Pode falar de «fenómeno sintáctico» se estiver a referir-se a um processo ou mecanismo sintácticos (por exemplo, concordância e a elipse), muito embora o Dicionário Terminológico indique o «processo sintáctico» como termo a aplicar.
A palavra recurso costuma ser usada em estudos literários para designar certos efeitos linguísticos mobilizados com intenção estética. Um recurso sintáctico é, portanto, uma estrutura sintáctica da qual se tira partido literário; por exemplo, a deslocação de certos constituintes para os tornar semanticamente salientes ou para facilitar a estrutura métrica e rimática, como acontece frequentemente em Os Lusíadas, de Luís de Camões (estâncias 122 e 123):
«Quando um gesto suave te sujeita.
Vendo estas namoradas estranhezas,
O velho pai sesudo, que respeita
O murmurar do povo e a fantasia
Do filho, que casar-se não queria,
Tirar Inês ao mundo determina,
Por lhe tirar o filho que tem preso,
Crendo co sangue só da morte ladina
Matar do firme amor o fogo aceso.
[...]»
Note-se a deslocação dos constituintes sintácticos na sequência «O velho pai sesudo [...]/Tirar Inês ao mundo determina», na qual a oração completiva «tirar Inês ao mundo» precede o verbo que a selecciona, «determina», contrariando a ordem de palavras mais frequente (canónica) — «O velho pai sesudo determina tirar Inês ao mundo». A posição não canónica da oração completiva, por um lado, permite a rima com «ladina», no verso «Crendo co sangue só da morte ladina» e, por outro, salienta a oração «tirar Inês ao mundo» logo no início de uma nova estância, aumentando o efeito de choque da decisão do «velho pai sesudo».