O primeiro dicionário português data de 1569 e teve sete edições até 1694. É da autoria do célebre humanista Jerónimo Cardoso, denomina-se Dicionário Latino-Lusitânico/Lusitânico-Latino (traduzimos o título) e contém cerca de seis mil termos ou frases latinas com a tradução portuguesa. De 1551 a 1570, J. Cardoso escreveu diversos dicionários do género. A nossa lexicografia começa assim logo no século XVI.
Em 1611, Agostinho Barbosa realiza um Dictionarium Lusitano-Latinum, mais copioso que o anterior.
O dicionário de D. Rafael Bluteau tem oito volumes e inclui muitos provérbios. Para o tempo é importantíssimo e ainda hoje é bom. Bluteau era francês, mas veio para aqui e passou a ser um verdadeiro português. A obra chama-se Vocabulário Português e Latino e teve mais dois volumes de suplemento. Publicou-se de 1712 a 1728.
António de Morais Silva fez, em dois volumes, o resumo do dicionário de Bluteau, o qual intitulou Dicionário da Língua Portuguesa (1789). É um dos melhores que temos tido, e a sua melhor edição é a segunda, ampliada (1813). Morais formou-se em Direito em Coimbra, mas tinha nascido no Brasil, antes da independência portanto. A ideia de extrair de Bluteau um dicionário mais pequeno veio do facto de o Vocabulário deste ser pouco manuseável. A partir da 2.ª edição do Dicionário, Morais já lhe chama a sua obra. Depois saíram mais oito edições, mas a mais digna de confiança é a segunda, pois as outras têm adições más e boas, que não lhe pertencem. Nas últimas, incluindo a nona, os editores acrescentaram etimologias, algumas muito cómicas. Os brasileiros fizeram uma edição fac-similada da segunda, em 1922, sob a direcção de Laudelino Freire.
O Grande Dicionário Português ou Tesouro da Língua Portuguesa, de Frei Domingos Vieira, é melhor que os anteriores, quanto ao plano, mas ainda assim não é grande coisa. Consta de cinco volumes, e saiu entre 1871 e 1874.
Valorizam-no duas grandes introduções, uma linguística, de Adolfo Coelho, e a outra literária, de Teófilo Braga.
A propósito de dicionários caricatos, para nos rirmos não pode deixar de mencionar-se o de Frei Bernardo de Melo Bacelar, autor de um, que é maravilha de disparates; assim define caracol como «peixe gelatinoso de espiral figura» e cachucho «peixe de cachaço gostoso»!
Depois, o mais importante é o Elucidário de Frei Joaquim de Santa Rosa de Viterbo. O título completo é Elucidário das Palavras, Termos e Frases que em Portugal se Usaram e que Hoje Regularmente se Ignoram (1798-99), em dois volumes. Trata-se de importante tentativa de dicionário de português arcaico, em que a par de pobreza de vocabulário há riqueza de informações. Traz citações que abonam as palavras. Tem três edições, sendo a primeira raríssima; a segunda foi dirigida por Inocêncio da Silva e não merece confiança (foi criticada por Adolfo Coelho e Leite de Vasconcelos). No nosso tempo saiu a terceira, a cargo de Mário Fiúza, que pretendia desenvolvê-lo em vários volumes, o que foi impedido de realizar devido a imperativos editoriais, pelo que foi publicado à mesma em dois volumes, com grande desproporção entre ambos (o 1.º só abrange a letra A, e o segundo todas as outras!). Entretanto (1910), Henrique Brunsvicx fez, entre outros trabalhos lexicográficos, um Dicionário da Antiga Linguagem Portuguesa, decalcado em Viterbo, que publicara um extracto do seu próprio Elucidário.
É a altura de falar das nossas tentativas megalómanas da Academia das Ciências de Lisboa. Em vez de publicar um bom dicionário em um ou dois volumes, do género dos que deram a lume as suas congéneres francesa e espanhola, nunca a nossa Academia passou da letra A, embora num enorme volume (que acabou em... Azurrar) em 1793 e em 1976 (terminado um primeiro e também único grosso volume no vocábulo Azuverte). Do mais antigo existe a reprodução fac-similada, in folio, assinalando o II Centenário da Edição; compreende CXVII páginas de preâmbulo, estudo linguístico e fontes literárias, a cargo de Pina Martins e Malaca Casteleiro, seguidas de outras 543, que são o fac-símile da edição de 1793. O de 1976, começado em 1962, é publicação comemorativa do 2.º centenário da fundação da Academia das Ciências de Lisboa, tem CXV páginas introdutórias de Joseph M. Piel, Malaca Casteleiro, J. Prado Coelho e José A. Teixeira, seguindo-se 678 páginas do dicionário propriamente dito.
Mais valia, na realidade, uma obra num grande volume, mas de A a Z, como o «Dicionario de la Lengua Castellana» da Real Academia Española, de Madrid, que em 1852 já ia na 10.ª edição, em 1947 publicou a 17.ª, e depois pelo menos mais uma.
O dicionário de Eduardo Augusto de Faria (1849) teve quatro edições, a última iniciada no Brasil. No dizer do nosso grande Mestre Rodrigo de Sá Nogueira, é um plágio, «não vale dois caracóis». Os dois grossos volumes esgotaram-se, mas depois de três edições fugiu cheio de dívidas para o Brasil, onde começou a editar o seu dicionário pela quarta vez, fugindo depois para Inglaterra, onde morreu. O dicionário tem uma parte de sinónimos, que é a cópia do dicionário de José Inácio Roquete (1850), que é óptimo. Roquete também é autor de um bom dicionário da Língua, embora pequeno. O Padre Roquete passou quase toda a vida em Paris, mas não se deixou contaminar pelos galicismos.
Correia de Lacerda tinha obrigação de ser melhor que Faria, cuja 4.ª edição publicou, pois a sua preparação era maior, mas não fez grande coisa, porque se deixou arrastar por aquele. Tem uma parte de sinónimos, que foi publicada à parte, em 1860.
O Dicionário de F. S. Constâncio também não vale muito, apesar de constituir um grosso volume. Entrou no campo da etimologia, chegando a ser «muito patusco», na apreciação divertida de Sá Nogueira. Mesmo assim tem umas cinco edições (a 1.ª é de 1836).
Ainda no século XIX, o Dicionário Manual Etimológico da Língua Portuguesa de Adolfo Coelho (1890), embora deixe muito a desejar, precisamente na parte etimológica, não se deve pôr de parte, pois encerra coisas boas.
António Lopes dos Santos Valente é autor do Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa, prefaciado por Carlos Aulete. É rico em abonações, mas apresenta grandes defeitos. O Contemporâneo é muito conhecido pelo nome de Carlos Aulete, mas foi Santos Valente quem coligiu os materiais. Muitas palavras vulgares e correntes não aparecem nele. Na etimologia é bastante fraco. Dele saiu apenas uma edição em vida do autor. Posteriormente saiu outra, a de Silva Bastos, não sendo por isso já só o Contemporâneo. Tem de bom a pronúncia das palavras, hoje mais dispensável que no tempo da chamada ortografia etimológica.
Cândido de Figueiredo escreveu, em 1899, o Novo Dicionário da Língua Portuguesa, bem-vindo na ocasião, pois veio desbancar o Contemporâneo e o Morais. Na apreciação de Sá Nogueira, é o mais rico, o mais modernizado até então, com pequenas abonações e etimologias, embora fraco nestas (mas menos que o Contemporâneo).
A quarta edição (1926), última da vida do autor, é a melhor. Cândido de Figueiredo, que era formado em Direito, teve a preocupação de armazenar tudo, mesmo provincianismos. O Dicionário teve muita saída, nos seus dois grossos volumes; C. de Figueiredo continuou as suas investigações e, passados anos, saíram sucessivamente mais três edições, cada uma melhor que a anterior. A quinta, póstuma, já não é absolutamente só dele. Para Rodrigo de Sá Nogueira, um dos grandes valores de C. de Figueiredo é o seu dicionário, que se ocupa também um pouco da parte dialectal, como se disse.
Aniceto dos Reis Gonçalves Viana (1840-1914) escreveu as Apostilas aos Dicionários Portugueses (2 volumes) e o Vocabulário Ortográfico e Ortoépico da Língua Portuguesa. Até aos nossos dias foi o nosso maior foneticista, de fama internacional.
Monsenhor Sebastião Rodolfo Dalgado estudou as influências mútuas do português e das línguas orientais, nomeadamente no Glossário Luso-Asiático, em dois volumes (1919-1921).
O Dicionário Prático Ilustrado de Jaime Séguier é a adaptação do «Petit Larousse» ao português, traduzindo-o quase. Não respeitou a propriedade literária, a casa Larousse moveu-lhe um processo e foi indemnizada. Além de não ser original, tem erros.
O Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa, de Vasco Botelho de Amaral, é uma obra especializada, melhor que os estrangeirismos de Cândido de Figueiredo, que igualmente é bastante útil. Também de grande utilidade é o Dicionário Geral e Analógico da Língua Portuguesa, de Artur Bívar (1881-1946).
De mencionar são ainda alguns dicionários de formato menor, como o de Francisco Torrinha, Augusto Moreno e até o do Povo, mas sobretudo o da Porto Editora, que já vai na 7.ª edição, traz etimologias geralmente seguras, e é bastante bom sob vários aspectos, designadamente o da modernidade.
Francisco Rebelo Gonçalves é autor do insubstituível Vocabulário da Língua Portuguesa (1966), há trinta anos à espera de ser reeditado.
José Pedro Machado é o principal autor da 10.ª edição do Grande Dicionário da Língua Portuguesa de Morais, em 12 volumes, riquíssimo especialmente de abonações que nele introduziu, e do Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, cuja 1.ª edição tinha dois grandes volumes (1950-1959). Com base no seu Morais, a Sociedade de Língua Portuguesa e, posteriormente, entre outros editores, o Círculo de Leitores publicaram-lhe o Grande Dicionário da Língua Portuguesa, em seis volumes que abrangem cerca de 120 mil palavras, acompanhadas da sua origem.
Devido à sua extensão, a parte consagrada à língua portuguesa na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira é sem dúvida a maior registada em todos os dicionários. Esta Enciclopédia, cuja publicação se iniciou em 1936, consta de 40 volumes iniciais, a que se seguiram mais 10 de Actualização (1981-1990), aos quais estão a juntar mais seis da nova Actualização (além dos Livros do Ano, que a mantêm permanentemente actualizada).