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Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

As notícias constantemente chamam a nossa atenção para nomes geográficos e étnicos que apresentam certas oscilações gráficas e morfológicas. Quem fixa essas palavras? Dê-se o exemplo de shabak, nome de um grupo étnico do norte do Iraque que é tema de uma das novas respostas do consultório. Poderemos apropriar-nos da forma usada em inglês, mas, se quisermos adaptá-la ao português, existem, pelo menos, duas possibilidades, ambas defensáveis. Como optar? Não será tempo de aqui intervir uma entidade que possa arbitrar casos como este, convencionando uma forma correta para evitar a proliferação de variantes? Quem? No Brasil, temos a Academia Brasileira de Letras, cujo VOLP já vai na sua 5.ª edição, mas... apenas para o Brasil. E em Portugal? A Academia das Ciências de Lisboa, cujo dicionário espera há anos atualização e o respetivo vocabulário, que ficou aquém das expectativas? Ou seria o vocabulário mais completo – e com estatuto oficial – no país, disponível no Portal da Língua Portuguesa? Ou – numa perpetiva integrada com todos os países de língua oficial portuguesa – caberia antes ao Instituto Internacional da Língua Portuguesa, que promove a elaboração do Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa? Ficam as perguntas, mas conviria aprender com o que se faz, por exemplo, com o espanhol em matéria de normatização linguística, por via da Fundéu1 – que bem podia ser tomado em conta nas recomendações, em Portugal, da Entidade Reguladora para a Comunicação (ERC), em sintonia com a plataforma que integra todas as entidades reguladoras do setor dos países e territórios de língua oficial portuguesa.

1 Dinamizada pela Agência Efe e com o financiamento do Banco Bilbao Vizcaya Argentaria (mais conhecido pela sigla BBVA), a Fundéu (Fundacion del Español Urgente) conta com assessoria da Real Academia Espanhola e demais academias da América latina de espressão castelhana, tendo como objetivo a promoção do bom uso do espanhol nos meios de comunicação e na Internet. Não será urgente criar algo semelhante, com caráter oficial, para a comunicação social que se expressa em português?

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Há dias em que fico completamente curvado com as palavras por dizer
e trepo por elas como uma escada
e deixo-as voar como música
com receio de que enferrujem as cordas que as sabem tocar.

Assim escreveu Amadeu Ferreira (1950-2015) em "Dues lhénguas"/"Duas línguas", transformando em poesia a experiência do bilinguismo. O poema, no qual se reveem certamente todos os que, desde a infância, falam duas línguas (às vezes mais), passa a estar disponível, quer no original em mirandês quer na sua tradução em português, na rubrica Diversidades, como tributo à memória deste autor, falecido em 1/03/2015, cuja biografia acaba de ser lançada em Lisboa:

O Fio das Lembranças – Biografia de Amadeu Ferreira (Âncora Editora), de Teresa Martins Marques

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Embora em Timor-Leste o português seja língua nacional (a par do tétum), a verdade é que a sua implantação neste país não é ainda satisfatória e pode piorar. Com efeito, chegam notícias segundo as quais, na sequência de nova legislação, o ensino da língua portuguesa deixa de integrar os primeiros anos do currículo e apenas ocorre a partir do 3.º ciclo de escolaridade. A medida surge no meio de certa contestação, sobretudo entre especialistas, como é o caso de Benjamim de Araújo e Corte-Real, diretor-geral do Instituto Nacional de Linguística de Timor-Leste, para quem atrasar o ensino do português é descurar a facilidade em aprender línguas que os jovens manifestam até 12 anos e, face a quem vive na cidade, deixar em desvantagem as regiões rurais, onde o conhecimento do português está muito menos consolidado, gerando-se assimetrias na igualdade de oportunidades. Perguntamos: conseguirá o português de Timor-Leste tornar-se uma verdadeira língua nacional? Procurando entender a situação linguística de Timor-Leste em tempos recentes, propomos a leitura dos seguintes artigos:

Timor-Leste, tétum, português, língua indonésia ou inglês?

Timor fala todas as línguas e nenhuma

Português, tétum ou tetuguês?

A língua portuguesa na mais próspera nação do planeta

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O mirandês, não sendo um dialeto do português, constitui parte importantíssima do património linguístico de Portugal. Foi sobretudo com José Leite de Vasconcelos (1858-1941) que os portugueses foram descobrindo e valorizando essa dimensão da diversidade linguística da região de Trás-os-Montes. Outras figuras se seguiram na tarefa de divulgar e promover o mirandês, mas, nas últimas décadas, Amadeu Ferreira contava-se entre aqueles que mais contribuíam para a afirmação deste idioma na contemporaneidade, com o estatuto de segunda língua oficial de Portugal. É, portanto, com enorme pesar que se regista o seu desaparecimento prematuro, em 1/03/2015. Amadeu Ferreira deixa uma obra extensa quer aos mirandeses quer aos portugueses em geral, mas dele fica ainda a memória de um enorme talento para cativar diferentes audiências pelas coisas da Terra de Miranda – a começar pelos jovens nas escolas.

De uma nota bilingue, intitulada "Nacimiento de Cousas Nuobas"/ "Nascimento de Coisas Novas", que a família de Amadeu Ferreira enviou à agência Lusa,  transcreve-se a seguinte citação do último livro deste autor, Belheç/Velhice, publicado sob o pseudónimo Fracisco Niebro:

Hai un tiempo para nacer i un tiempo para un se morrer.

L'alma nun puode bolar pa l cielo. Senó, cumo podien nacer cousas nuobas? Essa ye la rucerreiçon de las almas: son bidas nuobas. Son bichicos, arbicas i todo l que bibe.

Ye por esso que fázen mui mal an anterrar las pessonas ne l semitério: habien de las anterrar pul campo para ajudar las almas a nacer. Assi, Dius, seia quien fur, ten muito mais trabalho.

A tradução em português encontra-se na referida nota à imprensa, também disponível na rubrica Notícias – onde se dá conta, igualmente, das iniciativas de homenagem à memória de Amadeu Ferreira, previstas para a presente semana.

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São territórios que têm uma dimensão simbólica na construção da história social, política e cultural do português: se Goa evocará sempre o auge do expansionismo português no século XVI, a Galiza configura-se como ponto de partida do idioma e centro dinamizador da cultura em que Portugal se foi definindo nos alvores da Idade Média. Daí o relevo que merecem sempre as iniciativas de goeses e galegos no âmbito da promoção da língua portuguesa. Dois exemplos:

– o primeiro Festival da Lusofonia Goa 2015, que a Sociedade Lusófona de Goa organiza de 20/02 a 20/03 com o objetivo de dar a  conhecer a cultura dos países e regiões lusófonas, focando nesta edição Angola, Brasil, Cabo Verde, Macau, Portugal e Timor-Leste;

– a emissão que o programa Galicia por diante, da Rádio Galega, dedicou em 26/02 ao ensino do português na Galiza, já no novo contexto criado pelo memorando assinado pela Junta da Galiza e pelo Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, em 19/02, na Corunha (ouvir aqui).

 

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A crise financeira não larga Portugal, agravando problemas económicos e sociais. Mas há também motivo de preocupação para a língua portuguesa, porque, nas intervenções e declarações dos dirigentes políticos, se ouve novamente a forma incorreta "precaridade", em lugar da palavra devida, precariedade. É o que se conclui da cobertura mediática do encontro The Lisbon Summit 2015, promovido pelo jornal britânico The Economist no dia 24 de fevereiro em Cascais, que reuniu várias figuras políticas e empresários. Recordemos o que já se disse aqui acerca da razão de precariedade ter a forma que tem: "Precariedade... por mais que haja quem a ponha em causa", "Razões q.b. para recusarmos o barbarismo `precaridade´", "Precariedade, e não ´precaridade`", "Teimando no disparate `precaridade´".

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No contexto da aprendizagem do Português como Língua Estrangeira (PLE), reconhece-se a importância de os alunos desenvolverem muito cedo a capacidade de pôr em texto o registo das suas experiências e opiniões. Sobre esta necessidade, a rubrica Ensino disponibiliza uma breve reflexão de Ana Martins sobre os exercícios de escrita propostos pela Ciberescola da Língua Portuguesa aos seus alunos de PLE: os temas são bem concretos e podem vir a propósito, por exemplo, do sistema de cobrança de portagens das autoestradas portuguesas, ao que parece, nada favorável aos condutores estrangeiros.

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Quando no final de 1961, após mais de 400 anos de história como possessão de Portugal, o território de Goa foi integrado na União Indiana, a língua portuguesa viu bruscamente alterar-se aí a sua sorte, conotada que estava com o colonialismo; e, durante as últimas cinco décadas, o seu uso foi perdendo terreno para outros idiomas (o concani, o marata, o canada, o hindi, o urdu e o inglês). São, pois, de assinalar neste dia as celebrações do Dia da Língua Portuguesa (Portuguese Day), mais uma vez realizadas no Parvatibai Chowgule College, em Margão (Goa), com o apoio do Centro de Língua Portuguesa que o Camões – Instituto da Cooperação e da Língua mantém em Pangim. Contando com a participação de professores e alunos das escolas secundárias e do ensino superior do estado de Goa, a iniciativa abrange várias atividades (concursos, oficinas de trabalho) e inclui, além de uma exposição (O Potencial Económico da Língua Portuguesa), uma cerimónia de entrega de diplomas e certificados aos alunos que concluíram em 2014 os cursos de Língua e Cultura Portuguesas na instituição que acolhe o evento.

Cf. Júlio Gonçalves e a Literatura Romântica na Índia Portuguesa

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Novamente disponível e atualizada, a Plataforma do Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa (VOC) é lançada publicamente neste dia, na sede da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em Lisboa. Instrumento de gestão linguística cuja elaboração foi coordenada pelo Instituto Internacional da Língua Portuguesa, entidade responsável pela política da língua no âmbito da CPLP, o VOC reúne todos os vocabulários ortográficos nacionais (VON) dos Estados-membros, fixando a grafia das palavras conforme os princípios do novo Acordo Ortográfico, a que se acresce informação sobre a flexão e a divisão silábica dos vocábulos. Sublinhe-se que a importância deste instrumento advém igualmente de ser esta a primeira vez que países como Moçambique ou Timor-Leste tiveram a oportunidade de organizar os seus próprios vocabulários ortográficos nacionais, juntando-se assim a Portugal e ao Brasil, onde tal tipo de recursos já tem tradição. «Em fase de incorporação e já validado pelas autoridades competentes – segundo declarações do linguista José Pedro Ferreira ao Jornal de Notícias – encontra-se o vocabulário de Cabo Verde, enquanto o de São Tomé e Príncipe está em fase de validação.» Mais atrasados estão os trabalhos com os vocabulários da Guiné-Bissau e de Angola. É ainda de lembrar que o VOC foi oficialmente reconhecido pelos Estados-membros da CPLP mediante as conclusões finais da X Conferência de chefes de Estado e de Governo da CPLP, realizada em julho de 2014 em Díli. Mais pormenores na rubrica Notícias.

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Como no Brasil, também nos Açores se pode dizer apelido aquilo que no continente é conhecido como alcunha. E que alcunhas ou apelidos se usam no arquipélago? A rubrica O Nosso Idioma disponibiliza um texto do jornalista açoriano Joel Neto publicado no Diário de Notícias justamente sobre os nomes usados nas ilhas açorianas; são exemplos Chorica, porque o/a visado/a chora ou se queixa frequentemente, e Fininho, certamente em alusão à magreza –, mas há mais.

No Pelourinho, retomando anteriores chamadas de atenção registadas aqui no Ciberdúvidas – a última das quais foi esta –, inclui-se um apontamento do professor António Bagão Félix, respigado do blogue Tudo Menos Economia, sobre o uso incorreto do adjetivo humanitário na comunicação social portuguesa.

O consultório põe em foco dúvidas quanto à sintaxe e boa formação de palavras, além de explicar como se referenciam as imagens usadas num documento; e, ainda, em nota a uma resposta recente, a nossa consultora Sandra Duarte Tavares apresenta mais argumentos para considerar que a sequência «já tenho problemas que cheguem» é uma frase correta, ao contrário de «já tenho problemas "que chegue"».