DÚVIDAS

Formas de tratamento, pronomes pessoais e possessivos
Tenho duas dúvidas diferentes. A primeira é: quando estou a falar com uma pessoa extremamente mais velha do que eu, uma senhora de 80 anos, por exemplo, posso utilizar os termos “si, consigo” mesmo que eu saiba o nome da senhora? Caso eu não tenha uma relação próxima com a senhora, seria falta de educação perguntar, por exemplo: «Está tudo bem consigo, Dona Maria?» Gostava de saber se é suficientemente formal. A segunda dúvida é: Quando estou a falar com duas ou mais pessoas, considerando que eu as trato por “você”, um senhor e uma senhora, por exemplo, seria apropriado dizer termos como “convosco, vosso”? Para expressar alguma formalidade, o correto seria dizer: «Está tudo bem convosco?» ou «Está tudo bem com vocês?» Sei que “os senhores” também seria uma opção, mas não estou a referir-me a uma situação demasiado formal. Agradeço desde já.
O uso de si como 2.ª p. do singular
Pensava eu que só em Portugal se dizia «Para/a si, de si, por si, consigo» fora do valor reflexivo, mas leio Nelson Rodrigues e tenho uma surpresa com a reprodução dum diálogo: «Dr. Alceu, reze menos por mim. Se quiser, não reze nada. Mas seja meu amigo. Apenas isso: — meu amigo. E, se insiste em rezar, vamos fazer uma permuta: o senhor reza por mim e eu rezo POR SI.» A crônica foi escrita em dezembro de 1967, mas o facto deve ter ocorrido uns dez anos antes, pelo que conheço do coleguismo de Alceu Amoroso e Nelson Rodrigues. A primeira pergunta é: o autor estava imitando um procedimento típico de Portugal ou já existia no Rio à época? Fico um tanto dúbio porque até a primeira metade do século XX lá ainda se usava a segunda pessoa do singular corretamente. Quando surgiu este valor do pronome si em Portugal? Isto é, quando deixou de ter só valor reflexivo?
O pronome consigo (português de Portugal)
Sou frequentemente corrigido desde que decidi – de acordo com o plasmado no livro de português adoptado para o 7.º ano de escolaridade – utilizar o pronome obliquo tónico com preposição consigo na presença dos pronomes pessoais você/ele/vocês/eles. Gostaria de saber se nas frases que se seguem o uso do pronome em causa está correcto: 1. Você viu o Agnelo, o meu filho mais novo? Eu presumi que ele estivesse consigo! 2. Vocês são responsaveis por estes dois casais de idosos. Eles deverão permanecer o maior tempo possível consigo aqui na sala de estar. 3. Patrão, eu entreguei a guia de transporte ao Mascarenhas, tenho a certeza!A guia tem de estar consigo. 4. Eles são os peregrinos mais obstinados e asseadinhos que conheço! Vou para todo o lado consigo...Lourdes, Compostela... Em meu entender apenas será consensual porque coloquial usar o consigo na primeira frase, usando-se na segunda frase o «com vocês», na terceira o «com ele» e na quarta o «com eles». Gramaticalmente será correcto usar o "consigo" nas quatro frases? Muito obrigado, desde já.
A forma de tratamento vocês, o pronome átono vos e o possessivo vosso (II)
Tenho imensas dúvidas em relação às formas pronominais correspondentes a um sujeito vocês. Na minha gramática unicamente aparecem como formas pronominais para este sujeito as formas de complemento direto – os/as – e a forma de complemento indireto – lhes. Porém, eu sempre ouvi para ambos os casos o pronome vos, o qual segundo a gramática corresponde unicamente a um sujeito vós. Então, que é o correto para um sujeito vocês: a) «queria comunicar-lhes a notícia», ou «queria comunicar-vos a noticia»? b) «gostava que o professor lhes desse uma boa nota», ou «vos desse uma boa nota»? c) «encontrei-os na rua (a vocês)», ou «encontrei-vos na rua»? E a mesma dúvida para o caso dos possessivos: d) «os vossos livros (de vocês) são caros», ou «os seus livros são caros»? Qual é o correto e como se deveria ensinar? Muito obrigada e parabéns pelo maravilhoso site.
Alternativas a você e tu
Verifico com bastante frequência, como tradutora e também como revisora, que, perante a impossibilidade de usar você ou tu, a língua não nos apresenta alternativa viável, havendo casos em que a solução de ausência de termo torna difícil entender que nos dirigimos ao leitor, que o sujeito é ele. Mais do que uma pergunta, sinto que é hora de lançar um desafio aos linguistas: faz falta uma solução educada e não ofensiva para nos dirigirmos ao outro. Sinto que, na procura por um grau de tratamento polido, nos enrolámos, criando um beco sem saída.
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