Consultório - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Respostas Consultório Tema: Formas de tratamento
Lucas Tadeus Oliveira Estudante Mauá, Brasil 1K

Pensava eu que só em Portugal se dizia «Para/a si, de si, por si, consigo» fora do valor reflexivo, mas leio Nelson Rodrigues e tenho uma surpresa com a reprodução dum diálogo:

«Dr. Alceu, reze menos por mim. Se quiser, não reze nada. Mas seja meu amigo. Apenas isso: — meu amigo. E, se insiste em rezar, vamos fazer uma permuta: o senhor reza por mim e eu rezo POR SI.»

A crônica foi escrita em dezembro de 1967, mas o facto deve ter ocorrido uns dez anos antes, pelo que conheço do coleguismo de Alceu Amoroso e Nelson Rodrigues.

A primeira pergunta é: o autor estava imitando um procedimento típico de Portugal ou já existia no Rio à época? Fico um tanto dúbio porque até a primeira metade do século XX lá ainda se usava a segunda pessoa do singular corretamente. Quando surgiu este valor do pronome si em Portugal? Isto é, quando deixou de ter só valor reflexivo?

Rodrigo Monteiro Engenheiro Coimbra, Portugal 4K

Sou frequentemente corrigido desde que decidi – de acordo com o plasmado no livro de português adoptado para o 7.º ano de escolaridade – utilizar o pronome obliquo tónico com preposição consigo na presença dos pronomes pessoais você/ele/vocês/eles. Gostaria de saber se nas frases que se seguem o uso do pronome em causa está correcto:

1. Você viu o Agnelo, o meu filho mais novo? Eu presumi que ele estivesse consigo!

2. Vocês são responsaveis por estes dois casais de idosos. Eles deverão permanecer o maior tempo possível consigo aqui na sala de estar.

3. Patrão, eu entreguei a guia de transporte ao Mascarenhas, tenho a certeza!A guia tem de estar consigo.

4. Eles são os peregrinos mais obstinados e asseadinhos que conheço! Vou para todo o lado consigo...Lourdes, Compostela...

Em meu entender apenas será consensual porque coloquial usar o consigo na primeira frase, usando-se na segunda frase o «com vocês», na terceira o «com ele» e na quarta o «com eles». Gramaticalmente será correcto usar o "consigo" nas quatro frases?

Muito obrigado, desde já.

Carlos Garcia Professor Porto Alegre, Brasil 2K

Na tradução da fábula "O lobo e o cordeiro", deparei-me com a palavra sire (título antigo dado aos reis e aos senhores feudais), seguido do pronome "Vossa Majestade" (em francês: «Sire, répond l'agneau, que Votre Majesté..».). Gostaria de saber se se pode permutar o pronome Senhor (pensei em usá-lo no lugar de Sire) pelo de Vossa Majestade.

Obrigado.

Maria Aparicio Frade Estudante Badajoz, Espanha 4K

Tenho imensas dúvidas em relação às formas pronominais correspondentes a um sujeito vocês. Na minha gramática unicamente aparecem como formas pronominais para este sujeito as formas de complemento direto – os/as – e a forma de complemento indireto – lhes. Porém, eu sempre ouvi para ambos os casos o pronome vos, o qual segundo a gramática corresponde unicamente a um sujeito vós. Então, que é o correto para um sujeito vocês:

a) «queria comunicar-lhes a notícia», ou «queria comunicar-vos a noticia»?

b) «gostava que o professor lhes desse uma boa nota», ou «vos desse uma boa nota»?

c) «encontrei-os na rua (a vocês)», ou «encontrei-vos na rua»?

E a mesma dúvida para o caso dos possessivos:

d) «os vossos livros (de vocês) são caros», ou «os seus livros são caros»?

Qual é o correto e como se deveria ensinar?

Muito obrigada e parabéns pelo maravilhoso site.

Sandra de Oliveira Autônoma Cosmópolis, Brasil 6K

Meu pai vive discutindo comigo quando pronuncio coloca ao invés de dizer coloque, como, por exemplo, em «Pai, coloca lá pra mim», mas ele diz que é falta de respeito falar assim. Para ele, o correto é dizer «Pai, coloque lá pra mim».

Gostaria de saber qual é o certo.

Ana Maciel Tradutora Porto, Portugal 6K

Verifico com bastante frequência, como tradutora e também como revisora, que, perante a impossibilidade de usar você ou tu, a língua não nos apresenta alternativa viável, havendo casos em que a solução de ausência de termo torna difícil entender que nos dirigimos ao leitor, que o sujeito é ele.

Mais do que uma pergunta, sinto que é hora de lançar um desafio aos linguistas: faz falta uma solução educada e não ofensiva para nos dirigirmos ao outro.

Sinto que, na procura por um grau de tratamento polido, nos enrolámos, criando um beco sem saída.

Rosário R. Jurista Porto, Portugal 18K

Director-presidente, ou Director-Presidente?

Ana Russo Profissional RVC Amadora, Portugal 10K

Por que motivo não devemos tratar uma pessoa licenciada por dona? E porque devemos usar o termo Dra.?

Maria Júlia Correia Artista Lisboa, Portugal 7K

Tenho visto várias vezes em livros o uso do tratamento tu para a realeza. Gostaria de saber se é errado, ou se é possível utilizar esta forma de tratamento em vez vós.

Gonçalo Santos Professor Lisboa, Portugal 13K

Numa resposta à pergunta intitulada Nós/a gente; vós/vocês, a propósito da substituição do pronome vós pelo pronome vocês nos dialectos centro-meridionais da variante europeia da língua, é citada a Gramática Histórica de 1921, onde já se observa que, «dirigindo-nos a mais de um indivíduo, servimo-nos hoje de vocês como plural semântico de tu». O que eu gostaria de saber, se possível, era se é certo que tal fenómeno terá ocorrido previamente na variante brasileira (e se há registos que nos permitam datar de forma aproximada a sua emergência) e quando é que essa evolução começou a fazer-se sentir em Portugal, pelo menos no eixo Lisboa-Coimbra. Já agora, aproveitaria também para perguntar, de forma muito concreta, se é possível que em meados do século XVIII tal fenómeno já fosse comum na fala de pelo menos parte dos portugueses?