Esta nossa língua portuguesa é, de facto, surpreendente! Confesso que nunca me tinha apercebido desta dicotomia, quanto ao género, da palavra entorse, mas, efectivamente, é o que acontece! Nos dicionários e no uso.
No entanto, do ponto de vista dos dicionários, o género da palavra é, predominantemente, feminino. E se fizermos uma análise cronológica, a identificação da palavra como feminina é ainda mais evidente. Com efeito, a referência ao masculino aparece apenas em dois dicionários: no Dicionário Houaiss, edição do Círculo de Leitores, 2003, com indicação de que é masculina, e no Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa, Verbo, 2001, onde se refere que a palavra é utilizada nos dois géneros.
A par destes dois, o dicionário da UNESP, 2004, aponta a palavra como feminina, referindo que o seu uso no masculino é raro.
Outros recursos, igualmente recentes, indicam que a palavra é feminina. É o caso da Base de Dados Morfológica do Português, Mordebe, do Dicionário de Língua Portuguesa on-line e do Grande Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, 2004.
Se recuarmos ao século XIX, o Diccionario da Língua Portugueza de Lacerda, 1858, não inclui esta palavra, mas o Diccionario da Língua Portugueza de Moraes, 1890, apresenta-a como feminina, tal como faz Gonçalves Viana, já no século XX, no Vocabulário Ortográfico e Remissivo da Língua Portuguesa, 1912.
No Corpus do Português Davies–Ferreira a palavra aparece só em textos do século XX, o mesmo acontecendo no corpus do Centro de Linguística, pelo que não poderemos concluir se os dois géneros já eram usados anteriormente, tendo, como se verifica hoje, os dicionaristas optado por dar apenas uma das ocorrências ou se, de facto, o uso dos dois géneros é recente.
De qualquer forma, creio que é predominante o feminino.