Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
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Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Por que que motivo se designa o género masculino como não marcado?

Resposta:

A razão de se dizer que o masculino é o género não marcado tem que ver com o seu uso no plural, em enunciados que têm referentes dos dois géneros, masculino e feminino. Ex.:

(1) «O rapaz alto e a rapariga alta casaram-se.»

(2) «O rapaz e a rapariga altos casaram-se.»

Note-se que a estrutura de coordenação entre «rapaz» e «rapariga» não permite que o adjetivo alto ocorra no plural feminino: é claramente incorreto dizer-se «O rapaz e a rapariga altas casaram-se».

Pergunta:

Qual a grafia correcta em português: Plistocénico, ou Pleistocénico? Designa a parte mais antiga do Quaternário. Deriva do grego pleisto (máximo, maior...).

Obrigado.

Resposta:

O elemento de composição em causa pode assumir as duas formas, plisto- e pleisto-: plistoceno e pleistoceno. No entanto, os dicionários gerais consultados ou remetem a forma pleistoceno para plistoceno (Houaiss e Porto Editora) ou simplesmente registam plistoceno (Academia das Ciência de Lisboa), o que sugere preferência por plistoceno. Sobre o elemento compositivo plisto, lê-se no Dicionário Houaiss (s. v. plisto-):

«antepositivo, do gr. pleîstos, é, on, "o mais numeroso, numerosíssimo", superlativo de polús [...]; ocorre em cultismos do sXX, alguns com a variante menos canônica pleisto-: pleistocênico/plistocênico, [pleistoceno]/plistoceno [...].»

Refira-se que plistoceno pode ser usado como adjetivo (tendo por alternativa a forma plistocénico) ou como substantivo, neste caso, escrito com inicial maiúscula, Plistoceno (Dicionário Houaiss). É termo usado na história geológica, que significa «diz-se de ou época cenozóica, mais nova que o Plioceno e mais antiga que o Holoceno». Do ponto de vista morfológico, é formado, como se disse, pelos elementos de origem grega plisto-, de pleistos, «muitíssimo», e -ceno, de kainós, «novo, recente» (cf. Houaiss...

Pergunta:

Como classifico a palavra rapazola? É um substantivo no grau normal, derivado de rapaz, ou é um substantivo aumentativo, ou é um substantivo diminutivo? Ou tem outra classificação?

Resposta:

Pode considerar-se historicamente um diminutivo, uma vez que o sufixo -ola tem valor diminutivo (cf. Dicionário Houaiss). No entanto, a palavra rapazola fixou-se na língua com um significado próprio, que não é a rigor o de «rapazinho», mas, sim, o de «rapaz já crescido» e «homem que nos atos parece ainda rapaz» (Dicionário Priberam da Língua Portuguesa). Ou seja, atualmente, apesar de parecer um diminutivo, é também interpretável como um substantivo no grau normal.

Pergunta:

Alodínia é uma dor provocada por um estímulo não doloroso (por exemplo, cefaleias provocadas pela colocação de lentes de contacto ou de brincos). A palavra tem acento agudo?

Obrigado.

Resposta:

O termo em questão tem acento tónico na penúltima sílaba (-ni-) e escreve-se alodinia (substantivo feminino), sem qualquer acento. Significa «deslocação da perceção sensitiva dolorosa para lugar homólogo de outro lado do corpo» (Dicionário de Termos Médicos, da Porto Editora, na Infopédia) e é um composto erudito, cujos elementos constituintes têm origem grega: alo-, «outro, um outro; diferente, estrangeiro» + grego odýne, «dor» + -ia.

Pergunta:

Gostaria de saber qual a forma correcta: «ser do Éden», ou «ser de Éden»?

Muito obrigada.

Resposta:

O nome próprio Éden é usado com artigo definido, como comprova a própria definição de edénico no Dicionário Houaiss (sublinhado meu): «relativo ou pertencente ao Éden.»