1. Atum
A palavra tem origem no grego thúnnos, ou, que se tornou thunnus, i ou thynus, i em latim. Mas, antes de ser transmitida ao português, ainda passou pelo árabe, assumindo a forma árabe at-tunn, «designação de peixes marinhos», segundo o Dicionário Houaiss. Este dicionário refere ainda que «segundo Nascentes, a pesca do atum nos mares do Sul da península Ibérica justifica a intermediação do árabe (cp. it. tonno, fr. thon); o rad. gr./lat. é a base do der. toninha ou toninho (cp. it. tonnina, fr. thonine, cat. tunyina, esp. toñina, gal. toulinha etc.).»
Sendo assim, o que aconteceu da forma árabe para a portuguesa foi a queda da consoante nasal final com nasalização da vogal anterior (at-tunn > atum, [atũ]). Em seguida, no português europeu, já depois do século XVI, é provável que o a- inicial, que é átono, se tenha fechada por acção da regra de elevação do vocalismo átono:[atũ] > [ɐtũ].
2. Mão
Segue-se o esquema que representa os fenómenos fonéticos ocorridos:
I. manu- > II. mão [mão] (com hiato) > III. mão [mɐ̃w] (com ditongo nasal)
De I para II, verificou-se a queda de -n- intervocálico, deixando nasalizada a vogal que o precedia (o mesmo aconteceu, por exemplo, a luna- > lũa, que hoje é lua, por desnasalização de [ũ]).
O modo de saber se o hiato passou a ditongo é muitas vezes contar as sílabas métricas de um poema. Enquanto mão aparece como dissílabo num poema da lírica galego-portuguesa, a partir de finais do século XV, a palavra é contada como uma sílaba métrica apenas, ou seja, é tratada como monossílabo.