Carla Marques - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carla Marques
Carla Marques
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Doutorada em Língua Portuguesa (com uma dissertação na área do  estudo do texto argumentativo oral); investigadora do CELGA-ILTEC (grupo de trabalho "Discurso Académico e Práticas Discursivas"); autora de manuais escolares e de gramáticas escolares; formadora de professores; professora do ensino básico e secundário. Consultora permanente do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacada para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Na frase:

«Descobrir o verdadeiro assassino era uma tarefa para Sherlock.»

O termo «descobrir o verdadeiro assassino» é oração subordinada substantiva subjetiva ou oração subordinada substantiva predicativa?

Como diferenciar subjetiva de predicativa quando uma oração reduzida de infinitivo vem seguida de verbo ser mais artigo e um termo substantivado?

 

Resposta:

A oração «descobrir o verdadeiro assassino» é uma subordinada substantiva subjetiva.

A questão colocada não está relacionada diretamente com a natureza da oração, que se comporta como um substantivo, mas com a natureza da frase copulativa.

A frase apresentada tem uma estrutura equativa, o que significa que tanto pode ser apresentada na ordem canónica (sujeito + verbo + predicativo do sujeito) como na ordem inversa (predicativo do sujeito + verbo + sujeito).

Assim sendo, para identificar a função sintática desempenhada pelos constituintes da frase, importa, antes de mais, determinar em que ordem esta se encontra. Um dos testes que poderá ser utilizado para esta identificação passa pelo recurso à construção SER… QUE, que permite colocar o enfoque no elemento à esquerda do verbo na ordem canónica, o que conduz à identificação do sujeito (mais informações aqui). Assim:

(1) «Era descobrir o verdadeiro assassino que era uma tarefa para Sherlock?»

(2) «*Era uma tarefa para Sherlock que era descobrir o verdadeiro assassino?»

O facto de a frase (2) não permitir a clivagem mostra que o grupo nominal «uma tarefa para Sherlock» não é o elemento que se encontra à esquerda do verbo, logo a frase apresentada encontra-se na ordem canónica.

Outro teste que poderá ser utilizado para identificar a ...

Pergunta:

Há algum teste para identificarmos se o regime se prende com o nome ou com o adjetivo?

Nesta frase de Camilo Castelo Branco: «Não acho oportuna a ocasião para zombarias.»

Nesse exemplo, para é regime de oportuna ou de ocasião?

Se não houvesse o artigo a, portanto, se a frase de Camilo fosse: «Não acho oportuna ocasião para zombarias» – haveria mudança de interpretação quanto ao regime?

Muito obrigado pelo vosso excelente trabalho!

Resposta:

Na frase apresentada, a interpretação preferencial será a de que a preposição para é regida pelo adjetivo.

A identificação do regime /regência de uma palavra depende da interpretação do comportamento sintático-semântico que esta assume numa frase.

Para identificar o seu funcionamento, poderemos usar alguns processos. Antes de mais, recorde-se que, quando uma palavra se relaciona estreitamente com outra, estas formam um grupo de palavras que desempenham como um todo uma função sintática. Analisemos a primeira frase apresentada, aqui identificada como (1), aplicando-lhe o teste da pronominalização:

(1) «Não acho oportuna a ocasião para zombarias.»

(1a) «Não a acho oportuna para zombarias.» 

Através deste teste, poderemos concluir que o adjetivo oportuna não integra o grupo nominal cujo núcleo é ocasião, pelo que se conclui que o adjetivo não modifica diretamente este nome, mas forma, antes, um grupo adjetival com o constituinte «para zombarias». Esta estrutura sintática é confirmada pelo facto de o constituinte “para zombarias” não ser assimilado pela pronominalização, como se verificou em (1a). Esta manipulação frásica permite também concluir que é o adjetivo oportuna que rege a preposição para.

Note-se ainda que, se omitíssemos o adjetivo oportuna da frase, o grupo preposicional «para zombarias» assumiria a função de predicativo do complemento direto:

(2) «Não acho a ocasião para zombarias.»

(2a) «Não a acho para zombarias.»

 O grupo «oportuna para zombarias» é, portanto, independente e desempenha a função sintática de predicativo do complemento direto. Trata-se, des...

Regressar
Um verbo do mês de setembro

Com o mês de setembro a começar, a professora Carla Marques analisa o verbo regressar, cotejando os sentidos dicionarizados com os da vida real.

 

*Crónica emitida no programa Páginas de Português, na Antena 2, no dia 5 de setembro de 2021.

Férias e féria
Um caso de singular e plural com sentidos diferentes

A palavra férias e a sua forma singular féria são o ponto de partida da crónica* da professora Carla Marques, que explora a sua significação desde a origem e passando por outras palavras da mesma família.

 

 

*Crónica emitida no programa Páginas de Português, na Antena 2, no dia 1 de agosto de 2021.

Avançar e recuar
Do espacial ao valorativo

Os verbos avançar e recuar têm, na sua base, uma significação espacial. Todavia, a sua significação evoluiu no sentido de lhes permitir valorar pessoas e situações, como explica a professora Carla Marques na sua crónica  emitida no programa Páginas de Português, na Antena 2, no dia 18 de julho de 2021.