Consultório - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Respostas Consultório Campo linguístico: Estrangeirismos
Álvaro Faria Ator Lisboa, Portugal 1K

É aceitável escrever Nikšić (cidade do Montenegro)? Como aportuguesar? "Niksich"?

Obrigado.

Daniel Santos Revisor Lisboa, Portugal 6K

Qual a melhor opção de sinónimo para «encontrar coisas em comum»:

1. Tentou encontrar comumnalidades entre elas.

2. Tentou encontrar comunalidades entre elas.

Já vi várias vezes ser utilizada a primeira opção em trabalhos académicos, mas no dicionário da Infopédia apenas surge o segundo vocábulo. Existe alguma alternativa mais correta?

Obrigado.

Armando Dias Reformado Lagos, Portugal 1K

Depois do Brexit, eis um derivado do termo inglês mais propalado nos media portugueses dos últimos tempos já com circulação mais do que garantida: Mayexit. Gostava de ter um comentário da equipa do Ciberdúvidas.

Muito obrigado.

Mónica Rodrigues Tradutora Salisbury, Reino Unido 2K

Recentemente, tive conhecimento que a palavra rímel não deve ser utilizada porque é uma marca de "máscara de pestanas". Dicionários como a Infopédia e o Priberam continuam a ter esta palavra listada como termo para definir "máscara de pestanas". O mesmo acontece em relação a outras marcas, como gilete e kispo.

Não se pode mesmo utilizar estes termos por serem marcas comerciais?

Luís Jervell Administrador de empresas Porto, Portugal 3K

Está correto "reendoutrinar" (cf. re-indoctrinate)?

«A intenção de se introduzirem e re-endoutrinarem os fiéis com princípios anti-Igreja.»

Wilhelm Zetzsche Ex-editor de publicações 2K

* Aportuguesamento da marca registada X-ACTO®

Por simples análise à palavra x-acto [ɛks-aktou], fica evidente que a corruptela X-ATO, tanto em forma escrita como fonética, e outras semelhantes da marca X-ACTO® [ɛks-æktou] resulta[m] do afastamento erróneo do dífono [cs] representado pela letra xis na sua primeira sílaba x-, cuja pronúncia [ɛks] é completamente desarticulada mediante a sua substituição pela forma escrita xis, que é o nome da própria letra. Na sequência fonética x-acto [ɛks-æktou], a articulação do xis é insuprível pelo seu próprio nome, na medida em que o xis aqui não é uma figuração ou adjectivo de incógnita ou unidade desconhecida, mas o xis do alfabeto latino pronunciável pelo dífono [cs] com o apoio vocálico [ɛ].

* Origem e formação da marca registada X-ACTO®

Ao decompor-se a marca X-ACTO®, pronunciada em inglês [ɛks-æktou], fica demonstrado que a sílaba inicial X- originalmente é uma corruptela criada de propósito (ainda no início dos anos 1930) com o adjectivo castelhano exacto, que se pronuncia [ɛks-aktou] para se chegar à escrita truncada X-ACTO, porém mantendo sempre a mesma pronúncia [ɛks-aktou]; e para esse fim a vogal e- foi suprimida no início da primeira sílaba ex- na sequência fonética do adjectivo em castelhano exacto, cuja grafia, por acaso, então em 1930, era igual à grafia de igual adjectivo em português, e articulado de modo quase igual. Aliás, a supressão da vogal e inicial não dificulta o reconhecimento do adjectivo exacto [ɛks-aktou], quer seja pronunciado em castelhano, quer seja em português, ou ainda em inglês [ɛks-æktou].

* O aportuguesamento irregular da marca X-ACTO®

Quando se faz a desarticulação da consoante x (dífono cs), pronunciada [ɛks], como unidade fonética para se construir em português a corruptela xis- baseada apenas no nome da letra, o seu valor fonético ex- já não pode ser realizado pela forma escrita xis-; e uma vez feita essa desarticulação o adjectivo exacto, tanto em português como em espanhol, fica truncado e a parte restante toma a aparência escrita acto que é a mesma forma escrita do substantivo acto em português. Assim, em teoria, a sílaba inicial X- da forma vocabular X-ACTO é convertida em partícula incógnita, a qual conforme os padrões da língua deve ser transposta para o final da palavra, onde forma a locução Acto X (sem hífen). A forma Acto X é a única adaptação regular aos padrões da língua em processo igual ao processo que trouxe ao português a locução «raios x» (lido xis), adaptada do inglês x-rays [eksreiz] ou mesmo directo do alemão X-Strahlen (Röntgenstrahlen).

* Aportuguesamentos anormais da marca X-ACTO®

Como se vê a derivação imprópria da marca X-ACTO® nada tem a ver com outros casos de palavras que sofreram algum processo de aportuguesamento em maioria verificados na variante brasileira da língua, exemplicados pelos seguintes casos: chiclete, fórmica, gilete, jipe, lambreta, licra, óscar, pírex, polaróide, rímel, tartã ou vitrola. Além disso, há que se considerar que as corruptelas da marca X-ACTO® só começaram a ter uso em Portugal, ainda quando a maioria das pessoas que as usava nunca tinha visto antes qualquer objecto com a marca X-ACTO®, e tão-pouco sabia que se tratava de uma marca. Estas pessoas, induzidas em erro provocado por comerciantes inescrupulosos, desataram a utilizar as corruptelas da marca X-ACTO®, como nome genérico dado a um certo e então desconhecido objecto que deveria ter começado a ser conhecido em português pelo nome: cortador ou mesmo "cúter" (snap-off blade cutter) OLFA® e que se refere ao invento do japonês Yoshio Okada em 1956 e também à faca (knife Stanley) mais usada para cortar alcatifa, anteriormente chamada naifa (do inglês knife) e mesmo ainda hoje designada na linguagem popular «naifa do japão» (knife OLFA®).

* Imprecisão fonética dos aportuguesamentos impróprios da marca X-ACTO®

A prova de que a maioria das pessoas que usam corruptelas da marca X-ACTO® nunca viu antes a marca X-ACTO® escrita alguma vez é sustentada precisamente pelas pesquisas feitas em corpora e em motores de busca que revelam ocorrências das formas "xizato" (em maior número até do que "xizacto"), o que demonstra a propensão que os falantes têm de aproximar palavras não escritas e até desconhecidas aos padrões da língua corrente – portanto não se trata só de palavras estrangeiras. A marca X-ACTO® começou a constar dos dicionários de língua portuguesa, com a grafia x-acto somente a partir de 2003 (DLP Editora, edição 2003) e depois no VOP como estrangeirismo, logo não se pode suprimir dessa grafia o fonema c, tal como também não se suprime o fonema c da palavra facto, por aplicação das regras do novo AO de 1990, pois a sua pronúncia sempre foi muito clara na sequência fonética ac-to da corruptela [xizacto]. A qualificação de faca de corte exacto é atribuída à faca de pena devido ao ângulo de corte da sua lâmina situado entre 13° e 19°, enquanto em outros instrumentos, como por exemplo, o cortador (cutter) OLFA® ou mesmo a faca (knife) OLFA® o ângulo de corte da sua lâmina está situado a 0°, portanto não há. Este é o motivo pelo qual o nome faca X-ACTO® [ɛks-æktou] não pode ser dado a qualquer outro instrumento de corte que não possua essa característica de precisão. Bisturi [não cirúrgico], estilete [de precisão] ou faca X-ACTO® [ɛks-æktou] são, respectivamente, os nomes genéricos dados em Portugal e no Brasil à faca de pena composta por uma pequena lâmina que é substítuível, muito afiada e ajustável por encaixe num pequeno mandril montado na ponta de um cabo tubiforme. Note-se, esta faca de pena não deve ser confundida com a “pequena lâmina” que se liga por articulação a um cabo de resguardo, designada correntemente canivete e classificável também como faca de pena. Mediante este comentário, torna-se evidente que somente por ignorância é que alguém pode pegar na corruptela «XIS-ATO» obtida do nome de marca registada X-ACTO® [eks-æktou] e atribuí-la ao cortador (snap-off blade cutter) OLFA® ou à faca OLFA® (conhecida também por “naifa do japão”). Certos dicionários portugueses fazem registos de entrada no conjunto de significações e explicações referentes à corruptela «X-ATO» da marca X-ACTO® [eks-æktou] e outras corruptelas semelhantes.

Seria providencial que uma resposta do Ciberdúvidas pudesse ajudar a rectificar as acepções impróprias para afastar a continuação das misturas de nomes genéricos, principalmente quanto à corruptela «xis-ato» que é uma forma fonética de uso frequente em Portugal, porém, como se vê, completamente errada.

 

[N. E. – O consulente segue a ortografia anterior à norma em vigor, a do Acordo Ortográfico de 1990.]

Alexandre Festas Informático Povoa de Varzim, Portugal 1K

Sempre considerei que a grafia (e a pronúncia) da palavra nogado deveria ser assim mesmo, ou seja, sem acento e tendo como sílaba tónica a sílaba ga.

Hoje tive ocasião de ver uma reportagem da RTP [1] onde não só se escrevia como se pronunciava "nógado". Em todos os dicionários onde procurei só mencionam nogado, com exceção da Infopedia, que admite as duas formas.

A minha dúvida é se "nógado" é simplesmente uma versão corrompida da palavra original, que ganhou força por via da repetição, ou se existe algo mais que justifique a adoção dessa forma, que me parece estranha e afastada tanto do latim nucatus quanto do francês nougat (havendo até a versão nugá na língua portuguesa).

Muito obrigado pela atenção.

 

[1 O consulente refere-se a um apontamento da RTP sobre um nógado de mais de 60 m, confecionado para assinalar os festejos do Carnaval de 2019 na localidade de Vimieiro, no concelho de Arraiolos (Évora).]

Maria Filomena Fernandes de Oliveira Estudante Porto Santo, Portugal 1K

Devemos dizer "avião desviado" ou "avião divergido" por motivos atmosféricos?

Obrigado.

Renato de Carvalho Ferreira Estudante de História São Paulo, Brasil 2K

Cito abaixo os nomes latinos e seu respectivo nome nórdico, colocando em seguida o nome aportuguesado que sugiro [exemplo: Adelus (Adils/Eadgils) –  Adelo]. Como são nomes não atestados fora da Wikipédia,  preciso do crivo de um linguista para usá-los.

 

* Adelus (Adils/Eadgils) – sugerido Adelo.

* Agnus/Agnius (Agne) – sugerido Agno ou Ágnio.

* Alaricus e Ericus (Alrekr e Eiríkr) – sugerido Alarico e Érico.

* Amundus (Amund) – sugerido Amundo.

* Anundus (Anund) – sugerido Anundo.

* Aunus (Aun) – sugerido Auno.

* Biornus (Bjørn/Bjǫrn/Björn) – sugerido Biorno. Há uso no espanhol e no italiano e há residual uso em português.

* Dagerus/Dagus Sapiens (Dagr Spaka) – sugerido Dagero/Dago, o Sábio.

* Dagnerus (Dyggve) – sugerido Dignero.

* Domalder (Domalde/Dómalda/Domalde/Dómaldi) – sugerido Domaldro.

* Elfus e Inguinus (Alf e Yngve/Alfr e Yngva) – sugerido Elfo e Inguíno.

* Fliolmus/Fiolni (Fiǫlnir/Fjǫlnir/Fjölner) – sugerido Fliolmo.

* Gudrodus (Guðrøðr/Gudrød) – sugerido Gudrodo.

* Hacus (Hake) – sugerido Haco.

* Haldanus (Halfdan) – sugerido Haldano.

* Hugleicus (Hugleik) – sugerido Hugleico.

* Iaroslaus (Jaroslav) – Jaroslau.

* Inglingus (Yngling) – sugerido Inglingo(s) (outro nome familiar), presente em ao menos um dicionário lusófono e obras hispânicas.

* Ingoldus (Ingjald) – sugerido Ingoldo.

* Inguar (Ingvar) – sugerido Inguar, com a possibilidade de também citar Igor, forma como esse nome nórdico antigo foi traduzido para o russo e como chegou ao português depois.

* Iorundus (Jörund/Jørund/Jorund/Eorund/Jörundr) – sugerido Jorundo.

* Iziaslaus (Iziaslav) – sugerido Iziaslau

* Mistislaus (Mistislav) – sugerido Mistislau

* Niordus (Njord) – sugerido Niordo.

* Olegus (Oleg) - Olego ou Olegue, forma que usei por aparecer residualmente em algumas obras lusófonas

* Ostenus/Augustinus (Östen/Eysteinn) – sugerido Osteno/Agostinho; o primeiro é uma latinização das fontes nórdicas, enquanto o segundo foi dado pelas fontes latinas mediterrânicas ao rei sueco que participou nas cruzadas.

* Ottarus (Ottar) – sugerido Otaro.

* Ragualdus (Ragnvald) – sugerido Ragualdo.

* Randverus (Randver) – sugerido Randúero ou Randuero.

* Rostislaus (Rostislav) – Rostislau

* Saxo Grammaticus – sugerido Saxão Gramático.É referido em latim em todas as fontes nórdicas e na literatura moderna. Há algumas fontes em português para Saxão Gramático.

* Scyldingus (Scylding/Skjöldung) – sugerido Escildingo(s) (é um nome familiar, não necessariamente um sobrenome).

* Scyldus/Scildus/Schioldus/Scioldus (Scyld/Skjöld) – sugerido Escildo, Esquioldo e Escildo.

* Sigurdus (Sigurd) – sugerido Sigurdo.

* Solvus/Salvus (Sölve/Salve/Sølve) – sugerido Solvo/Salvo.

* Stenchillus (Stenkil) – sugerido Estenquilo.

* Suercherus/Sverchervs/Swegthir (Sveigðir/Sveigder/Svegder/Swegde/Swerker) – sugerido Suérquero.

* Svetopolcus/Suetopolcus (Svyatopolk) – sugerido Esvetopolco ou Suetopolco

* Svetoslaus/Suetoslaus (Sviatoslav) – sugerido Esvetoslau ou Suetoslau

* Valander (Vanlanda/Vanlande/Vanlandi) – sugerido Valandro.

* Vsevolodus (Vsevolod) – Usevolodo

 

A lista é muito mais extensa, mas acho que com esses vários exemplos é possível ter um panorama daquilo com que estamos lidando. [...] Os que defendem os nomes nórdicos consideram o uso do latim equivocado por não ser uma língua de uso corrente – e por quererem ser puristas em relação ao nomes. Nós, latinistas, visamos o uso do latim, não só por também ter uso nas poucas fontes existentes (algumas das obras nórdicas só sobreviveram na sua versão latina), mas por ser a forma mais eficaz de chegarmos a nomes seguros no português e por melhor atender às demandas dos leitores de nossa enciclopédia, em sua maioria leigos e alunos pré-universitários.

Agradeço imensamente a atenção.

Lara Moutinho Tradutora Portugal 1K

Que género devemos utilizar para a palavra blockchain?