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Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

No uso de uma língua, como noutras situações coletivas, não é fácil desfazer confusões nem evitar que se gerem outras – é o caso da velha troca de «ter que ver» por «ter a haver». No Pelourinho, apresenta-se nova descendência deste erro: trata-se de «ter haver», grafia incorreta de «ter a ver», expressão tradicionalmente considerada como menos correta que «ter que ver». Entretanto, embora se encontre encerrado até setembro, o consultório continua a receber questões que esperavam vez para ficar em linha: a sequência «todas as vezes que» está bem construída? Que significa a palavra coulomb? E que denominação atribuir a quem anda à boleia? As respostas somam-se a todo o arquivo de mais de 30 mil respostas do Ciberdúvidas, que, como sempre, se mantém acessível (consultar pelo motor de busca).

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Anuncia-se a realização em Luanda, de 18 a 20 de setembro de 2014, do 3.º Congresso  Internacional de Língua Portuguesa, uma iniciativa da Universidade Jean Piaget de Angola que nesta edição aborda o tema genérico "Unidade na diversidade". A principal proposta deste encontro é debater os atuais desafios da língua portuguesa em Angola e no mundo. Mais informação sobre inscrições (até 15 de agosto p.f.) e programa, aqui e aqui.

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Conforme se deu notícia, com a saída de Gilvan Müller de Oliveira em outubro de 2014, após quatro anos de mandato, a direção do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) acolhe uma nova responsável para o biénio de 2014/2016. Trata-se de Marisa Guião de Mendonça (na imagem, ao lado de Gilvan Müller de Oliveira), doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), membro da comissão moçambicana do IILP e diretora da Escola Superior de Contabilidade e Gestão da Universidade Pedagógica de Moçambique (ler ponto 11, alínea XI da declaração final da cimeira de Díli). Por indicação da República de Moçambique, Marisa Mendonça foi eleita para a gestão do IILP durante a X Conferência dos Chefes de Estado e de Governo (CCEG) da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), realizada em Díli, entre 18 e 23 de julho. Refira-se ainda que, para o cargo de presidente do conselho científico do IILP, foi eleito o escritor e investigador Raul Calane da Silva, na IX Reunião Ordinária do Conselho Científico do IILP, ocorrida na cidade da Praia, nos dias 12 e 13 de maio de 2014.

Recordamos que na declaração final da cimeira de Díli ficaram expressos o reconhecimento e a recomendação oficiais do Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa (VOC) e dos vocabulários ortográficos nacionais que o integram. Neste contexto, importa assinalar que passam a ficar indisponíveis as versões experimentais destes recursos, de modo a permitir concluir a primeira versão oficial até ao final de 2014. É ainda de salientar a importância atribuída na mesma declaração à disponibilização, por parte de Angola, de meios financeiros e materiais para o projeto de promoção e difusão da língua portuguesa no espaço da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (mais conhecida pela sua denominação em inglês, Southern Africa Development Community, ou abreviadamente SADC) – «o que levará à [sua] execução em Gaborone, na sede do secretariado executivo desta organização regional, em Pretória, na África do Sul, e em Windhoek, na Namíbia».

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Terminou neste dia, em Díli, a X Conferência dos Chefes de Estado e de Governo (CCEG) da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), cuja declaração final, no seu ponto 11, relativo à ação cultural, promoção e difusão da língua portuguesa, refere as seguintes ações:

– a adoção do Plano de Ação de Lisboa, «com enfoque no português como língua de inovação e de conhecimento científico e na importância da Língua Portuguesa nas economias criativas, que define, juntamente com o Plano de Ação de Brasília, as estratégias globais para a promoção e difusão da língua portuguesa» (alínea vii);

– o reconhecimento e a recomendação oficiais do Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa (VOC) e dos Vocabulários Ortográficos Nacionais (VON) que o integram, bem como ainda do Portal do Professor de Português Língua Estrangeira/Língua Não Materna (PPPLE), que constituem recursos representativos de cinco Estados-membros e que ficam disponíveis no sítio do IILP [Instituto Internacional da Língua Portuguesa] na internet (alínea viii);

– a eleição da nova directora executiva do IILP, Marisa Guião de Mendonça, proposta pela República de Moçambique, para o biénio de 2014-2016 (alínea xi).

Observe-se que que, na referida conferência, a República de Cabo Verde formalizou a entrega do seu próprio VON (com cerca de 35 000 entradas), que assim se soma aos VON já disponíveis, a saber, os do Brasil, Moçambique, Portugal e Timor-Leste. Aguarda-se também o VON de São Tomé e Príncipe, o qual não foi possível ultimar a tempo desta conferência. É de notar que estão agora criadas as condições para a apresentação até final de 2014 da primeira versão oficial do VOC, que, além do léxico comum, vai ainda incorporar um módulo com toda a toponímia relevante na maioria dos países da CPLP e o mais vasto conjunto de formas não adaptadas (estrangeirismos e palavras das línguas maternas locais).

Assinale-se a declaração de apreço dirigida a Gilvan Müller de Oliveira, diretor executivo do IILP de 2010 a 2014, cuja ação foi determinante para o arranque e desenvolvimento de todos os projetos em referência. Para compreender o que tem sido a atuação do IILP nos últimos anos, leia-se na rubrica O Nosso Idioma um artigo que o linguista brasileiro Carlos Faraco publicou na Folha de S. Paulo, em 14/07/2014.

Ainda no âmbito do ponto 11 (alínea ix) da declaração final dos chefes de Estado e de Governo da CPLP reunidos em Díli, foi assinalada a importância do projeto de promoção e difusão da língua portuguesa no espaço da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (mais conhecida pela sua denominação em inglês, Southern Africa Development Community, ou abreviadamente SADC), de iniciativa angolana – «o que levará à [sua] execução  em Gaborone, na sede do Secretariado Executivo desta organização regional, em Pretória, na África do Sul, e em Windhoek, na Namíbia.»

Por último, registe-se que esta cimeira ficou marcada, no plano político, pela aprovação (polémica) da adesão da Guiné Equatorial como Estado-membro da CPLP.

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Como temos referido, embora o consultório esteja fechado até setembro, há ainda perguntas que esperam vez para ser divulgadas. Por exemplo, o que significa a palavra griséu? Os falantes de grande parte do Algarve devem saber: como se explica numa nova resposta, trata-se  de um regionalismo que nos transporta até aos tempos do conflito entre cristãos e muçulmanos, quando, além do árabe, também se falava moçárabe no sul do território ibérico. Entretanto, a rubrica Ensino passa a disponibilizar ligações para páginas da Internet que contêm jogos e passatempos sobre gramática e norma-padrão. Por exemplo, quando se fala de pneus, dizemos que têm aderência, ou adesão ao piso? E qual é o plural de aval? Ou, ainda: "dignitários", "dignatários" ou "dignos" (eclesiásticos)? As respostas – no total de 45 a outras tantas perguntas que põem à prova qualquer falante da língua portuguesa – estão aqui. Lembramos ainda que se mantém acessível todo o arquivo de mais de 30 mil respostas do Ciberdúvidas, além de um conjunto diversificado de textos sobre a língua portuguesa (consultar pelo motor de busca).

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Como já aqui foi assinalado, em Portugal são as várias unidades de investigação nos campos da Linguística e das Humanidades que vão encerrar ou encaram esse risco, na sequência de uma avaliação feita pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). O Centro de Linguística da Universidade do Porto (CLUP) vê-se na contingência de fechar, já em janeiro de 2015, ao fim de mais de 40 anos de atividade; e os dois centros de estudos clássicos do país – o Centro de Estudos Clássicos da Faculdade de Letras de Lisboa e o Instituto de Estudos Clássicos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra – também fecham portas. Destino diferente vai conhecer outra unidade de excelência da área da Linguística, o Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC) – que se funde, a partir de janeiro de 2015, com o Centro de Estudos de Linguística Geral e Aplicada (CELGA), da Universidade de Coimbra.

A situação é, portanto, inusitada e, sobretudo, preocupante, porque tem impacto na própria promoção científica, académica e cultural da língua portuguesa. O programa Páginas de Português de domingo, 20 de julho (às 17h00*, na Antena 2), entrevista, por isso, o professor João Veloso, investigador e coordenador do CLUP, e faz a leitura da declaração que a FCT emitiu em 11/07/2014 sobre este assunto. No programa Língua de Todos de sexta-feira, 18 de julho (às 13h15* na RDP África; com repetição ao sábado, depois do noticiário das 9h00*), a linguista Margarita Correia fala sobre o Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa, a apresentar na cimeira da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em Díli em 23/07/2014. Esta emissão inclui a rubrica a Ciberdúvidas Responde, conduzida por Sandra Duarte Tavares.

* Hora oficial de Portugal continental, ficando disponível via Internet, nos endereços dos programas.

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A União Europeia coloca os falantes de português perante mais um problema: como pronunciar o apelido/sobrenome do novo presidente da Comissão Europeia e ex-primeiro-ministro do Luxemburgo, Jean-Claude Juncker (na foto, à esquerda)? Trata-se de um nome tipicamente germânico, homófono ou quase do substantivo comum Junker, em alemão, «aristocrata grande proprietário». Isto implica que o j se leia como i, fazendo com que o nome soe como "iúnquer" ou "iunca". Mesmo os europeus de expressão francesa, incluindo certamente os luxemburgueses (falam francês, mas também o luxemburguês e o alemão), parecem pronunciar assim, embora haja variação e se oiça também algo como "junquerre", forma afrancesada que não terá tanta aceitação – pelo menos a avaliar por esta reportagem em francês no canal Euronews. Que fazer, então, em português? Deixamos uma sugestão: preserve-se o que for possível da articulação original, luxemburguesa ou alemã (ambas línguas germânicas) e diga-se "iúnquer". E – nomeadamente nos noticiários da rádio e na televisão – opte-se por uma só forma de pronunciar este nome que vai ser tantas vezes falado nos próximos quatro anos...

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Embora o consultório se encontre indisponível até setembro, damos esclarecimentos neste dia sobre três palavras ainda em dúvida:

Desperdício é palavra primitiva, ou derivada?

– Que relação tem o apelido/sobrenome Aiveca com os substantivos comuns?

– E como identificar a palavra ou as palavras com a função de aposto num sujeito de estrutura complexa?

Lembramos que se mantém acessível todo o arquivo de mais de 30 mil respostas do Ciberdúvidas, além de um conjunto diversificado de textos sobre a língua portuguesa (consultar pelo motor de busca).

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Quando a nossa equipa favorita não ganha a outra equipa nem perde com ela, dizemos (muitas vezes com desapontamento) que as duas empataram. Mas o tom já é de queixa quando, numa fila para pagar as compras do supermercado, nos sentimos empatados, porque, na verdade, perdemos... tempo. Ou quando se fala do «trânsito empatado». Ou, no jogo de xadrez, em «empatar as vazas». Ou, ainda, «empatar o anzol» – ou seja, fixá-lo à linha, com um nó ou um... empate1. Empate é uma derivação do verbo empatar – cuja etimologia o Dicionário Houaiss remete para o italiano impattare: «terminar sem ganhar nem perder», palavra por sua vez derivada de patta, «parelho no jogo». Esta forma provém do latim pacta, plural de pactum, i, «ajuste, acordo»; e pactum liga-se à raiz de pax, pacis, o mesmo que paz. Ou seja, até parece que a paz com o adversário nos incomoda...

O tema dos empates na Copa Brasil 2014 é o que versa, precisamente,  a crónica do jornalista Wilton Fonseca, publicada no jornal português "i" de 10/07/2014. Fica disponível na rubrica O Nosso Idioma – numa saborosa reflexão em torno da regência do verbo empatar e de outras expressões com ele relacionadas, algumas delas bem vernáculas.

1 in Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa.

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É ocasião para dizer: as voltas do mundo são fonte inesgotável de inspiração para a criatividade linguística. No caso, a imprensa brasileira. Ainda em choque com a copiosa derrota da sua seleção (7-1) com a alemã, numa das meias-finais do Campeonato Mundial de Futebol de 2014, eis que um neologismo – Mineiraço – decalca Maracanaço, nome próprio evocativo de outra histórica derrota do Brasil. Como se formaram estas palavras? Tudo remonta a 1950, quando também se disputava o Mundial de Futebol (ou Copa) no Brasil, e a seleção do país anfitrião perdeu com o Uruguai na final. Logo a imprensa hispano-americana batizou o acontecimento de Maracanazo, com base em Maracanã (do tupi maraka`na, «espécie de papagaio»), nome do estádio onde se realizara o jogo; e facilmente surgiu depois o registo aportuguesado dessa memória funesta, porque existe o sufixo -aço, que forma aumentativos geralmente com valor pejorativo (cf. Dicionário Houaiss). Passados 64 anos, aparece Mineiraço (e, em espanhol, a forma paralela Minerazo), criado a partir de Mineirão (estádio de futebol de Belo Horizonte, cenário do mais recente revés), com a adjunção do referido sufixo. A inovação lexical tem destas crueldades...

 A propósito de notícias sobre Nicolas Sarkozy, presidente da França entre 2007 e 2012, causa surpresa a palavra roscambilha, usada pelo jornalista e escritor Rui Cardoso Martins, na sua crónica "Baixinho à altura de França", publicada na revista 2 do jornal português "Público", 6/07/2014. O linguista e crítico literário Fernando Venâncio não deixou de assinalar a inventiva, com conclusões curiosas («Olha, uma palavra nova»), na sua página de Facebook: o vocábulo parece neologismo construído sobre o regionalismo moscambilha, mascambilha ou mescambilha, «trapaça», «fraude» (cf. Dicionário Houaiss).