DÚVIDAS

Etimologia e fenómenos fonéticos de atum e mão

Gostaria de colocar dúvidas que considero pertinentes, pois um dos meus discentes ficou confuso e eu também. Lecciono o 9.º ano pela sexta vez e nunca me tinham ocorrido "problemas" com esta matéria. Em constante aprendizagem...

A dúvida surgiu devido à palavra latina thunum, que depois originou atum nos nossos dias. Poderia explicitar os fenómenos que ocorrem com esta palavra?

E no caso da palavra manu, que passou para mão? Sei que sucedeu uma nasalação por influência do n, mas depois esta desaparece e dá-se uma síncope?

Já agora, como sabemos que fenómeno ocorreu primeiro e sucessivamente? Há algum modo de o saber?

Agradeço desde já a sua colaboração.

Resposta

1. Atum

A palavra tem origem no grego thúnnos, ou, que se tornou thunnus, i ou thynus, i em latim. Mas, antes de ser transmitida ao português, ainda passou pelo árabe, assumindo a forma árabe at-tunn, «designação de peixes marinhos», segundo o Dicionário Houaiss. Este dicionário refere ainda que «segundo Nascentes, a pesca do atum nos mares do Sul da península Ibérica justifica a intermediação do árabe (cp. it. tonno, fr. thon); o rad. gr./lat. é a base do der. toninha ou toninho (cp. it. tonnina, fr. thonine, cat. tunyina, esp. toñina, gal. toulinha etc.).»

Sendo assim, o que aconteceu da forma árabe para a portuguesa foi a queda da consoante nasal final com nasalização da vogal anterior (at-tunn > atum, [atũ]). Em seguida, no português europeu, já depois do século XVI, é provável que o a- inicial, que é átono, se tenha fechada por acção da regra de elevação do vocalismo átono:[atũ] > [ɐtũ].

2. Mão

Segue-se o esquema que representa os fenómenos fonéticos ocorridos:

I. manu- > II. mão [mão] (com hiato) > III. mão [mɐ̃w] (com ditongo nasal)

De I para II, verificou-se a queda de -n- intervocálico, deixando nasalizada a vogal que o precedia (o mesmo aconteceu, por exemplo, a luna- > lũa, que hoje é lua, por desnasalização de [ũ]).

O modo de saber se o hiato passou a ditongo é muitas vezes contar as sílabas métricas de um poema. Enquanto mão aparece como dissílabo num poema da lírica galego-portuguesa, a partir de finais do século XV, a palavra é contada como uma sílaba métrica apenas, ou seja, é tratada como monossílabo.

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