A pergunta que é feita não tem que ver com os verbos morar e residir, mas antes com o uso de artigo com topónimos. Já aqui nos referimos a este assunto, mas o critério geral é o de usar artigo se o substantivo que designa o lugar ou a região tem origem num substantivo comum: por isso se diz «moro no Rio» (cf. rio), mas «resido em Belém» (Belém é sempre substantivo próprio). No entanto, como já explicámos, há numerosas excepções a este critério, porque ocorrem exemplos contraditórios como «moro no Porto» e «moro em Porto Alegre» ou «moro no Rio de Janeiro» e «resido em Rio Preto». É, portanto, necessário saber qual é o uso corrente que se dá a esses topónimos, o qual pode ter consagrado a falta ou presença de artigo quando seria de esperar o contrário.
Quanto aos exemplos que aponta, direi o seguinte:
1. Não sabendo eu qual é o uso adoptado no Brasil ou na região brasileira, mesmo assim, parece-me correcta a expressão «Eu moro no Jardim Maracanã», mas é de admitir que, por se tratar de um bairro, isto é, uma zona urbana de certa extensão, se tenha disseminado o emprego da expressão sem artigo («estou em Jardim Maracanã»), na intenção de se diferenciar de um eventual Jardim Maracanã («estou no Jardim Maracanã»)1, que é mesmo um jardim, ou de a assemelhar a certos nomes de cidade («moro em S. Paulo»).
2. Apesar de não ter origem num substantivo comum, Acre usa-se com artigo (cf. Dicionário Houaiss, que define acriano «como relativo ao Estado do Acre ou o que é seu natural ou habitante»).
1 Em Portugal, em consonância com o Acordo Ortográfico de 1945, substantivos que designem vias, logradouros e bairros têm maiúscula inicial (ver Rebelo Gonçalves, Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa, Coimbra, Atlântida Editora, 1947, pág. 324). No quadro do Acordo Ortográfico de 1990, a maiúscula é opcional; Base XIX, n.º 2: «i) Opcionalmente, em palavras usadas reverencialmente, aulicamente ou hierarquicamente, em início de versos, em categorizações de logradouros públicos: (rua ou Rua da Liberdade, largo ou Largo dos Leões), de templos (igreja ou Igreja do Bonfim, templo ou Templo do Apostolado Positivista), de edifícios (palácio ou Palácio da Cultura, edifício ou Edifício Azevedo Cunha).»