Tenho memória de me ter cruzado com SEXA, para significar «S. Ex.ª» ou «Sua Excelência», e também com VEXA, para significar «V. Ex.ª» ou «Vossa Excelência», em documentação administrativa com pelo menos mais de 20 ou 30 anos. Penso que quer o SEXA quer o VEXA tiveram uso mas depois terão perdido curso. O que neste momento vejo, isso sim, em registo informal e irónico, designadamente nas redes sociais, é o uso de "Vexa", com maiúscula inicial, no que me parece ser uma forma polida de evitar aquilo a que vulgarmente se designa por o «você estrebaria», ou seja, um uso de você tido como indelicado e rude. É possível que este "Vexa" seja uma espécie de «filho bastardo» do VEXA.
A permanência de SEXA, que refere, e eventualmente também de VEXA, ademais «gritados» pelo uso das maiúsculas, parece-me algo esdrúxula, por existirem S. Ex.ª e V. Ex.ª. É possível que tenham começado a ser usados e depois, por tradição administrativa, replicados acriticamente. Esse que viu pode ser ainda uma sobrevivência desses tempos…
Admito que possam ter sido cunhados como uma particular forma de distinção, mas, a ser assim, o uso das maiúsculas, equivalente no texto escrito a um grito, rompe "gritantemente" com o protocolo tradicional de escrita.
O uso de abreviaturas é – como se sabe – uma área algo fluida, pouco regulamentada e onde ocorrem com frequência situações abstrusas. Estes dois casos parecem-me particularmente danosos e agravados pela conexão óbvia entre SEXA e sexo e VEXA e o presente do indicativo do verbo vexar, violando também aqui uma regra de ouro da translineação de palavras, e por analogia extrapolável para a formação de siglas, abreviaturas e acrónimos, evitar maximamente leituras espúrias.
Ou seja, SEXA e VEXA violam os protocolos de escrita:
• por, pela sua formação, não configurarem uma abreviatura imediatamente inteligível, acabando por ser duas reduções de expressões compostas: Sua EXcelênciaA e Vossa EXcelênciaA
• pelo uso das maiúsculas, equivalente a um grito.
• por permitirem leituras espúrias com sexo e vexa.
Acresce a sua absoluta desnecessidade, por já termos os reconhecíveis por todos S. Ex.ª e V. Ex.ª. A este propósito, refira-se que o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) da Academia de Ciências de Lisboa (Lisboa: Imprensa Nacional, 1940) regista S. Ex.ª e V. Ex.ª como abreviaturas das formas de tratamento «Sua Excelência» e «Vossa Excelência». E o recentíssimo 3.º e último volume da Gramática do Português (Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2020), demonstra que a prática atual não se afasta muito da norma (ou do registo-padrão) de há 80 anos, quando refere:
«Estas expressões [Sua Excelência e Suas Excelências] são abreviadas na escrita em S. Ex.ª e SS. Ex.as ou SS. Exas. [...]» (p. 2726).
«[Vossa Excelência] é abreviado, na escrita, em V. Ex.ª/VV. Ex.as ou V. Exa/V. Exas.» (p. 2725).
Ainda sobre o uso de "Vexa", com minúsculas e/ou com maiúscula inicial, a que aludimos em cima, a mesma Gramática também refere: «Na língua falada informal, pronuncia-se, por vezes, por ironia, [vɛʃɐ]vexa» (ibidem, nota 46).
Em suma, não encontrámos bibliografia ou obras de referência que possam chancelar o uso das formas SEXA e VEXA na perspetiva da norma-padrão.