A diferença entre sistema e norma explica, como o consulente reconhece, que nem tudo o que se possa dizer numa língua se deva dizer. É o caso de “expandível”, que, embora possível no sistema linguístico português, foi substituído pela forma alatinada expansível. Recordo que, a partir do Renascimento, o português adaptou inúmeras palavras latinas num processo que levou à existência de formas divergentes; por exemplo, adro e átrio derivam do latim ‘atriu’, mas a primeira terá surgido por via popular, e a segunda, por via erudita, não exibindo as transformações típicas do latim ao português.
No caso de expandir, temos um verbo que, segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, está atestado a partir de 1814. Se a partir de transferir se forma o adjectivo transferível, porque é que não se pode dizer expandível? Os dicionários consultados não são muito esclarecedores: o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea não regista expansível nem “expandível”; o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa e o Grande Dicionário da Língua Portuguesa só registam expansível.
Uma consulta dos ‘corpora’ disponíveis em linha pode ser mais útil. No CETEMPúblico, expansível ocorre 45 vezes, mas “expandível” nunca parece. No entanto, quem utilizar o motor de buscas Google verificará que expandível está a ter uma frequência apreciável (até à data desta resposta, 776 ocorrências).
Cabe, porém, assinalar que expansível parece fazer parte de um grupo especial de adjectivos em -vel. Normalmente, estes adjectivos formam-se a partir de um tema verbal (por isso, se chamam deverbais). Este tema é o do passado do verbo, o que explica que se diga bebível (bebido) e não *“bebével” (forma hipotética). No caso de expansível, extensível e compreensível, por exemplo, a base de derivação é a do supino do verbo latino que constitui o étimo do verbo em português: ‘expansum (‘expandĕre’ > expandir); ‘extensum’ (‘extendĕre’ > estender); ‘comprehensum’ (‘comprhendere’ > compreender).
Em síntese, diz-se e escreve-se extensível, porque a relatinização do vocabulário português, sobretudo a partir do século XVI, assim o impôs. A forma “expandível”, apesar de regular, é vista como um erro.