Pergunta:
Antes de mais, muito obrigado por tantos esclarecimentos que já me deram e parabéns pelo excelente serviço que prestam à língua portuguesa através do vosso portal!
No meu trabalho, é frequente encontrar a expressão “sign in” (por exemplo, “Please sign in to procceed”. Na maioria das vezes, traduzo “sign in” como “inicie sessão”, por economia de espaço, uma vez que as traduções se destinam, maioritariamente, a botões e pequenos campos de texto de aplicações informáticas. Entretanto, em certas ocasiões (quando o espaço e o contexto assim o justificam), também utilizo “inicie uma sessão” (por exemplo, “Para prosseguir, inicie uma sessão na aplicação”).
Acontece que, sempre que opto por esta última fórmula (uma sessão), o revisor de uma das muitas agências para as quais trabalho insiste em classificá-la como “erro de estrutura gramatical”, justificando que “Quando alguém inicia sessão numa conta específica, o que é o caso, essa pessoa não está a iniciar sessão numa conta indefinida”.
Confesso que tenho alguma dificuldade em entender a lógica do revisor, porque “uma” não se refere à conta, mas sim à sessão, pelo que não vislumbro como é que pode fazer com que a conta seja definida ou indefinida. Sempre encarei a escolha entre as duas fórmulas (com e sem “uma”) como opcional (“vou comer bife”/“vou comer um bife”; “vou abrir conta no banco X/”vou abrir uma conta no banco X”), consoante o autor do texto pretenda ser mais ou menos específico.
Estarei errado?
Grato pela atenção.
Resposta:
O uso do artigo indefinido um poderá ter lugar na expressão apresentada, sendo colocado ao serviço de determinadas intenções.
Do ponto de vista semântico, o artigo indefinido um tem várias especificidades. Antes de mais, ao ser usado, pressupõe que a entidade referida pelo nome que ele acompanha existe, embora não se possa identificar:
(1) «Um carteiro tocou à porta.» (a entidade referida como carteiro existe como referência no discurso)
O uso de um pode estar relacionado com a sinalização por parte do locutor de que o seu interlocutor não tem condições para identificar a entidade de que se fala, para além de marcar a ideia de que essa entidade não será única: no caso da frase (1), o interlocutor não conseguirá identificar o carteiro concreto de que se fala e sabe que poderão existir mais carteiros.
Outro aspeto importante é o facto de o artigo indefinido ser usado para introduzir entidades no discurso, como acontece com os famosos inícios de contos infantis («Havia um príncipe…»). Em casos como este último, quando for retomado, o nome príncipe já será acompanhado por artigo definido, uma vez que já é uma entidade integrante do universo de referência.
O uso do artigo indefinido pode também ser associado a uma leitura na qual «o falante usa o sintagma nominal indefinido para referir uma entidade particular do universo do discurso (ou um grupo particular de entidades), indicando, no entanto, ao ouvinte que a identificação dessa entidade (ou grupo) não é importante para o contexto discursivo»1.
Por fim, é também possível um uso do artigo definido em que este não assinala nenhuma entidade em particular, como acontece em (2):
(2) «Ele disse que um aluno poderia vir ao quadro.»<...