A uma interrogativa global, isto é, a uma pergunta que tem por resposta sim ou não (ou talvez), pode dar-se como resposta afirmativa apenas o verbo usado na pergunta, com as adaptações adequadas à situação de enunciação, como se a resposta fizesse eco da pergunta1:
(1) – Gosta de teatro?
– Gosto.
Se o verbo da pergunta for pronominal, mantém-se o pronome reflexo:
(2) – Sentes-te bem?
– Sinto-me.
(3) – Vestes-te no quarto?
– Visto-me.
(4) – Não te enganaste?
– Enganei-me.
Note-se, contudo, que, a respeito do exemplo 2, não é impossível dar como resposta «sinto», omitindo o pronome pessoal2. Trata-se de um uso marginal, que não parece generalizar-se a todos os verbos pronominais. De qualquer modo, a maioria dos falantes de português dá normalmente a resposta com o pronome reflexo, e esse é o uso mais correto.
1 Pilar Vázquez Cuesta e M.ª Albertina Mendes da Luz, na sua Gramática da Língua Portuguesa (Lisboa, Edições 70, págs. 544/545), descrevem este tipo de resposta do seguinte modo:
«A língua portuguesa [...] faz [...] grande uso do que [Leo] Spitzer [filólogo alemão] denomina "linguagem-eco", isto é, da repetição mecância do verbo, modificado naturalmente na sua pessoa e número consoante o exija o sentido da frase. Assim, por exemplo:
– Vais hoje ao cinema? – Vou [...].»
2 De salientar outro segundo exemplo incluído na passagem transcrita na nota 1:
«– Então, percebe-se bem a fita? – Percebe [...]» (ibidem)
A resposta «percebe» apoia de algum modo a possibilidade de omissão do pronome átono que acompanha o verbo («percebe-se»), muito embora não se trate de um caso de conjugação pronominal, mas antes de uma construção ambígua, de se apassivante ou de se impessoal.