DÚVIDAS

Dativo de opinião: «para os meus discípulos»

Na frase, «Muitos vocábulos da língua latina são conhecidos para os meus discípulos», por que «para os meus discípulos» não pode ser agente da passiva?

Os discípulos não estariam fazendo a ação de conhecer?

«Os meus discípulos conhecem muitos vocábulos da língua latina.»

Disseram-me que é objeto indireto num curso que faço, mas ainda não entendi por quê!

Estaria, então, correta a regência «conhecido para alguém»?

Resposta

Na frase transcrita em (1), o constituinte «para os meus discípulos» não é complemento agente da passiva pelo facto de não ser introduzido pela preposição por (ou pela preposição de), razão pela qual também não corresponde ao sujeito da frase ativa:

(1) «Muitos vocábulos da língua latina são conhecidos para os meus discípulos.»

Considera-se, por este motivo, que a frase apresentada em (2) é distinta da que se apresenta em (1), sendo esta, sim, uma construção passiva:

(2) «Muitos vocábulos da língua latina são conhecidos pelos meus discípulos.»

Para além disso, a palavra conhecidos, na frase (1), corresponde a um adjetivo usado em frase copulativa ao serviço da descrição de uma situação episódica de forma estática (ver esta resposta).

Por outro lado, não poderemos considerar que o constituinte «para os meus discípulos» desempenha a função de complemento indireto prototípico1 porque este não é substituível pelo pronome lhe:

(3) «*Muitos vocábulos da língua latina são-lhes conhecidos.»

Este constituinte pode, todavia, ser considerado, à luz da proposta de Bechara, um caso de dativo de opinião2, que o autor ilustra como exemplos como os seguintes:

(4) «Para ele a vida deve ser intensamente vivida.»

(5) «Para nós ela é a culpada.»

Isto significa que o constituinte «para os meus discípulos» poderá inclusive surgir noutro espaço da frase, como se confirma em (6):

(6) «Para os meus discípulos, muitos vocábulos da língua latina são conhecidos.»

Disponha sempre!

 

*Assinala a aceitabilidade da frase.

1. Tratar-se-ia de um caso particular de complemento indireto introduzido pela preposição para.

2. Cf. Bechara, Moderna Gramática Portuguesa. Ed. Lucerna, p. 575.

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