Aberturas - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Aberturas
Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

O gosto pela inclusão dos títulos académicos nas formas de tratamento («Senhor Doutor», «Senhor Engenheiro») continua bem vivo em Portugal. Mas a Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo (Bragança), libertando-se de formalidades engravatadas, decidiu em 27/06/2014 que, «na óptica da democracia republicana e da revolução francesa, de onde saíram os princípios da liberdade, fraternidade e igualdade» (Notícias do sítio do Município de Torre de Moncorvo), passam todos os deputados a ter tratamento igual, ou seja (supõe-se), «Senhor».

É a propósito deste caso que O Nosso Idioma disponibiliza uma crónica de Ferreira Fernandes, na qual também é evocado o jornalista Afonso Praça (1939-2001), ilustre moncorvense que não precisou de tais títulos. Na mesma rubrica, um texto do jornalista brasileiro Francicarlos Diniz explora os muitos usos e significados do substantivo coisa. No Correio, a manifestação de apreço de um consulente leva-nos a agradecer-lhe a ele e a tantos outros esse reconhecimento do trabalho desenvolvido pelo Ciberdúvidas ao longo, já, de 17 anos.

Entretanto, relembramos que o consultório faz uma pausa até setembro, motivo pelo qual o formulário para envio de dúvidas não está disponível (para outros assuntos, agradecemos que nos contactem via estes endereços). Não deixamos, porém, como acontece neste dia, de ir pondo em linha artigos respeitantes à atualidade da língua portuguesa ou respostas que aguardam divulgação. Como sempre, mantém-se acessível todo o nosso extenso arquivo de respostas e os mais diversificados textos sobre a língua portuguesa (consultar pelo motor de busca).

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

Que um drone entregue comida rescendente no conforto do lar é uma coisa; mas que leve a casa pelos ares é obviamente outra. Além deste uso ambivalente, a tecnologia é também notícia por impor constantemente a necessidade de criar novas palavras. O inquietante substantivo drone, do inglês drone, «zângão», ilustra esta situação: criado há cerca de 70 anos para designar uma aeronave não tripulada, ganhou na última década projeção crescente nos media e rapidamente se naturalizou noutras línguas. O termo já tem impacto no português, ao ponto de Wilton Fonseca prever o aparecimento do verbo "dronar", em crónica disponibilizada em O Nosso Idioma. Na mesma rubrica, outro tema mediático: a propósito do Campeonato Mundial de Futebol que se realiza no Brasil, Edno Pimentel relembra que assistir tem um complemento preposicionado quando significa «ver, presenciar».

 Entretanto, como foi já aqui assinalado, o consultório interrompe a sua atividade durante julho e agosto, razão por que não se encontra acessível o formulário para envio de dúvidas (para outros assuntos, agradecemos o contacto via estes endereços). Mesmo assim, continuamos a dar aqui conta de artigos respeitantes à atualidade da língua portuguesa, inclusivamente de respostas que aguardam divulgação. É o que acontece neste dia, em que falamos da interjeição sus!, de adjetivos eruditos, do verbo despender e do gentílico suessião.

Lembramos ainda que se mantém acessível, como sempre, todo o nosso vasto arquivo de respostas e os mais diversificados textos sobre a língua portuguesa (consultar pelo motor de busca).

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

Assinalando os dez anos da morte de Sophia de Mello Breyner Andresen e o 40.º aniversário do 25 de Abril, são trasladados nesta data os restos mortais desta poetisa* portuguesa para o Panteão Nacional, em Lisboa. A decisão de conceder-lhe «honras de Panteão Nacional» decorreu de uma resolução do parlamento português, aprovada em 20 de fevereiro de 2014, no intuito de «[homenagear] a escritora universal, a mulher digna, a cidadã corajosa, a portuguesa insigne, e [evocar] o seu exemplo de fidelidade aos valores da liberdade e da justiça que nos devem inspirar como comunidade e projetar como País» (Resolução da Assembleia da República n.º 17/2014).

Na evocação deste dia, transcrevemos este belo poema de Sophia (igualmente incluído num conjunto de outros da mesma autora, na Antologia):

Breve encontro

Este é o amor das palavras demoradas
   Moradas habitadas
   Nelas mora
   Em memória e demora
   O nosso breve encontro com a vida.

 

* Tradicionalmente, poetisa é a forma do género feminino que corresponde a poeta (cf. Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Edições João Sá da Costa, 1984, pág. 198, e Evanildo Bechara, Moderna Gramática Portuguesa, Rio de Janeiro, Editora Lucerna, 2002, pág. 136). No entanto, certas figuras do meio literário português têm reivindicado o uso de poeta como substantivo comum de dois («o/a poeta»). Refira-se ainda que se regista, pelo menos, na variedade brasileira, preferência significativa pelo uso da forma poeta nos dois géneros (cf. Maria Helena de Moura Neves, Guia de Uso do Português, São Paulo, Editora UNESP, 2003, pág. 603). Cf. "Poetisa" inferioriza?

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

Ainda no contexto das comemorações à volta dos oitocentos anos do testamento de D. Afonso II, apresentamos uma entrevista que a linguista portuguesa Margarita Correia, presidente do Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC), concedeu ao espaço informativo Grande Jornal do canal RTP Informação em 28/06/2014. Na conversa com a especialista, foca-se naturalmente o significado do peso demográfico dos falantes de português na atualidade, mas também se abordam questões sobre o equilíbrio entre norma e variação, a aprendizagem do português como língua estrangeira, bem como o papel desempenhado pelo ILTEC na promoção internacional da língua. É o caso da colaboração com o Instituto Internacional da Língua Portuguesa, nos trabalhos para a elaboração do Vocabulário Ortográfico Comum e dos vocabulários nacionais com ele relacionados.

 

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

Comemora-se nesta data a passagem de oito séculos sobre o primeiro documento régio em português – o testamento de D. Afonso II, datado de 27 de junho de 1214. A efeméride é assinalada em Portugal por várias iniciativas, entre as quais se salientam neste dia:

– o programa de atividades do movimento Manifesto 2014, a decorrer no Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa;

– também na capital portuguesa, o lançamento de uma medalha comemorativa deste aniversário pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda e pela associação 8 Séculos de Língua Portuguesa, em parceria com o Centro Nacional de Cultura e a Biblioteca Nacional de Portugal (ver notícia).

Igualmente sobre este tema, leiam-se na rubrica Lusofonias os artigos "Língua portuguesa, recurso fabuloso", do deputado português José Ribeiro e Castro, e "A velhíssima mãe e os seus diferentes filhos", do jornalista Nuno Pacheco, ambos disponíveis no jornal Público deste mesmo dia.

O Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, associando-se à comemoração, dedica à riqueza e diversidade do idioma uma página da rubrica O Nosso Idioma com oito palavras de uso específico em cada um dos oito países da CPLP, nesta celebração de uma das grandes referências documentais dos primórdios da nossa história linguística.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

Qual será a etimologia de cavalheiro? É um castelhanismo, cuja forma original, caballero, significa afinal o mesmo que cavaleiro. A história da introdução desta e doutras palavras castelhanas na língua portuguesa reflete o ascendente que Castela alcançou na Península Ibérica a partir da Idade Média (na imagem, a bandeira do antigo reino). Em Portugal, foi nos séculos XVI e XVII que poetas e escritores mais cederam à sedução do idioma que hoje chamamos espanhol, ao ponto de nesse período se ter disseminado o bilinguismo entre as elites políticas e culturais portuguesas – não obstante haver resistentes como António Ferreira (1528-1569), que preferiam escrever apenas em português. A partir do século XVIII, porém, dir-se-ia que cessa totalmente a influência do espanhol, muito embora ela se note nuns poucos escritores, entre os quais se conta José Saramago (1922-2010), prémio Nobel da Literatura em 1998.

Tais são as considerações suscitadas por um interessante estudo do ensaísta e professor universitário português Fernando Venâncio, no qual, sob o título "José Saramago e a iberização do português. Um estudo histórico" [in Burghard Baltrusch (ed.) “O que transforma o mundo é a necessidade e não a utopia” – Estudos sobre utopia e ficção em José Saramago, Franck-Timme, 2014, págs. 95-126], se evidencia a progressiva castelhanização da escrita saramaguiana. Como convite à leitura, deixemos algumas palavras desse artigo: «É [na] contiguidade com a lição de Vieira, e com o idioma espanhol, que José Saramago se inscreve na nossa história cultural, e particularmente linguística.» Também de Fernando Venâncio, releia-se "Saramago, o ibérico", na rubrica Controvérsias.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

Acerca do Manifesto 2014, movimento de celebração da língua portuguesa a pretexto dos 800 anos do testamento de D. Afonso II (27 de junho de 1214), disponibiliza-se em Lusofonias um texto em que o deputado português José Ribeiro e Castro esclarece e defende a escolha desta efeméride como marco histórico das comemorações. Refira-se, a propósito, que, em Portugal, a Assembleia da República também entendeu assinalar o oitavo centenário do idioma, aprovando por unanimidade a instituição do Dia Internacional da Língua Portuguesa em 5 de maio, data coincidente com o Dia da Língua Portuguesa e da Cultura, estabelecido em 2005 pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

Como se chama o natural ou o habitante da Croácia? O Nosso Idioma identifica a forma correta do gentílico em questão com um texto de Edno Pimentel, a pretexto do jogo Brasil-Croácia, disputado no Campeonato do Mundo de Futebol que se realiza no Brasil até 13/07/2014. Na mesma rubrica, uma crónica de Wilton Fonseca recorda a origem do verbo xingar a propósito de uma situação que, em Portugal, envolveu o presidente da República no feriado de 10 de Junho. Passando ao Pelourinho, Paulo J. S. Barata comenta o uso do dispensável neologismo "resígnio", incorretamente usado no lugar de resignação, em contexto mais uma vez respeitante ao futebol. Quanto ao consultório, revisitam-se as figuras de estilo, os nomes étnicos (etnónimos), os neologismos, as regências e os tempos da flexão verbal.

Finalmente, assinalando a proclamação do rei Filipe VI1 em Espanha, em 19/06/2014, convém registar que, embora a casa real a que o monarca pertence seja frequentemente referida na comunicação social pelo nome espanhol Borbón (Casa de Borbón) ou pela grafia de origem francesa Bourbon2 (dadas as raízes desta dinastia em França), existe forma correspondente em português: Borbom (no plural, Borbons; ver Francisco Rebelo Gonçalves, Tratado de Ortografia Portuguesa, 1947, pág. 131, nota 3; e Vocabulário da Língua Portuguesa, 1966).

1 Observe-se que, em relação a figuras públicas, com a atual tendência para conservar a forma dos nomes próprios nas línguas originais, se torna discutível escrever Filipe à portuguesa, em vez de Felipe, forma espanhola, tendo em conta que o seu antecessor foi e é conhecido como Juan Carlos, e não João Carlos. Mas é igualmente certo que o novo rei de Espanha acaba por ficar incluído na já extensa lista de Filipes das casas reais de Espanha, os quais, em Portugal, são sempre mencionados com a grafia portuguesa, e nunca à maneira espanhola. Como é sabido, entre 1580 e 1640, Portugal esteve unido a Espanha sob o governo de três reis que se chamavam assim e que pertenciam à dinastia dos Habsburgos (também conhecida por Áustrias); ora, em referência a esse período, geralmente não se escreve «o tempo dos "Felipes"», mas, sim, «o tempo dos Filipes».  Trata-se, portanto, de um tema suscetível de gerar alguma discussão, que merecerá novo comentário nestas páginas.

2 Esta forma tem tido especial favor no uso, como José Pedro Machado sublinha no seu Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa (s.v. Borbom).

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

«... não metas a colher», diz o ditado, que até rima mas nem sempre é verdade. Seja como for, porque será que em português, para referir um cônjuge masculino, não se diz homem, mas, sim, marido? Já um cônjuge feminino é simplesmente mulher, não existindo outra palavra que não seja a aplicada genericamente a todo o ser humano do sexo feminino. É assim porquê? O consultório dá resposta não só a estas mas também a outras perguntas, a saber:

– haverá uma palavra que designa de modo sintético um «período de quinze anos»?

– que significado terá memória num título como "Memória económica, estatística e topográfica do reino do Algarve"?

– que tempos e modos verbais podem ocorrer numa interrogativa introduzida pela locução «e se...»?

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

Tendo em conta que a língua portuguesa define um espaço onde a comunicação é também partilha do que nos une e distingue, vem a propósito aqui referir notícias que fazem eco de experiências de intercâmbio e cooperação. Fale-se, por exemplo, do Brasil, que parece manifestar interesse pelo legado cultural de Portugal e chama a si a iniciativa de o divulgar junto da população. Tal é o propósito do Museu da Língua Portuguesa de São Paulo, que se prepara para organizar uma exposição interativa em homenagem a Eça de Queirós, provavelmente em 2015, segundo declarações do diretor da referida instituição, Antonio Carlos Sartini, em entrevista concedida ao jornal português Público. Enquanto isso, em Angola, no âmbito do programa CPLP nas Escolas e com o apoio da Universidade de Aveiro, lançou-se em 12/06/2014 uma plataforma eletrónica destinada a aprofundar o conhecimento dos países de língua portuguesa por parte de professores e alunos. Com a nova plataforma visa-se igualmente incentivar o trabalho colaborativo no tratamento de temas estudados em comum.