Pergunta:
Gostaria de saber em que medida a expressão seguinte configura uma catáfora. O exercício, de um exame de português de 12.º ano, diz assim:
«O recurso à expressão "tudo o que Fernando Pessoa não pode ser" configura uma... Catáfora, reiteração, anáfora ou elipse. (Escolha múltipla)»
As soluções indicam «catáfora».
Contexto: «(...) a verdade é que é de Caeiro que irradia toda a heteronímia pessoana, pois ele é tudo o que Fernando Pessoa não pode ser: uno porque infinitamente múltiplo, o argonauta das sensações, o sol do universo pessoano.»
Neste caso «ele» é o correferente, e «tudo o que o Fernando Pessoa não pode ser», o referente, uma vez que na catáfora o correferente aparece antes do referente?
Gostaria que me elucidassem, pois fiquei confusa.
Obrigada.
Resposta:
A catáfora é um processo linguístico no qual, na linearidade textual, uma expressão remete para uma expressão que surge depois e que constitui a expressão referencial.
Assim, na frase (1), os pronomes ele e a são catafóricos, uma vez que apontam respetivamente para «o João» e «a Maria», grupos nominais que os seguem.
(1) «Ele encontrou-a. A Maria era o que faltava ao João.»
No caso em apreço, a oração «tudo o que Fernando Pessoa não pode ser» predica sobre «ele», mas não encontra a sua referência neste pronome, que, por sua vez, tem como referência Caeiro. A oração em causa aponta para o grupo de palavras que se encontra após os dois pontos (que anunciam exatamente a enumeração do «tudo»). Assim, do ponto de vista semântico, afirma-se que Caeiro é uno, argonauta das sensações e o sol do universo pessoano, ou seja, todas estas realidades que Fernando Pessoa não tem possibilidade de ser.
Disponha sempre!