Quando pensamos na génese do romantismo português, a experiência do exílio dos nossos primeiros românticos é tida por fundamental: Garrett e Herculano, obrigados, por circunstâncias de perseguição política miguelista, ao exílio em Inglaterra e França, apreenderam os elementos-base da sensibilidade romântica europeia: o herói excessivo, também marginalizado, que em si encerra um destino pátrio, como no Camões (1825), de Garrett; aproximação às origens ou momentos fortes da consciência nacional, convergindo em ficção, drama ou poesia de carácter histórico. As liberdades formais (na mistura de géneros, p. ex.) e novos mecanismos de caracterização das personagens – desde figuras inesperadas ao jogo de oposições violentas entre elas – são outras conquistas, que visavam atrair um público ainda analfabeto, com que se jogava a sorte de autor que começa a profissionalizar-se, mas também a do editor ou proprietário de jornais e revistas, que facultam outras tribunas de debate democrático e aculturador. Na prática, por interposto exílio – que amadurecia inteligências – e emergência de país demo-parlamentar, a sensibilidade romântica procurou cumprir-se fazendo tudo pelo e para o povo, em que a literatura (sobretudo em forma de teatro ou servindo-se do jornalismo) teve parte importantíssima.