« (...) Dividir e medir o tempo foi uma necessidade sentida desde os primórdios da civilização. (...)»
Estamos no início de mais um ano, no mês assinalado no calendário como Janeiro... Mas nem sempre o primeiro mês do ano foi o de Janeiro.
Comecemos por recordar a origem da palavra calendário: provém do latim (calendarium) e significava "livro de contas", "registo". O termo era utilizado, no tempo dos romanos, para designar o livro onde os agiotas apontavam o nome dos seus devedores, assim chamado porque era costume pagar as dívidas nas calendas de Janeiro. As calendas, entre os romanos, eram o primeiro dia de cada mês; este vocábulo provém do verbo calare (latim), que significa chamar, convocar, anunciar. A palavra calendário passou, depois, a designar o livro litúrgico onde está inscrita a cronologia das solenidades eclesiásticas.
Dividir e medir o tempo foi uma necessidade sentida desde os primórdios da civilização. As fases da Lua serviram de referência para as primeiras medições, as medições em meses de 29 e de 30 dias, que correspondiam genericamente ao período de tempo de uma lunação (cerca de 29 dias e meio). Depois, consideraram-se também as mudanças de estação como marcos divisórios da passagem do tempo, aparecendo, assim, a divisão em anos, determinada pelo movimento de translação da Terra. Como 12 lunações formam um período de 354 dias, que difere em 11 dias e um quarto do ano solar (365 dias), adoptou-se quase universalmente a divisão do ano em 12 meses. Mas, como no decurso dos anos, a diferença acumulada entre o ano solar e os 12 meses lunares é enorme, deixando de haver coincidência das estações do ano, abandonou-se o cômputo lunar, permanecendo, todavia, a medida do mês, só que com uma duração correspondente a uma duodécima parte do ano lunar.
Júlio César (46 a. C.) introduziu o calendário Juliano, segundo o qual o ano tem ordinariamente 365 dias, havendo de quatro em quatro um ano de 366 dias, atribuindo aos meses o número de dias que actualmente têm. Ou seja, foi considerado que cada ano teria 365 dias e um quarto, mas, na realidade, tem menos 11 minutos e 14 segundos do que a extensão atribuída, o que fez com que, dezasseis séculos depois (em 1582), a acumulação desses minutos perfizesse 10 dias, o que causava prejuízos, nomeadamente por causa da celebração da Páscoa e de outras festas móveis. Assim, o papa Gregório XIII, apoiado nos estudos do astrónomo Clavius, ordenou a supressão de 10 dias ao ano de 1582, tendo-se, também, convencionado suprimir o dia suplementar dos anos bissextos de final de século (1700, 1800, 1900...), ficando estes anos apenas com 365 dias. Desta maneira, a diferença entre o ano civil e o natural só atingiria um dia em 5000 anos. Este é o chamado calendário Gregoriano, o que seguimos hoje.
Quanto aos nomes dos meses, eles vêm do tempo dos romanos.
Janeiro tem este nome por ser consagrado a Jano, divindade masculina da mitologia romana, muito popular entre os romanos: no antigo ritual, o seu nome era invocado antes do de Júpiter. Era o deus do céu luminoso, o deus das origens e princípio de toda a existência; era ele que abria e fechava a luz do céu. Janeiro era o décimo primeiro mês do primitivo calendário romano.
A palavra Fevereiro vem do verbo latino februare, que significa "purificar", e está relacionado com Febro, deus dos mortos: Fevereiro era o mês da purificação e penitência. Primitivamente, era o último mês do calendário romano, pelo que nele se incluíam os dias que faltavam para completar o ano. Quando houve a reforma e a necessidade de acrescentar um dia de 4 em 4 anos, foi esse dia colocado em Fevereiro, o último mês.
Março era o primeiro mês do primitivo calendário romano. O seu nome deriva de Marte, deus da guerra.
O mês de Abril está relacionado com a deusa do amor, a grega Afrodite ou a romana Vénus. É possível que Abril derive do grego aphril, que significava "espuma", a espuma do mar de que Vénus nasceu, segundo a mitologia, ou que derive do próprio nome da deusa grega Aphrodite.
Quanto a Maio, a opinião mais corrente é que o mês tem este nome em honra da Bona Dea ou Maia, divindade a quem era dedicado o primeiro dia de Maio, festejado desde tempos imemoriais com uma festa chamada do Maio ou das Maias: a saudação ao renascer da vida vegetal.
Junho era o mês dedicado a Juno, mulher de Júpiter, a única deusa do Olimpo propriamente casada, sendo, pois, representada como a deusa do matrimónio.
Julho era o quinto mês do primitivo calendário romano (denominado Quirinalis). Marco António chamou-lhe Julius em honra do imperador Júlio César, o reformador do calendário romano.
O mês de Agosto tem este nome também em honra de um imperador romano, Octávio Augusto, que lhe deu o seu próprio nome (sextilis era a denominação primitiva), por ter sido neste mês que obteve o seu primeiro consulado e as primeiras vitórias.
Os quatro meses finais do ano mantêm no nome o elemento revelador da sua origem. Foram o sétimo, o oitavo, o nono e o décimo mês do primitivo calendário romano, cujo ano começava em Março: Setembro, de September (sete); Outubro, de October (oito); Novembro, de November (nove); Dezembro, de December (dez).
N.E. – Com o Acordo Ortografico de 1990, em vigor em Portugal desde 13 de maio de 2009 – e conforme a respetiva Base XIX* –, os meses e as estações do ano passaram a escrever-se com minúscula inicial, tal como os nomes dos pontos cardeais e colaterais.
Cf. Inicial maiúscula ou minúscula nas disciplinas: opcional (pós-Acordo Ortográfico) + À volta das maiúsculas + Ainda à volta das maiúsculas e das minúculas + O Acordo Ortográfico de 1990: situação atual (junho/2014) + Guia para a nova ortografia da língua portuguesa + Qual a razão de não chamarmos «primeira-feira» ao domingo?
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*«BASE XIX: DAS MINÚSCULAS E MAIÚSCULAS
A letra minúscula inicial é usada:
a) Ordinariamente, em todos os vocábulos da língua nos usos correntes. b) Nos nomes dos dias, meses, estações do ano: segunda-feira; outubro; primavera. c) Nos bibliónimos/bibliônimos (após o primeiro elemento, que é com maiúscula, os demais vocábulos podem ser escritos com minúscula, salvo nos nomes próprios nele contidos, tudo em grifo): O Senhor do Paço de Ninães, O Senhor do paço de Ninães, Menino de Engenho, Menino de engenho, Árvore e Tambor ou Árvore e tambor. d) Nos usos de fulano, sicrano, beltrano. e) Nos pontos cardeais (mas não nas suas abreviaturas): norte, sul (mas: SW sudoeste). f) Nos axiónimos/axiônimos e hagiónimos/hagiônimos (opcionalmente, neste caso, também com maiúscula): senhor doutor Joaquim da Silva, bacharel Mário Abrantes, o Cardeal Bembo; santa Filomena (ou Santa Filomena). g) Nos nomes que designam domínios do saber, cursos e disciplinas (opcionalmente, também com maiúscula): português (ou Português), matemática (ou Matemática); línguas e literaturas modernas (ou Línguas e Literaturas Modernas). |
2 | A letra maiúscula inicial é usada:
a) Nos antropónimos/antropônimos, reais ou fictícios: Pedro Marques; Branca de Neve, D. Quixote. b) Nos topónimos/topônimos, reais ou fictícios: Lisboa, Luanda, Maputo, Rio de Janeiro, Atlântida, Hespéria. c) Nos nomes de seres antropomorfizados ou mitológicos: Adamastor; Neptuno/ Netuno. d) Nos nomes que designam instituições: Instituto de Pensões e Aposentadorias da Previdência Social. e) Nos nomes de festas e festividades: Natal, Páscoa, Ramadão, Todos os Santos. f) Nos títulos de periódicos, que retêm o itálico: O Primeiro de Janeiro, O Estado de São Paulo (ou S. Paulo). g) Nos pontos cardeais ou equivalentes, quando empregados absolutamente: Nordeste, por nordeste do Brasil, Norte, por norte de Portugal, Meio-Dia, pelo sul da França ou de outros países, Ocidente, por ocidente europeu, Oriente, por oriente asiático. h) Em siglas, símbolos ou abreviaturas internacionais ou nacionalmente reguladas com maiúsculas, iniciais ou mediais ou finais ou o todo em maiúsculas: FAO, NATO, ONU; H2O, Sr., V. Ex.ª. i) Opcionalmente, em palavras usadas reverencialmente, aulicamente ou hierarquicamente, em início de versos, em categorizações de logradouros públicos: (rua ou Rua da Liberdade, largo ou Largo dos Leões), de templos (igreja ou Igreja do Bonfim, templo ou Templo do Apostolado Positivista), de edifícios (palácio ou Palácio da Cultura, edifício ou Edifício Azevedo Cunha). Obs.: As disposições sobre os usos das minúsculas e maiúsculas não obstam a que obras especializadas observem regras próprias, provindas de códigos ou normalizações específicas (terminologias antropológica, geológica, bibliológica, botânica, zoológica, etc.), promanadas de entidades científicas ou normalizadoras, reconhecidas internacionalmente.»
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Texto publicado no Diário do Alentejo de 9 de janeiro de 2009.