entrevista à professora Maria Alzira Seixo, são, na presente semana, os temas dos programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa.

Língua de Todos, emitido na RDP África – na sexta-feira, dia 4 de outubro, às 13h20, com repetição no dia seguinte, sábado, dia 5 de outubro, depois do noticiário das 09h00 – e  Páginas de Portuguêsna Antena 2, no domingo, dia 6 de outubro, às 12h30, com repetição no sábado seguinte, dia 12 de outubro, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental,  ficando ambos os programas disponíveis posteriormente, aqui e aqui.

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1. A história da língua portuguesa é rica, diversificada e complexa. Deste processo evolutivo fazem parte pequenas histórias de palavras que nós, falantes, tanto gostamos de conhecer. Cada uma é curiosa, rica e, não raro, inesperada. Nesta atualização do Consultório, vamos ao encontro da história da utilização do pronome vós dirigido a um interlocutor singular. Por aqui passam também dúvidas geradas pela paronímia das expressões «às vezes» e «há vezes», acompanhadas de hesitações relacionadas com a correção do uso da vírgula após a expressão «e você» e com a classificação da palavra nunca. As exceções que a própria língua cria às suas regras ficam patentes num caso de concordância siléptica entre o nome gente e um possessivo e nas possibilidades de uso ou omissão do artigo indefinido

Na  primeira imagem: Notícia de Torto, manuscrito datado de 1211 -1216, considerado o texto não literário mais antigo redigido em língua portuguesa. 

2.  A história da origem da palavra circo e do significado da expressão «andar na corda bamba» estarão em foco no magazine televisivo Cuidado com a Língua!, que regressa à RTP1, às quartas-feiras, a partir das 21h00, com início hoje, 2 de outubro. As questões lexicais abordadas no programas estarão enquadradas no tema do ensino-aprendizagem das artes circenses, o que levará também ao tratamento do léxico de natureza circense (notícia aqui).

3.  O Dia Mundial do Vegetarianismo, comemorado no dia 1 de outubro, traz-nos uma história de outra palavra pela pena de Nuno Alvim, presidente da Associação Vegetariana Portuguesa, que, no P3, separata do jornal Público, divulgou uma crónica, aqui transcrita com a devida vénia, que vai em busca da origem da palavra vegetariano, a qual tem uma relação estreita com a história do próprio movimento. Fica a questão: qual a relação de Pitágoras de Samos e da crença na migração das almas com a origem do vegetarianismo?

4.  Das várias notícias relacionadas com a língua, destacamos as seguintes:

Marco Neves, tradutor e docente universitário, lançou um novo projeto onde aborda questões relacionadas com a língua e a tradução. No sítio intitulado Cinco Palavras, o autor divulga, em pequenos episódios, textos gravados cujo tema se desenrola em torno de cinco palavras; 

Augusto Santos Silva, ministro dos negócios estrangeiros português, numa entrevista à ONU News referiu que a língua portuguesa é, de acordo com dados da UNESCO, uma das três línguas do mundo que mais vai crescer, sendo expectável que este crescimento assuma uma dimensão significativa em África. Estima-se que neste continente o número de falantes atingirá os 500 milhões ao longo do século XXI. A ocorrer este fenómeno, a língua portuguesa passará a ter mais falantes em África do que no Brasil, país onde atualmente se concentra o maior número de falantes da língua (notícia disponível no sítio Plataforma); 

— Do Canadá chega-nos a notícia de que a comunidade portuguesa de Kingston envida esforços para assegurar a manutenção a longo prazo do curso de português existente na Universidade de Queen's. Para tal, realizou um evento de angariação de fundos, que, em conjunto com as verbas da universidade e do Camões – Instituto da Língua e da Cooperação, permitirão a continuidade do projeto;

– O 30.º aniversário da Priberam, empresa que, em Portugal, se tornou pioneira na criação de dicionários em linha, ao criar o conhecido Dicionário Priberam da Língua Portuguesa (mais informação aqui).

5. A obra do escritor António Lobo Antunes, abordada numa entrevista à professora Maria Alzira Seixo, e o livro Comunicar com sucesso, de Sandra Tavares Duarte, serão os temas dos programas de rádio produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. 

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1. Com verbos e adjetivos, é frequente hesitar quando se trata de preposições: dê-se o exemplo de rumar, compatível quer com a preposição a quer com para: «rumar a» e «rumar para»; ou o do adjetivo propício, que aparece também com ambas preposições. Nas novas perguntas em linha no consultório, apresenta-se um caso semelhante, o de adaptar: aceita-se «adaptei este romance para o cinema», ou só «adaptei este romance ao cinema» é a frase correta? A interpretação do pronome o também suscita dúvidas, conforme acontece com a questão sobre uma frase do escritor português Júlio Dinis (1839-1871). Igual fonte de equívoco pode ser a comunicação entre falantes do Brasil e de Portugal, quando se emprega meia (= seis) nas conversas ao telefone, tópico que ainda faz parte da presente atualização, a par de outros dois: um a respeito da boa formação de estacionariedade; e outro, relativo à ocorrência da contração à  (a chamada crase no Brasil) num contexto bem macabro, a nota de suicídio do político brasileiro Getúlio Vargas (1882-1954).

2. Falar em público com desembaraço e eficácia não se exercita como competência inata; pelo contrário, adquire-se com a experiência continuada. Para quantos queiram saber mais sobre técnicas de expressão oral e escrita, a Montra de Livros apresenta uma obra recentemente lançada em Portugal: trata-se de  Comunicar com Sucesso, da autoria de Sandra Duarte Tavares, consultora linguística e de comunicação.

3. A história das palavras desempenha um papel central na investigação em toponímia (ou toponomástica). Em Portugal, estes estudos parecem longe dos tempos áureos de Leite de Vasconcelos (1858-1941), mas a olisipografia (ou olissipografia), ou seja, os estudos sobre a  cidade de Lisboa, mantém vitalidade. Vem, portanto, a propósito falar aqui da história do microtopónimo lisboeta «travessa do Fala-Só» (freguesia de Santo António), de acordo com um interessante apontamento publicado em 29/09/2019 no blogue Toponímia de Lisboa. Uma curiosidade, entre outras reveladas por este pequeno artigo: o referido arruamento chamava-se «beco do Fala-Só», mas, em 1877, a pedido de vários moradores, foi-lhe mudada a denominação descritiva, de beco, de conotação negativa (disfórica), para travessa, termo bem mais positivo e de maior dignidade.

Mudanças toponímicas como estas não são insólitas. Basta evocar um caso bem conhecido na região de Lisboa, o de Aldeia Galega, cujos habitantes, ao que parece, por acharem desprestigiante ou pouco patriótico o nome desta povoação, viram satisfeito em 1930 o seu desejo de a localidade passar a ser chamada Montijo, outro topónimo local (mais informação aqui). Recorde-se ainda que a disciplina dedicada ao estudo da capital portuguesa deriva o seu nome  – olisipografia ou olissipografia – da forma que Lisboa tinha na Antiguidade: Olisipo, de origem pré-romana (ver programa Cuidado com a Língua!, II série, 2008).

4. Entre as atividades para promoção da língua portuguesa, são notícia:

– o anúncio do lançamento do Dicionário Analógico do Português do Brasil, uma da plataforma digital destinado ao ensino da língua a estrangeiros e desenvolvida na Universidade de Brasília;

– a angariação de fundos levada a cabo pela comunidade portuguesa na área de Kingston, no leste do Canadá, para financiar o curso de Português na Universidade de Queen's, na mesma cidade;

– a realização da 1.ª Reunião Ordinária do Conselho de Ortografia da Língua Portuguesa (COLP), pelo Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), em parceria com a Universidade do Porto, nos dias 7 e 8 de outubro de 2019, nas instalações da referida universidade.

5. Por último, uma informação: a Ciberescola da Língua Portuguesa, plataforma digital de ensino que desenvolve a sua atividade no âmbito da Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, abriu inscrições nas aulas de Português como Língua Estrangeira (PLE) que vai realizar ao longo do ano letivo de 2019-2010. Pormenores nas Notícias.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1.  Os textos de autores de literatura portuguesa motivam com alguma frequência questões apresentadas no Consultório. Desta feita, a dúvida surge a partir de uma frase retirada do Sermão de Santo António (aos peixes), de Padre António Vieira, e relaciona-se com a classificação da oração subordinada na expressão «não há nenhum tão grande que se fie do homem». Os adjetivos têm, nesta nova atualização, um papel de relevo: uma questão solicita que se ateste a existência de incompaginável; os adjetivos lignocelulósico lenhocelulósico são analisados no que respeita a sua evolução e discute-se qual a forma mais adequada para um uso técnico e académico; o adjetivo transgénero oferece dúvidas quanto à sua possibilidade de flexão em número. Por fim, a classificação de orações volta a dar azo a dúvidas, desta vez a propósito da subordinada presente na frase «o projeto contribuirá para as alterações climáticas

Na imagem: Retrato de Padre António Vieira, de autor desconhecido, inícios do século XVIII. 

 2. patoá macaense é um crioulo nascido do contacto de comerciantes portugueses com outros povos da Ásia, em particular de Macau, e que resulta do encontro da língua portuguesa com o cantonês, o malaio, o cingalês e diversas línguas indianas. Trata-se de uma língua crioula que, de acordo com a Unesco, se encontra em risco de desaparecimento total, uma vez que é falada apenas por cerca de 50 pessoas. Cientes da perda que constituiria o desaparecimento deste patoá, apresentamos, na rubrica Diversidades, uma reportagem, traduzida do inglês, que relata um pouco da biografia de Aida de Jesus, uma macaense com 103 anos que ainda fala o patoá, e de sua filha Sónia Palmer, que promove um conjunto de iniciativas para procurar impedir o desaparecimento do patoá (texto originalmente publicado no sítio Goldthread).  

3. Nas  rubrica Controvérsias, um texto da autoria de Manuel Soares, presidente da direção da associação sindical de juízes portugueses, reflete sobre os processos linguísticos que visam a "higienização" da língua, recusando termos que possam ter fundamento violento, racista ou sexista (artigo publicado originalmente no jornal Público). 

4. Nos Estados Unidos volta a falar-se de impeachment, situação motivada pelas denúncias relacionadas com ações do presidente Donald Trump. Este termo refere um processo desenvolvido para apurar as responsabilidades de um funcionário de um alto cargo por má conduta ou grave delito no exercício das suas funções. Neste contexto, e porque este será um termo mediático nos próximos tempos, justifica-se recordar que existe tradução portuguesa para referir esta realidade, sendo impugnação o termo adequado (palavra que já foi aqui recomendada há alguns anos) ou a expressão processo de destituição, ou simplesmente destituição, tal como recomendou para o espanhol a Fundéo BBVA.

5.  No Dia Europeu das Línguas celebrado ontem, dia 25 de setembro, várias notícias relacionadas com a língua portuguesa no mundo vieram a lume: no jornal Público, analisou-se a importância do ensino do Português na Europa, e no sítio Plataforma divulgou-se um artigo sobre a crescente importância da aprendizagem da língua portuguesa em Macau.

6. Entre as notícias relacionadas com a literatura de língua portuguesa destacamos:

— A atribuição do título Doutor Honoris Causa ao escritor moçambicano Mia Couto, pela Universidade de Brasília, numa cerimónia que tem lugar hoje, dia 27 de setembro;

— A Festa Literária Folha, que decorre na Curia, uma aldeia de Anadia, entre 26 e 28 de setembro, um evento que comemora os centenários de Jorge de Sena e de Sophia de Melo Breyner Andersen e que contará com a presença dos escritores portugueses Pedro Mexia, Fernando Dacosta, Anselmo Borges, Maria do Céu Fialho, entre outros;

— O primeiro Festival Literário e Feira do Livro de Oeiras, até ao dia 29 de setembro, um evento repleto de atividades e por onde passarão diversos escritores portugueses. 

6. Algumas dúvidas sobre o uso correto da língua e o lançamento pelo Instituto Politécnico de Macau (IPM) de cinco novos livros para divulgar e promover o ensino da língua portuguesa em Macau, na região da Grande Baía e na China, são os temas que estarão em antena nos programas de rádio produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa na presente semana (mais informação nas Notícias).

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Diz-se que no português contemporâneo já não se usam nem a forma de tratamento vós (que marca um grupo de destinatários) nem a respetiva flexão verbal («vós falais», «vós ides»). A afirmação é válida se fizer referência à maior parte dos falantes do Brasil ou de África ou mesmo de grande parte do território de Portugal. No entanto, é amplamente desmentida pelo confronto com a realidade linguística do interior norte português. Em O nosso idioma, a consultora permanente do Ciberdúvidas, Carla Marques,  faz a crónica de uma visita a Trás-os-Montes, para lembrar a vitalidade do vós, tão frequente, afinal, na comunicação oral e escrita da região de Bragança, associado a vocábulos tão expressivos como cibo, agarimo ou farragacho (conservando a africada tch). Na mesma rubrica, outra lista, desta vez das formas de tratamento e das suas abreviaturas empregadas no meio académico –  uma recolha de Sara Mourato.

Na imagem, Serra do Marão de Joaquim Francisco Lopes (1886-1956), no Museu Grão Vasco (Viseu) – fonte: MatrizNet. A serra do Marão constitui a barreira montanhosa que isola Trás-os-Montes da zona litoral, a qual motivou a expressão tradicional «para lá do Marão mandam os que lá estão».

2. Tanto faz usar «é verdadeiro» como «é verdade»? Esta é uma das novas perguntas em linha no consultório, onde o léxico, o seu uso, a sua boa formação, o seu significado ou a sua grafia são tópicos a realçar: existe a palavra literacização? Pode empregar-se a palavra "outorgação", em vez de outorga? Evangélico é sinónimo de evangelista?  Porque não escrever dança com s? A sintaxe também suscita dúvidas: como analisar a frase «sabe do que fala»?

3. Faça-se referência a mais um interessante artigo do tradutor e professor universitário Marco Neves, que o publicou em 15/09/2019 na plataforma digital Sapo 24 e disponibilizou em 18/09/2019 no blogue Certas Palavras. Trata-se de certas tradições bilingues inesperadas, como sejam a sobrevivência do francês – ou melhor, da sua versão medieval anglo-normanda – no cerimonial do parlamento do Reino Unido, ou a surpreendente semelhança da toponímia galega com a portuguesa.

Registe-se, a propósito, a comemoração, a 26 de setembro, do Dia Europeu das Línguas, que visa festejar a diversidade linguística na Europa e promover a aprendizagem de línguas (ver também página dedicada a esta data nas páginas da Direção-Geral de Educação do Ministério da Educação de Portugal). Sobre as língaus da Europa e o seu ensino, ler  "O euroléxico de A a Z", "O multilinguismo na União Europeia", "Curiosidades linguísticas da Europa", "O português, língua da Europa", "Novamente o português, língua da Europa",  "O ensino de línguas estrangeiras hoje, na Europa".

4. Dos acontecimentos culturais em que o nosso idioma comum é tema ou motivo, salientam-se:

– a abertura em 30 de setembro da exposição "Quem ler os livros que eu li" – Aproximações à biblioteca de Fernão de Oliveira, que a Biblioteca Nacional de Portugal, em Lisboa, dedica a Fernão de Oliveira (1507-ca. 1581), autor da primeira gramática da língua portuguesa, a Grammatica da Lingoagem Portuguesa, publicada em 1536;

– de 27 a 29 de setembro, o Festival 6 Continentes, também conhecido como Festival Internacional da Música Lusófona, o qual abrange ativamente e em simultâneo grande número de eventos promovidos em diferentes países e comunidades de língua portuguesa. Em 2019, contam-se participações de Angola (Luanda), do Brasil (Santos, Rio de Janeiro, Belo Horizonte), de Cabo Verde (Praia), Portugal (Cascais, Coimbra, Almada, Pinhal Novo), de Moçambique (Inhambene), incluindo países fora da CPLP, mas de algum modo ligados à presença ou influência culturais da língua portuguesa (México, Peru, Costa Rica, Espanha, Reino Unido, França). Mais informação aqui.

5. As dúvidas sobre o uso correto da língua voltam a estar em foco no programa Língua de Todos, transmitido pela RDP África na sexta-feira, 27 de setembro, às 13h20* (com repetição no sábado, dia 28 de setembro, depois do noticiário das 9h00*). A consultora do Ciberdúvidas Sandra Duarte Tavares dá indicações sobre diferentes casos; por exemplo: «A locutora agradece aos ouvintes a preferência pela Antena 2. A locutora deve dizer obrigado ou obrigada

No Páginas de Português, emitido pela Antena 2 no domingo, às 12h30 (com repetição no sábado seguinte, 5 de outubro, às 15h30*) o tema em destaque é o lançamento pelo Instituto Politécnico de Macau (IPM) de cinco novos livros para divulgar e promover o ensino da língua portuguesa em Macau, na região da Grande Baía e na China. Numa entrevista a Gaspar Zhang Yunfeng sobre o ensino de português na China, é dada a conhecer a publicação das seguintes obras: Fonética e Fonologia para o Ensino do Português como Língua Estrangeira e Exercícios Práticos de Fonética de Português Língua Estrangeira, ambos da autoria de Adelina Castelo; Português com Textos 2 -- Textos narrativos para o ensino do Português como Língua Estrangeira, de Sara Augusto e Caio Christiano; Português em Uso, de Rui Pereira; e Guia de Preparação para o DAPLE -- Diploma Avançado de Português, de Liliana Inverno.

*Hora oficial de Portugal continental, ficando depois os programas Língua de Todos de Páginas de Português, disponíveis, aqui e aqui, respetivamente.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. O equinócio do outono ocorre hoje, dia 23 de setembro, no hemisfério norte. Anuncia-se a chegada de um tempo instável, realidade que motiva o provérbio «Outono, ou seca as fontes ou salta as pontes». A vinda do frio associa-se a uma natureza cada vez mais despida e a dias gradualmente mais curtos porque «No outono o sol tem sono». Recordemos que a palavra outono, bem como os outros nomes de estações do ano, passou a escrever-se com letra minúscula com as novas regras do Acordo Ortográfico de 90, o mesmo tendo acontecido aos nomes dos meses. Esta nova grafia levanta, não raro, a questão da inclusão dos nomes das estações do ano na subclasse dos nomes comuns, interpretação que não é correta, como aqui nos explicou o professor Carlos Rocha, coordenador executivo do Ciberdúvidas.

            Primeira imagem: Outono, de José Malhoa, 1918 

2. No rescaldo das eleições legislativas regionais da ilha da Madeira, que tiveram lugar em 22 de setembro, e em plena campanha eleitoral para as eleições para a Assembleia da República, as palavras e os conceitos associados a esta realidade estão na primeira linha dos discursos políticos e jornalísticos. Por essa razão, é sempre importante recordar algumas questões relacionadas com o campo lexical da esfera política, tratadas anteriormente no Ciberdúvidas. Antes de mais, recordemos a própria palavra política, que tem como sentido nuclear o valor de "ciência ou arte de governar", mas que pode ter usos figurados bem menos elevados, como se recorda aqui. Não obstante, espera-se que os políticos rejam a sua atividade pelos princípios éticos que os sentidos da palavra bem sublinham (recorde-os nesta resposta). Neste contexto, é também pertinente aferir se devemos dizer eleição ou preferir o termo eleições (ver explicação) ou se faz sentido usar a expressão «eleições eleitorais»: 

3.  Na Montra de LivrosJosé Mário Costa, cofundador do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, apresenta a mais recente obra de Lúcia Vaz PedroCamões Conseguiu Ver Muito Para Quem Só Tinha Um Olho, com a chancela da Manuscrito. Um livro no qual a autora parte da apresentação de erros reais de alunos do ensino básico e secundário para a sua correção, o que lhe permite passar em revista conteúdos de diferentes domínios da disciplina de Português. Uma proposta divertida para acompanhar o estudo do português. 

4. Na nova atualização do consultório debruçamo-nos sobre a ortoépia, ao esclarecer qual a pronúncia correta da expressão «Benza-o Deus» e do apelido Abecassis. A utilização da palavra racional como adjetivo em expressões que constituem uma tradução literal do inglês motivam uma reflexão sobre o decalque linguístico apressado. As funções sintáticas dos constituintes das frases voltam a motivar uma reflexão, desta feita centrada na função desempenhada por todos na frase «Ele vendeu-as todas». Por fim, no campo dos recursos expressivos, analisa-se a diferença entre zeugma e elipse. 

5. Sandra Tavares Duarte lançou recentemente a obra Comunicar com sucesso, da editora Oficina do Livro, na qual condensa um conjunto de sugestões para que os leitores possam aperfeiçoar as suas competências comunicativas no âmbito da oralidade e da escrita, para além de incluir ainda uma lista dos erros mais comuns, dicas para comunicar com assertividade e com vista aos objetivos e ainda técnicas e ferramentas para aperfeiçoar as competências linguísticas. 

6. Entre os diversos temas relevantes para a língua portuguesa, divulgados em diferentes espaços, destacamos a explicação da origem da expressão «queimar pestanas», apresentada pela lexicógrafa Ana Salgado, num apontamento publicado na plataforma de divulgação cultural Gerador. Interessante também é conhecer a história dos nomes dos alimentos que consumimos. Este é o mote para um conjunto de artigos da responsabilidade de José Carlos Fernandes, engenheiro do ambiente, ilustrador e autor de banda desenhada, que têm vindo a ser publicados no jornal em linha Observador. Entre eles, assinalamos os mais recentes que abordam «as maçãs-do-diabo», os «nabos suecos e erva-dos-pardais» e «pêssegos-dos-lobos e maçãs insanas».

     A propósito da grafia dos nomes de espécies botânicas (e também zoológicas), recordamos que, segundo o Acordo Ortográfico de 90,  se deve usar o hífen em todas as palavras compostas, quer estas tenham preposição ou não, conforme se explicou aqui.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Ainda hoje os lobos se cruzam nos caminhos dos nossos pesadelos, saídos de crenças e medos ancestrais. Um pouco menos remota, mas de história não menos obscura, é a palavra alcateia, usada em português para denominar um grupo destes animais. Sabe-se que tem origem árabe, mas como evoluiu o seu significado?. Entretanto, a propósito da língua árabe, para mencionar em português o nome de uma cidade do Iémen, país do sul da Península Ibérica, infelizmente dilacerado nos últimos anos pela guerra, escreve-se Adem ou Adém, ? Já agora, para referir um destino geográfico, poderemos poupar palavras e formar o termo geodestino? E, falando disto e de outras coisas, dizemos que adquirimos conhecimento ou conhecimentos? E, quanto ao que possibilita o saber, aceita-se o uso da expressão «condição sine qua non», ou será esta redundante e, portanto, de evitar? São questões que nos traz a presente atualização do consultório.

2. Quantas vezes ouvimos dizer que as meninas aprendem a língua materna mais depressa do que os meninos? É mito e mera impressão, ou há algum fundamento para pensar que a atitude das mulheres perante o uso da língua se distingue do dos homens? Trata-se de uma discussão em aberto, a que a rubrica Diversidades não fica indiferente ao deixar disponível a tradução de um artigo originalmente escrito em espanhol pelo jornalista Jaime Rubio Hancock, que o publicou em 16 de setembro em Verne, um sítio eletrónico associado ao jornal El País.

3. Apesar de teses negacionistas com expressão nos corredores do poder, os abusos da atividade humana estarão na origem de situações meteorológicas repetidas ou continuadas (o aquecimento global é disso exemplo), que apontam para uma mudança ambiental brusca e catastrófica. Para manifestar preocupação e exigir medidas urgentes de modo a minorar os efeitos da crise climática, assinala-se nesta data, 20 de setembro, um dia de protestos à escala mundial – a comunicação social chama-lhe «greve pelo clima». Este movimento antecede a Cimeira da Juventude sobre o Clima das Nações Unidas, realizada em 21 e 22 de setembro de 2019, contando com a presença da jovem ativista sueca Greta Thunberg. No dia 23 de setembro, tem lugar a Cimeira de Ação Climática organizada pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, para acelerar a aplicação do Acordo de Paris sobre a mudança climática. À volta da palavra clima, da sua família de palavras e do seu campo lexical, consultem-se: : "Climático", "O adjetivo climatérico", "Alterações climáticas ou mudanças?", "Condições atmosféricas", "As aceções do adjetivo temporal", "Erros inadmissíveis", "Condições edafoclimáticas", "A formação da palavra edafoclimático".

4. Não sem polémica, este dia é também o da comemoração dos 500 anos da partida da frota inicialmente liderada pelo navegador português Fernão de Magalhães (1480-1521), para a primeira viagem de circum-navegação do mundo. Como outras viagens da época, esta, em especial, marca a expansão e colonização europeias do mundo que, para o bem e para o mal, determinaram o adensamento das redes mundiais de ação e comunicação humanas, com a disseminação das línguas da Europa, entre elas a nossa, e o nascimento de novas línguas por contacto, como acontece com os crioulos. Sobre este tema, consultem-se as seguintes respostas e artigos: "Expansão da língua portuguesa"; "A influência do português no Oriente"; "A língua portuguesa no Brasil"; "Formação do léxico português no Brasil"; "A matriz negra da língua portuguesa no Brasil"; "A formação dos sotaques do Brasil"; "Língua portuguesa (emancipação do Brasil)"; "A dimensão africana da língua portuguesa"; "A nossa língua portuguesa"; "Influência do português nas línguas africanas"; "O português em Angola"; "A língua portuguesa em Angola"; "Português de Angola e Moçambique"; "O nosso império é a língua portuguesa"; "Será em África que teremos mais falantes de português"; "Que fazer com esta CPLP?"; "Os três círculos da lusofonia"; "Para as urtigas com a Lusofonia"; "Crioulos"; "As línguas crioulas"; "Crioulo, dialecto e pidgin"; "Dialeto, crioulo e patoá"; "As línguas crioulas de Cabo Verde e Guiné"; "A língua portuguesa e o crioulo cabo-verdiano"; "A teoria da simplificação e da relexificação do crioulo"; "Qual é a origem da língua cabo-verdiana?"; "Crioulo de Ceilão"; "Antigo crioulo"; "Uma língua à portuguesa no Sri Lanka?"; "O crioulo de Malaca";  "Diglossia".

5. A problemática da literatura digital e a importância da língua portuguesa e da literatura em Angola são temas em foco dos programas de rádio produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa na presente semana (mais informação nas Notícias).

O programa Língua de Todos é transmitido pela RDP África, na sexta-feira, 20 de setembro, pelas 13h20* (com repetição no dia seguinte, pelas 9h15*). O Páginas de Português tem mais uma emissão na Antena 2, no domingo, dia 22 de setembro, às 12h30 (com repetição no sábado seguinte, dia 28 de setembro, às 15h30). Ambos os  programas ficam disponíveis, posteriormente, aqui e aqui

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Não raro, os programas televisivos dão matéria a este espaço por veicularem incorreções linguísticas que importa retificar, a bem da língua portuguesa. Não obstante, a opacidade de alguns termos eruditos também poderá merecer uma reflexão de natureza linguística, como nos mostra Carlos Rocha, coordenador executivo do Ciberdúvidas, num apontamento sobre o significado e a origem do termo abléfaro, que surgiu numa questão colocada no programa televisivo Joker, da RTP1.  

2. A nova atualização do Consultório traz também uma dúvida relacionada com o significado de duas palavras parónimas: monção e moção. Trazemos ainda dúvidas que visam diferentes áreas gramaticais, como a pronúncia e a origem do topónimo Maximinos, antiga freguesia de Braga, ou uso do hífen nos nomes compostos raposa-do-deserto, papagaio-verde ou rocha-mãe.  As irregularidades na flexão das palavras levam um consulente a questionar-se sobre a possibilidade de pluralizar o adjetivo ultravioleta. Coloca-se também a questão da correção sintática da construção «Faz-lhe uso». Por fim, uma pergunta sobre a possibilidade de o advérbio  poder funcionar como uma conjunção coordenativa adversativa, sendo equivalente a mas

Segunda imagem: Igreja de Maximinos, em Braga. 

3. A importância do pão na gastronomia latina é por demais conhecida. Como é bem sabido, as realidades extralinguísticas condicionam várias áreas da gramática, como é o caso da criação lexical ou da evolução semântica. É neste contexto que o tradutor e professor Vítor Santos Lindgaard explora, num pequeno artigo divulgado no seu blogue Travessa do Fala-Só, o significado da família de palavras de mica, miga, migalha, migar e ainda nos conta a história de como a palavra sopa começou por significar o pão que se punha no caldo para passar a designar o próprio alimento. 

4. Entre as notícias relacionadas com a língua portuguesa, registe-se:

—  A chegada às livrarias portuguesas da obra Camões conseguiu escrever muito para quem tinha um olho (edições Manuscrito) da autoria da professora Lúcia Vaz Pedro, com lançamento ao público na FNAC do Colombo, em Lisboa, no dia 20 de setembro, às 18h30.

— A apresentação pública, em Lisboa, da Rede de Ensino do Português no Estrangeiro 2019-2020 da responsabilidade do Camões – Instituto da Língua e da Cooperação, no dia 20 de setembro, pelas 9h00, no Auditório do Camões, sessão que conta com a presença do ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, e da secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, Teresa Ribeiro;

—  A publicação no Brasil da obra Escrever na Universidade 2 – Texto e discurso, da autoria de Francisco Eduardo VieiraCarlos Alberto Faraco, com a chancela da Parábola Editorial, um texto que integra um conjunto de três publicações que versam a escrita em contexto universitário. 

5. Temas dos programas de rádio produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa na presente semana:

— A problemática da literatura digital, a propósito do lançamento da obra Voltar a Ler, do poeta e crítico literário António Carlos Cortez, que será o convidado do programa Língua de Todos – transmitido pela RDP África, na sexta-feira, 20 de setembro, pelas 13h20* (com repetição no dia seguinte, pelas 9h15*);

— A importância da língua portuguesa e da literatura  em Angola, no programa Páginas de Português, emitido na Antena 2, no domingo, dia 22 de setembro, às 12h30** (com repetição no sábado seguinte, dia 28 de setembro, às 15h30), com uma conversa com o professor Mário Joaquim Aires dos Reis, leitor do Camões – Instituto da Língua e da Cooperação e docente na Universidade Katyawala Bwila, de Benguela.

* Os programas Língua de Todos e Páginas de Português ficam disponíveis, posteriormente, aqui e aqui.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Em plena atividade, o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa volta às atualizações regulares, trissemanalmente – às segundas, quartas e sextas. Um regresso que, como já é hábito, coincide com o arranque do ano letivo em Portugal, justificando os nossos votos de trabalho profícuo e enriquecedor para alunos e professores, nos próximos meses. É para eles, mas também para quantos fora do ensino formal, onde quer que se fale português, desejam saber mais para o usar melhor, que se destina o labor aqui desenvolvido há mais de 22 anos, desde 15 de janeiro de 1995, data de lançamento destas páginas pelos seus fundadores, João Carreira Bom (1945-2002) e José Mário Costa. Duas décadas materializadas pelo extenso arquivo constituído pelos milhares de respostas do Consultório e pelos não menos numerosos artigos de rubricas como O nosso idioma, Lusofonia, Ensino, Pelourinho ou Antologia, que muito devem à atenção constante de quem as segue e lhes dá incentivo. Reconheçamo-lo: o que aqui se faz é, no fundo, fruto de ação coletiva num espaço em linha, aberto, ao serviço de todos, onde se recolhe, divulga e debate informação à volta das questões que alimentam a unidade e a diversidade desta nossa língua.

Na imagem, Puxada da rede (1959), de Candido Portinari (1903-1962). Fonte: Projeto Portinari.

2. Este dia é, portanto, ocasião para dizer «pronto, já cá estamos outra vez», num jeito coloquial bem típico do português de Portugal. Em O nosso idioma, Carla Marques, consultora permanente do Ciberdúvidas, constrói uma pequena ficção acerca do desenvolvimento de pronto e das suas variantes vulgares "prontos" e "prontes", irritantes bordões linguísticos que inçam a conversação diária dos Portugueses. Na mesma rubrica, transcreve-se coma devida vénia um muito interessante trabalho do tradutor e professor universitário português Marco Neves sobre as origens do alfabeto com que escrevemos: qual a sua origem mais remota? E como se desenvolveu? Um texto que o referido autor assinou no seu blogue Certas Palavras em 13/09/2019.

3. A propósito da escrita, cuja invenção muito deve à economia, que dizer do uso exagerado das siglas nos nossos dias? Em DiversidadesSara Mourato faz breve inventário das abreviaturas que circulam na troca apressada de mensagens.

4. No consultório, pergunta-se: o que significará esgalfo, termo usado na região de Aveiro? Gracioso pode ser sinónimo de gratuito? Estará correto colocar as conjunções (ou advérbios) porémpois no final de uma frase? Não terá Machado de Assis cometido um erro ao escrever a frase «vi-lhe fechar o cofre»? Pode dizer-se que uma ferida "se cicatrizou"? Em que situações se associam vírgulas ao advérbio de afirmação sim? Para rematar, um problema de sintaxe que continua a dar que fazer até aos gramáticos: como distinguir o sujeito do predicativo em frases identificadoras como «o meu amigo é o padrinho»?

5. Em Portugal, as notícias têm dado conta da desgraçada "atualidade" dos incêndios florestais, seguida da inevitável e necessária mobilização de meios de combate, acompanhada de medidas de proteção das populações mais martirizados por este flagelo  repetido na época do verão no país. Inevitável continua, também e infelizmente, o flagelo que constitui ler ou ouvir expressões como «populações  "evacuadas"»... Porque todo o cuidado é pouco, lembramos, uma vez mais, que o verbo evacuar apenas se refere ao esvaziamento de espaços, pelo que o correto é falar em «aldeias/lugares/casas evacuadas». Consulte-se, portanto, as seguintes respostas e artigos: "Evacuar", "Evacuar", "Evacuar indivíduos?", "Os sinistrados foram 'evacuados'", "Evacuação".