A função sintáctica de «triste» na frase em apreço pode ser encarada de duas maneiras: há autores que o classificariam como predicativo, mas há quem o considere um aposto. Assim:
1. Numa perspectiva tradicional e seguindo Celso Cunha e Lindley Cintra, dir-se-á que «triste» desempenha a função de predicativo de um predicado verbo-nominal («olhar o mar»), porque, como adjectivo, «[...] designa uma característica do ser ou da coisa, e não o próprio ser ou a própria coisa» (Breve Gramática do Português Contemporâneo, pág. 116/117). Os referidos gramáticos salientam a mobilidade deste predicativo, que «costuma vir separado do substantivo que modifica por uma pausa sensível (indicada geralmente por vírgula na escrita)», mas advertem que não deve ser confundido com o aposto, porque os adjectivos não podem exercer tal função (ibidem). Por outras palavras, para a ocorrência não de um predicativo mas de um aposto na frase em análise, teria de se substituir «triste» por uma expressão cujo núcleo fosse um substantivo, por exemplo, «filha de pescadores», como em «A rapariga, filha de pescadores, olhava o mar».
2. No entanto, pode-se afirmar que a expressão «triste» desempenha a função gramatical de modificador do nome apositivo ou aposto do sujeito «a rapariga». Segundo M. H. M. Mateus et al., Gramática da Língua Portuguesa (Lisboa, Editorial Caminho, 2003, pág. 368/369), os apostos podem ser nominais e adjectivais. Os que são adjectivais «não são identificadores e por essa razão podem ocupar outras posições na frase» (ibidem); exemplos:
(1) «O João, todo contente, partiu para os EUA.»/«O João partiu para os EUA, todo contente.» (ibidem)
Confrontando a frase «A rapariga, triste, olhava o mar» com (1), verifica-se também a mobilidade de «triste», pelo que se afigura legítima a sua classificação como aposto, pelo menos na perspectiva da gramática de Mateus et al. 2003:
(2) «A rapariga, triste, olhava o mar.»/«A rapariga olhava o mar, triste.»
Note-se que, nesta perspectiva, o aposto é um elemento — nominal, adjectival ou oracional1 — que se junta a um substantivo, a um pronome, ou a um equivalente a estes, a título de explicação ou de apreciação. Este constituinte, mesmo que seja realizado por um adjectivo, está integrado num grupo nominal, encontra-se normalmente à direita do núcleo (o nome) e não é seleccionado por esse núcleo. Entre o aposto e o termo a que ele se refere há sempre uma pausa marcada na escrita por uma vírgula.
1 As orações relativas explicativas têm função de aposto e, por isso, são também chamadas apositivas: «A rapariga, que estava triste, olhava o mar.»