Na língua latina, a segunda pessoa do singular era usada para qualquer interlocutor qualquer que fosse a sua categoria, e a segunda pessoa do plural era usada para vários interlocutores. Ao longo dos tempos, a segunda pessoa do plural passou também a ser usada para um só interlocutor considerado de categoria superior. Esta evolução é evidente na língua francesa, em que o interlocutor com o qual não temos intimidade é tratado na segunda pessoa do plural (vous).
Porém, no português europeu, o interlocutor desconhecido ou com o qual se faz alguma deferência é tratado na terceira pessoa do singular1. O uso da terceira pessoa é uma forma de delicadeza, porque nos colocamos a maior distância da pessoa que nomeamos.
Contudo, é preciso distinguir entre Vossa Excelência e Sua Excelência, como adverte Evanildo Bechara, na sua Moderna Gramática Portuguesa (2002, pág.166):
«Emprega-se Vossa Alteza [e demais (formas de reverência)] quando 2.ª pessoa, isto é, em relação a quem falamos; emprega-se Sua Alteza [e demais (formas de reverência)] quando 3.ª pessoa, isto é, em relação à de quem falamos».
Por isso, quando nos dirigimos ao Presidente da República, dizemos: «Vossa Excelência anunciou... comunicou... esclareceu etc.». Mas, quando nos referimos a ele, diremos: «Sua Excelência, o Presidente da República, anunciou... comunicou... esclareceu... etc.»
1 No Brasil, a forma de tratamento de segunda pessoa do singular, de uso corrente, é você, usada geralmente com formas verbais e possessivos da terceira pessoa do singular.