Consultório - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Maria Bolton Professora Londres, Reino Unido 365

Quando é que devemos usar «ao contrário» e «pelo contrário»?

E qual é o valor das preposições a e por nas expressões?

Muito obrigada!

Marta Lucz Tradutora de português Wroclaw, Polónia 277

Gostava de saber qual é a diferença entre um cervo e um veado.

Consultei dois dicionários, o Priberam e a Infopédia e as definições dadas são as mesmas.

Contudo, parece-me que existe alguma diferença.

Vasco Trigo Jornalista Lisboa, Portugal 532

Em 2009 este assunto foi aqui tratado e a opinião foi que a expressão «ouvidos de marcador» não fazia sentido. Mas hoje encontrei a referência seguinte, que poderá fazer sentido:

«Não é “ouvidos de mercador” e sim “ouvidos de marcador”. Na origem do provérbio está a marcação de escravos com ferro quente, com o nome do seu dono, para que fossem facilmente identificados. “O marcador” nunca "ouvia" as súplicas e gritos daquelas pessoas» (@vilminha_reis, Twitter, 07/05/2022).

Qual é a vossa opinião?

Obrigado.

José Luiz Ferreira Reformado Lisboa, Portugal 408

A minha questão prende-se com apelidos/patronímicos.

Conquanto seja um facto, para os genealogistas, que o apelido Andrade é de origem toponímica e não patronímica, a verdade é que me parece encontrar evidências (?) de que também possa ter origem patronímica. Pelo menos, no que toca à minha família, e apenas no concernente ao nosso costado paterno – em “busca da qual” vagueei por horas, dias, semanas, meses e anos a fio, no tempo em tinha de me deslocar para a consulta das fontes, à (actual) Torre do Tombo, ao Arquivo Distrital de Santarém, à Conservatória do Registo Civil de Ferreira do Zêzere e ao Arquivo Paroquial da minha freguesia natal.

O meu texto, que se segue, vale apenas para contextualizar a problemática. A questão, portanto, é: poderá o apelido Andrade ou d’Andrade ser o patronímico de André?

Grato pela vossa atenção.

«APELIDOS; PATRONÍMICOS O apelido é o sobrenome de família que se transmite de pais a filhos. Parece terem sido os romanos que trouxeram para cá o uso do apelido. Uso com que a invasão goda acabou: com eles as pessoas apenas tinham o seu nome próprio, nada mais. Mais tarde, sob o domínio árabe generalizou-se o uso dos patronímicos. Estes, antes de se tornarem em verdadeiros apelidos, começaram por ser sobrenomes derivados do nome do pai. Alguns acabaram mesmo por constituir nomes próprios, embora derivados de outros e exprimindo filiação.

No tempo dos nossos primeiros reis, e até D. João I, vigorava a regra de que ao filho mais velho se desse o nome do avô materno seguido do apelido patronímico. Exemplo acabado desta regra é o caso de D. Afonso Henriques: Afonso, porque neto materno de Afonso (Afonso VI, rei de Leão e Castela, como se sabe – pai de D. Teresa), Henriques, porque filho de Henrique.

Mas os patronímicos também se formavam pela mera aposição do nome do pai ao do filho: assim, v. g., «Pedro Afonso» (filho de D. Afonso Henriques) era, de seu nome, Pedro; e porque filho de Afonso, Afonso. Ou seja: Pedro (filho de) Afonso. Ou: «Martinho/Martim (filho de) Lourenço», donde Martim/Martinho Lourenço.

Alguns patronímicos evidenciam bem a sua origem: como, v. g., Henriques se vê logo ser o patronímico de Henrique; ou Rodrigues, o de Rodrigo; ou Bernardes, o de Bernardo; como Sanches o de Sancho; ou Fernandes o de Fernando; ou Álvares o de Álvaro; ou Ramires o de Ramiro; ou ainda Martins/Martinez (e muito provavelmente Martens) o de Martim/Martinho. Tal como, ainda que hoje não seja para nós tão evidente, Soares é o patronímico de Soeiro; e Dias o de Diogo; e Peres o de Pedro/Pero; e Pais o de Paio/Pelágio. Da mesma forma muitos outros apelidos de hoje denunciam (até pela sua terminação em s) a sua origem patronímica, como acontece com Gomes.

Na nossa família encontramos duas aplicações muito evidentes relativamente a esta matéria de apelidos e patronímicos, com o apelido/patronímico Andrade, o mais remoto dos quais é o do tio-tetravô (padre) Francisco Manuel d’Andrade. A explicação que encontro (e tenho ideia de já o ter confirmado algures, e por mais de uma vez) é que o d’Andrade é o mesmo que «d’André»: «filho, e/ou neto, e/ou bisneto… de André». Como é aqui o caso: Francisco Manuel (R187) era filho de Manuel André, (046-054) nosso pentavô (hexavô...). Bom, mas não era só o pai do nosso referido tio-tetravô que era André, já o foi o seu avô (nosso hexavô...) Simão André (78) e o seu bisavô (nosso heptavô...) outro Simão André (184-216), assim como o trisavô dele (nosso octavô...), outro Manuel André (368-432) na mesma linha de ascendentes.

Igualmente “perto” (!) de nós temos também na família outro caso de um Andrade («de Andrade» ou «d’Andrade») que era filho de André: é o do tio-bisavô Manuel Ferreira d’Andrade, neste caso filho de António André. Era irmão do bisavô (trisavô/tetravô) Joaquim André Ferreira (004). Tanto o Manuel como o nosso bisavô Joaquim, eram filhos do trisavô António André (008). Daí ambos André, embora tivessem o nome completo construído de forma diferente, e um deles «d’Andrade» em vez de «de André» – que, tanto quanto penso, é o seu equivalente.

A propósito de apelidos, veja-se a “construção” do apelido André na nossa família desde o nosso, por um lado, octavô, por outro, heptavô Manuel André (a mesma pessoa física, que deve ter nascido cerca de 1630) passando pelos seus filhos Simão André e João André, respectivamente nossos heptavô e hexavô. São bem nítidas duas linhas contínuas que partem daquele octavô (numa linha) e heptavô, na outra, Manuel André, que se bifurcam naqueles seus dois filhos e convergem, de novo, no seu hexaneto Joaquim André Ferreira (nosso avô paterno), que no outro ramal é seu pentaneto. E então repare-se: dum lado temos uma linha agnatícia (varonil) até ao patamar da tetravó Maria Ribeira, em que se converte em cognática (feminina); do outro: sempre a linha varonil. Mas, todos eles, parentes directos, ou cognatos (consanguíneos, não afins). Resulta assim claro que o apelido que devíamos ter era o de André, o mais constante desde as gerações conhecidas de antepassados. Ou então André Ferreira, conjugando o mais antigo com o das últimas três gerações que antecedem a nossa.»

 

N. E. – O consulente adota a ortografia de 1945.

André Lopes Padeiro Riachos, Portugal 347

Deparo-me com a antiga expressão «em rama» utilizada no sector de transformação de produtos como «farinhas em rama (moagem de, por exemplo)», «algodão em rama», «açúcar...», entre outros. Significa algo em bruto, não processado, como por exemplo, a primeira farinha extraída logo após a primeira passagem na mó.

Muito comum nas antigas moagens, o termo caiu em desuso nas moagens modernas.

Seja como for, não encontro em lado nenhum uma explicação para a origem linguística da expressão «em rama». Apenas a ligação com a outra expressão, «pela rama», ou seja, superficialmente, mas desconfio que esta é que tenha derivado da outra.

Obrigado pela atenção.

Tiago Silva Estudante Lisboa, Portugal 514

Considere-se o seguinte excerto:

«O único viajante com verdadeira alma que conheci era um garoto de escritório que havia numa outra casa, onde em tempos fui empregado. Este rapazito coleccionava folhetos de propaganda de cidades, países e companhias de transportes; tinha mapas – uns arrancados de periódicos, outros que pedia aqui e ali –; tinha, recortadas de jornais e revistas, ilustrações de paisagens, gravuras de costumes exóticos, retratos de barcos e navios. Ia às agências de turismo, em nome de um escritório hipotético, ou talvez em nome de qualquer escritório existente, possivelmente o próprio onde estava, e pedia folhetos sobre viagens para a Itália, folhetos de viagens para a Índia, folhetos dando as ligações entre Portugal e a Austrália.»

O segmento textual «Este rapazito coleccionava folhetos de propaganda de cidades, países e companhias de transportes» evidencia o respeito por que princípios da coerência textual? Respeita todos os princípios do mesmo modo; ou, por outro lado, um especialmente, em particular (por exemplo, o da relevância ou o da não contradição, em havendo a necessidade de se elencar só um)?

Muito obrigado.

Manuela Barbosa Funcionária pública Belo Horizonte, Brasil 220

Gostaria de saber qual seria a forma correta ou qual a diferença entre as expressões «figura de prol», «figura de proa» e «figura de prumo».

Todas elas significam «personalidade destacada, notável»? Alguma delas tem a conotação específica de «liderança»?

João Vitor Pestana Bentes Lopes Assistente pedagógico Rio de Janeiro, Brasil 331

Revisando o marketing da minha empresa, me deparei com o seguinte trecho:

«O hiperespaço criado por Star Wars é uma dimensão alternativa que só pode ser alcançada viajando na velocidade da luz.»

Eu corrigi para «... é uma dimensão que só pode ser alcançada viajando-se à velocidade da luz», mas fiquei com um peso na consciência, como se eu houvesse cometido um erro.

Apresento outras circunstâncias que também me deixaram com dúvida:

2 – «O sucessor de um número natural é obtido somando (ou somando-se?) uma unidade a ele. Supondo (Supondo-se) que esse número natural é x, a soma entre seus 10 sucessores é:»

3 – «Representando (ou Representando-se) a situação na forma de diagrama, retira-se a interseção de cada conjunto e conclui-se que há 30 pessoas gostando apenas de pizza doce.»

4 – «Testando (ou Testando-se?) qualquer número inteiro no lugar de n, por exemplo 1, conclui-se que A é o conjunto dos números pares e B dos ímpares.»

5 – «Sabendo (ou Sabendo-se) as dimensões do cercado, basta obter o perímetro (2p) do retângulo de dimensões 20×25.»

Devo dizer que coloquei a partícula se em todas. Cometi algum erro?

Desde já agradeço.

Delso Vilanculo Facilitador de Português Maputo, Moçambique 629

Qual das seguintes frases é linguisticamente consagrada:

a) Corta-se chapa à medida;

b) Cortam-se chapas à medida;

c) Corta-se chapas sob medida;

d) Cortam-se chapas sob medida.

Mário Fernando Marques de Oliveira Reformado (economista) Coimbra, Portugal 466

No jornal Público de 11 de Fevereiro de 2022, Clara Barata escreve sobre a morte do prémio Nobel da Medicina em 1983, Luc Montagnier [1932-2022], a propósito de ideias bizarras que a partir de certa altura o cientista passou a emitir. Na sequência dessas bizarrias a articulista escreve e cito: «Tudo isto levou um grupo de 106 académicos franceses a denunciarem as derivas de Montagnier.»

Muitas vezes vi já a referida a palavra deriva com sentido idêntico, mas no Dicionário da Porto Editora e noutras consultas que fiz não aparece qualquer referência que se adapte.