Carlos Marinheiro - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Marinheiro
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Carlos Marinheiro (1941–2022). Bacharel em Jornalismo pela Escola Superior de Meios de Comunicação Social de Lisboa e ex-coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Colaborou em vários jornais, sobretudo com textos de análise política e social, nomeadamente no Expresso, Público, Notícias da Amadora e no extinto Comércio do Funchal, influente órgão da Imprensa até ao 25 de Abril.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

O que significa «nunca digas desta água não beberei»?

Resposta:

O Dicionário Prático de Locuções e Expressões Correntes, de Emanuel de Moura Correia e Persília de Melim Teixeira, edição da Papiro Editora, regista a expressão «não dizer desta água não beberei», com o significado de «não se julgar livre de fazer aquilo que condena nos outros».

Pergunta:

Qual a origem da palavra portuguesa jogo: jocu, ou ludus [em latim]?

Resposta:

O substantivo (nome) jogo deriva do «lat[im] jocus,i, "gracejo, graça, pilhéria, mofa, escárnio, zombaria", que desbancou, no vulg[ar], o lat[im] cl[ássico] ludus,i, "jogo, divertimento, recreação"; (...) ; f[orma] hist[órica] sXV joguos, 1716 Jogos Nemeos».

Geralmente, a palavra jogo é a «designação genérica de certas atividades cuja natureza ou finalidade é recreativa; diversão, entretenimento».

[Fonte: Dicionário Eletrônico Houaiss]

Pergunta:

A alínea d) do art.º 185.º do regulamento do contrato de trabalho em funções públicas refere que se consideram justificadas as faltas «motivadas por impossibilidade de prestar trabalho devido a facto que não seja imputável ao trabalhador, nomeadamente doença, acidente ou cumprimento de obrigações legais».

O nomeadamente, como já li numa resposta dada aqui (24 817), não significa «circunscrever», podendo abarcar outras situações para além daquelas referidas a título principal, não é verdade? Como afirmam, «não ficam obrigatoriamente esgotadas todas as possibilidades, quando se enumeram algumas hipóteses após o seu emprego, apenas implica que enunciamos as mais importantes».

Contudo, numa outra resposta (4684) é dito que nomeadamente significa «designando o nome» circunscrevendo aos nomes aí referidos. Em que é que ficamos? Em que situações é que circunscreve e em que situações isso não acontece? E na questão que coloco, o que se deve entender?

Obrigada.

Aguardo resposta breve.

Resposta:

O advérbio nomeadamente significa «em particular; especialmente; sobretudo; principalmente; mormente».

No caso concreto que nos apresenta, «consideram[-se] justificadas as faltas motivadas por impossibilidade de prestar trabalho devido a facto que não seja imputável ao trabalhador». Assim, todas as faltas originadas por «facto que não seja imputável ao trabalhador» consideram-se justificadas. O nomeadamente que se segue dá-nos «doença, acidente ou cumprimento de obrigações legais» como exemplos a distinguir. Na resposta anterior Designadamente = nomeadamente, a nossa consultora, Teresa Álvares, dizia, com alguma razão, que «É uma muleta da linguagem da Administração Pública, que se utiliza noutros sectores da vida portuguesa e, por vezes, dificulta a compreensão dos textos».

O contexto da resposta Nomeadamente, de novo é outro; o consulente apresenta como exemplo a frase «Os quatro maiores partidos portugueses, nomeadamente o PS, PSD, PCP e PP, terão mais de 5% de votos», e o nosso consultor, José Neves Henriques, afirmou que estava correcto, dado que, nesta situação, a palavra nomeadamente «significa "designando o nome, designadamente"». Ao referir «os quatro maiores partidos portugueses», acrescenta-se o nome de todos eles, até como informação para os leitores que desconheçam o nome desses partidos.

Pergunta:

Qual é a origem etimológica da palavra patrulha ou patrulheiro?

Obrigada.

Resposta:

A palavra patrulha deriva do «fr[ancês] patrouille (1559), "ronda de vigilância efetuada por um destacamento militar, civil ou de polícia", [derivado] regr[essivo] do v[erbo] patrouiller, "patrulhar"; segundo JM [José Pedro Machado], pelo esp[anhol] patrulla, "id."». Quanto a patrulheiro, vem de «patrulha + -eiro».

O nome (substantivo) patrulha é, essencialmente, um termo militar, tratando-se de «pequeno destacamento de soldados encarregado de fazer rondas»; «força militar de pequeno efectivo com missões de combate ou reconhecimento»; «grupo de aviões de combate com a missão de interceptar aviões inimigos»; e «navio de guerra com a missão de vigiar as águas oceânicas ou o litoral». Ainda se pode tratar de «grupo de pessoas encarregadas de vigiar determinada zona com o fim de manter a segurança e a ordem pública» ou «ronda de vigilância».

[Fontes: Dicionário Eletrônico Houaiss e Dicionário da Língua Portuguesa 2008, da Porto Editora]

Pergunta:

Ouço nas rádios: «Chove forte na região sul.» E «Chove fraco em Santa Maria/RS».

As duas formas estão certas, ou nenhuma? Obrigado.

Resposta:

A palavra forte quer dizer, entre outras coisas, «que sopra ou se move com muita rapidez e força (diz-se de vento, corrente, terremoto)»; e pode dizer-se do verbo chover. Mais propriamente, «chove forte» é o mesmo que «chove muito».

Por outro lado, fraco significa, no contexto, «pouco intenso», ou seja, «chove com pouca intensidade».

Embora, tradicionalmente, se impusessem restrições ao uso adverbial de adjectivos como forte e fraco, a verdade é que o Dicionário UNESP do Português Contemporâneo, coordenado por Francisco S. Borba (São Paulo, Editora UNESP, 2004), atesta tal emprego: «O pulso batia um pouco mais forte» e «Ângela respirou, mas muito fraco».

Em conclusão, as «duas formas estão certas», e são simples, como deve ser a linguagem da rádio, a fim de ser entendida por todos os ouvintes.

[Fonte: Dicionário Eletrônico Houaiss]