Aberturas - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Aberturas
Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

A globalização é sobretudo feita em inglês (até agora, quis a História que fosse assim) e gera muitas vezes a crença segundo a qual a cultura hegemónica associada equivale a um modelo universal de pensamento e comunicação. O confronto com outras línguas, incluindo a portuguesa, mostra, porém, que existem princípios e formulações alternativas na interação linguística. Ao encontro deste tema, a rubrica O Nosso Idioma divulga uma crónica da autoria do escritor português Miguel Esteves Cardoso, acerca de um exemplo da fraseologia lusitana: «Não! Chama-lhe parvo/parva!» Não contestando a diversidade e a criatividade linguísticas, a linguista Margarita Correia leva ao Pelourinho um caso de desadequação semântica e referencial no discurso jornalístico, decorrente da pressa e do imperativo de escrever um título curto. Ainda na perspetiva da comunicação, comenta-se a frase «há muito tempo que não te via» numa nova resposta do consultório, onde outros tópicos têm igualmente discussão: a história do verbo querer, a aceitabilidade do neologismo espetacularizar, a formação da palavra carrega, o significado do substantivo escambau e o uso de maiúscula no pronome relativo «o qual».

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

A rubrica Nosso Idioma divulga uma crónica, saída no jornal i, em que Wilton Fonseca surpreende no discurso político português um caso de sintaxe com duplo sentido, capaz de afetar a interpretação da expressão idiomática «lavar as mãos». Fugindo à ambiguidade e aos mal-entendidos, o consultório propõe distinguir cognome de epíteto e definir a função sintática de bem em «fazer bem a alguém». Outros tópicos abordados nas novas respostas: o topónimo Fundão, o aumentativo corpanzil, a expressão «andar à lebre», o etnónimo caingangue e a construção «nada de importante».

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

Duas novas entradas na rubrica Montra de Livros ficam a ilustrar a língua no seu duplo registo, o da teoria e da sua aplicação prática, e o da fala popular:

• A Língua Portuguesa (Teoria. Aplicação e Investigação), obra que acaba de ser lançada, reunindo alguns dos mais importantes artigos escritos pela linguista portuguesa Maria Helena Mira Mateus, consagrados ao estudo das línguas e à apresentação de resultados da investigação sobre questões particulares do português.

• A Medicina na Voz do Povo – livro que já leva alguns anos de publicação (2007), a partir de uma sugestiva recolha aí compilada pelo otorrinolaringologista português Carlos Barreira da Costa de trinta anos de histórias, crenças e dizeres populares que foi ouvindo, e registando, nas suas consultas de médico.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

Em Portugal, um surto da doença do legionário (ou «doença dos legionários» ou, ainda, legionelose) na região de Lisboa, mais precisamente em Vila Franca de Xira, trouxe para a atualidade a grafia da Legionella pneumophila. Na página da Direção-Geral de Saúde, a informação disponível explica que a doença é «causada por bactérias do género Legionella», nome de configuração latina, como acontece na elaboração de terminologias científicas, sobretudo nas taxonomias da Biologia.  

Por seu lado, os meios de informação portugueses têm-se referido à bactéria pelo género a que pertence na taxonomia, Legionella, ou pela sua espécie, Legionella pneumophilla (na imagem, à direita)1, nem sempre em itálico como deveriam, de modo a assinalá-las como palavras não portuguesas; outras vezes, ocorre o itálico, mas o termo que designa o género (Legionella) aparece com minúscula inicial, ao contrário do que é usual nos nomes científicos (táxones).

Ora, a palavra tem, há muito, feição portuguesa: legionela — tal como o registam o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, o Dicionário de Termos Médicos da Infopédia, o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora (igualmente disponível na Infopédia) e o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Nestas duas últimas fontes, salienta-se que os termos «doença dos legionários» e Legionella/legionela têm origem em criações da língua inglesa, alusivas ao facto de a afeção em causa ter sido diagnosticada pela primeira vez em membros da American Legion («Legião Americana»), na sequência de um encontro realizado em junho de 1976, na cidade norte-americana de Filadélfia. O termo Legionella refere precisamente os protagonistas dessa situação, porque deriva do latim legio, legionis, ou seja, «legião».

O termo Legionella (termo científico) pode, portanto, ser substituído por legionela em textos que não requeiram o mesmo grau de especialização que um artigo científico.

1 Estes nomes científicos fazem parte das "Approved Lists of Bacterial Names", publicadas em janeiro de 1980, no International Journal of Systematic and Evolutionary Microbiology, publicação oficial para registo dos nomes de bactérias definidos pelo International Committee on Systematics of Prokaryotes (ICSP). Acerca de nomes para outros reinos na perspetiva taxonómica, ler a resposta Nomes científicos dos animais, de Gonçalo Neves.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. O Luxemburgo voltou a ser notícia na sequência de revelações (Luxembourg leaks) sobre um acordo secreto entre centenas de empresas multinacionais e o governo luxemburguês, na época em que era primeiro-ministro o atual presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker. Notícia que deu azo a uma proliferação de pronúncias bem escusada sobre o apelido/sobrenome Juncker. Recordamos, por isso, o que já antes aqui fora sugerido  como mais aproximada da forma de dizer original: "iúnquer". Por estarem igualmente na atualidade noticiosa, vale a pena lembar a prolação recomendadada para outros nomes estrangeiros muito ouvidos no audiovisual em língua portuguesa. São os casos, por exemplo, de IKEA (= "iquêa"), de Nobel (="nobél") ou de Gulbenkian (= "gulbenquiã")*. E, porque importa adaptar com critério as palavras estrangeiras entradas no léxico comum, permita-se-nos voltarmos a esta outra recomendação: do ponto de vista ortográfico, a forma "jihadista" é anómala (correto: jiadista).

* Refiram-se ainda situações de distorção fonética provavelmente por imitação de estrangeirismos ou por crença dos falantes na proveniência estrangeira de uma forma. É o caso de ONU (="onú"), que, apesar de sigla de expressão portuguesa («Organização das Nações Unidas»), anda incorretamente pronunciada como "ónu".

2. Que significa mancuniano? E escochado? Existe "desertizar"? Um título é um nome próprio? As respostas estão no consultório.

3. A linguista portuguesa Maria Helena Mira Mateus, professora jubilada da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), tem um novo livro, a que deu o título A Língua Portuguesa, Teoria, Aplicação e Investigação. O lançamento realiza-se em 11 de novembro, às 18h00, no salão nobre do Camões IP, em Lisboa, e tem apresentação do linguista e professor universitário Carlos A. M. Gouveia (FLUL).

4. No programa de rádio Língua de Todos de sexta-feira, 7/11/2014, às 13h15* na RDP África (com repetição no dia seguinte depois do noticiário das 9h00*), Maria Helena Ançã, professora da Universidade de Aveiro, fala sobre um estudo que envolveu portugueses, brasileiros e cabo-verdianos sobre a partilha da língua portuguesa. Quanto ao Páginas de Português, ao contrário do que é hábito, não se realiza a emissão de domingo, 9/11, por imperativos de programação na Antena 2.

* Hora oficial de Portugal continental, ficando também disponível via Internet, nos endereços de ambos os programas.

5. Os materiais da Ciberescola da Língua Portuguesa e dos Cibercursos estão ao dispor da comunidade escolar, para apoio do ensino-aprendizagem do português (língua materna e língua não materna). E para estudantes estrangeiros, as duas plataformas ministram cursos individuais (Portuguese as a Foreign Language), de acordo com diferentes níveis de proficiência. Mais informação no Facebook e na rubrica Ensino.

6. Para apoiar o custeamento do serviço aqui prestado, gracioso e sem fins lucrativos, reiteramos o apelo SOS Ciberdúvidas. O nosso agradecimento pela generosidade.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

Locuções e frases inteiras que dizemos «da boca para fora»*, sem esforço mental aparente (mas com sentido, ainda que inconsciente), recheiam o nosso discurso e constituem uma classe lexical, a das expressões idiomáticas, fraseologias ou sintagmas fixos. Ao encontro deste tema, a rubrica O Nosso Idioma inclui uma crónica da psicóloga clínica e psicoterapeuta Isabel Leal, que propõe uma análise do que deixamos subentendido quando proferimos, com ironia ou sincero espírito de ajuda, o enunciado  «esteja descansado», recorrente no português de Portugal. No Pelourinho, disponibiliza-se um texto em que Miguel Esteves Cardoso foca o uso e abuso da expressão escrita «reservado» nos assinaladores que pululam atualmente sobre as mesas de tantos restaurantes portugueses. Finalmente, o consultório propõe explorar a etimologia do nome próprio Teresa e da palavra latina citius, aproveitada como denominação de um (controverso) portal informático do Ministério da Justiça português; os vocábulos puzzle e quebra-cabeças são igualmente comentados.

* Segundo o dicionário da Academia das Ciências de Lisboa (s.v. boca), «dizer alguma coisa da boca para fora» significa «dizer apenas por dizer; dizer sem seriedade ou convicção»

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

E se o Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) fosse reestruturado e se transformasse numa Academia de Academias da Língua, para se afirmar como entidade independente da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP)? Não seria esta situação mais favorável à coordenação e execução das tarefas de normativização linguística, libertando o IILP da pressão direta de interesses de outra ordem? São estas fundamentalmente as questões que, num artigo inédito e em linha na rubrica Lusofonias, o professor Fernando Cristóvão, antigo presidente do Instituto da Língua e Cultura Portuguesa, debate e aprofunda como proposta alternativa para o funcionamento do IILP.

No Pelourinho, fica em linha uma crónica do jornalista português Ferreira Fernandes, publicada no Diário de Notícias de 3/11/2014, sobre um caso jornalístico ele, sim,  deplorável – e não propriamente a situação aí aludida.

No consultório, pergunta-se:

• Será correto dizer «era vivo», em vez de «estava vivo»?

• Qual é a classe de palavras da locução «com efeito»?

• Como classificar «para ele» na frase «este livro é para ele»?

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

Em tempo de Todos os Santos, agora acompanhados de bruxas ou fantasmas célticos e germânicos – o Halloween também procura assustar há alguns anos em Portugal...  ao arrepio da tradição  popular do país –, vem a propósito um pavoroso neologismo de recente data. É o jornalista português Ferreira Fernandes que descobre a palavra, assinalando com ironia a sua entrada no uso, numa crónica alusiva a notícias sobre crimes perpetrados em França por indivíduos mascarados de palhaço (em inglês clown, palavra também usada em francês):

«[...] com os ataques de clowns em França descobrimos o que é coulrofobia, o medo de palhaços. Que os palhaços podem meter medo já sabíamos desde a boca rasgada do Joker, no Batman, ou desde o romance de horror It, sobre um palhaço que vive nos esgotos de uma cidadezinha americana e mata crianças... Ainda não sabemos é se já havia coulrofobia antes [de o] escritor Stephen King ter ido por aí ou Jack Nicholson ter decidido ser mais uma vez excelente.»

Acresce que, em português, o primeiro elemento de "coulrofobia" tem configuração invulgar, sendo difícil até de pronunciar. O mal já vem do inglês coulrophobia, termo surgido há cerca de trinta anos para designar o «medo extremo ou irracional dos palhaços». Acontece que o elemento coulro-, pretensamente de origem grega, é, afinal, uma criação pseudoerudita bastante discutível na própria língua inglesa, como observa o muito útil Online Etymology Dictionary. Se assim é, mais prudente se afigura empregar a expressão «fobia dos/aos palhaços» – menos económica, é verdade, mas com certeza mais consistente. É caso para dizer: monstros como "coulrofobia" escusam de aparecer na festa, porque temos de sobra. Basta lembrar o arrepiante e incoerente "jihadista"...

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

Será indiferente usar assassínio ou homicídio? Foi esta a questão levantada em Portugal por vários jornalistas ao noticiarem a pena aplicada ao atleta sul-africano Oscar Pistorius (na foto) na sequência do crime de que foi acusado. Como mostra o jurista Miguel Faria de Bastos, na rubrica O Nosso Idioma, há realmente diferença entre os dois vocábulos, e esta insere-se noutro contraste mais alargado, o existente entre o discurso corrente e a linguagem especializada de qualquer campo técnico ou científico.

No consultório, faz-se a destrinça entre as expressões «de molde a» e «de modo a», dá-se nome português à cidade alemã de Rostock, define-se paródia e identifica-se a classe de palavras de sequer.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

Nas Controvérsias, dois textos em confronto por causa das palavras jiadejiadista:

– uma crónica da cronista Ana Cristina Leonardo (ACL) publicada em 18/10/2014, no semanário português Expresso, na qual a autora contesta a recomendação feita pelo Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para o uso de jiadista em vez de "jihadista";

– a carta (versão integral) que José Mário Costa, coordenador editorial do Ciberdúvidas, enviou ao mesmo semanário, para rebater as observações de ACL; e, em nota final sobre o desbragado uso de estrangerismos na imprensa portuguesa, para assinalar o que resulta da interferência da ortografia anglo-saxónica: precisamente, a adoção acrítica de formas incoerentes como "jihadista".

No consultório, revela-se que a expressão «quanto mais não seja» é, afinal, «quando mais não seja», e que proeminente nem sempre é o mesmo que preeminente. Outras questões: o que é zureta? Castro Daire tem grafia alternativa? Como analisar uma frase em que ocorre o verbo vir?