Pelourinho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Registos críticos de maus usos da língua no espaço público.

A confusão entre os substantivos descrição e discrição é muito comum nos jornais portugueses, pouco atentos a estes dois casos de palavras parónimas. Desta vez foi A Bola que, na sua edição online de 12 de junho de 2012, ao transcrever o comunicado de demissão do vice-presidente do Sporting, Paulo Pereira Cristóvão, referia:

«Essa situação era do conhecimento de um grupo restrito de pessoas, às quais, desde já, agradeço a descrição mantida durante esse período.» (A Bola)

Nada a fazer: o modismo do "Rónaldo", com o o artificialmente aberto, pegou de estaca no audiovisual português.

A confusão entre os verbos vir e ver é recorrente mesmo na comunicação social escrita. Desta vez foi o Diário de Notícias (DN) que errou ao referir, numa pequena notícia sobre a proibição de as mulheres iranianas assistirem, em ecrãs gigantes, às transmissões públicas dos jogos do Euro 2012:

«Os homens quando vêm futebol ficam excitados, tornam-se vulgares e até dizem piadas porcas» (DN, n.º 52 292, de 12 de junho de 2012, p. 35).

Há uns dias numa entrevista ao jogador do Sporting Fito Rinaudo podia ler-se:

«Eles vivem as coisas assim, com pressão mas para mim isso não tem pressão alguma. Se jogo uma final riu-me , pois já joguei no inferno, temos que nos adaptar.» (A Bola, 4 de junho de 2012).

No semanário Expresso(Primeiro Caderno, n.º 2064, 26 de maio de 2012, p. 25), numa notícia sobre uma parceria entre a Cáritas e o Banco Espírito Santo, escreve-se:

«Muitas das solicitações que chegam à organização “são para arranjar emprego”, conta Eugénio Fonseca. “Daí que haja uma componente de empregabilidade na pareceria com o Banco Espírito Santo" […]».

Dracma “ele”, escrevem uns jornais, dracma “ela”, escrevem outros, a propósito de a Grécia sair ou não do euro. Texto publicado no jornal i de 25/05/2012.

 

A Grécia sai do euro ou não sai? O euro e a Europa sobrevivem? Em meio a ciclópicas indefinições e labirintos de incertezas, saber se “dracma” é “ele” ou “ela” não parece importante. Mas convinha que os jornalistas estivessem de acordo. É uma questão de fé.

Numa entrevista publicada no Diário de Notícias (n.º 52 267, de 18 de maio de 2012, p. 56) e a propósito de uma eventual participação de árbitros estrangeiros na Liga Portuguesa de Futebol Profissional, o antigo árbitro António Garrido afirmava:

«Sou favorável a que esses intercâmbios abranjam países como Itália, Espanha, Inglaterra… Mas atenção: o intercâmbio tem de ser mútuo, árbitros estrangeiros em Portugal e árbitros portugueses no estrangeiro.»

O Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) publicou no Expresso (Primeiro Caderno, n.º 2063, 12 de maio de 2012, p. 31) um anúncio com o seguinte texto:

«Quem tem uma média acima da média merece o nosso reconhecimento.

Quadro de Honra* do ISEG

[Seguem-se os nomes]

*Licenciados com media igual ou superior a 16 valores entre 1915/1916 e 2010/2011.

Há adjetivos que, pura e simplesmente, não admitem graduação. É o caso de favorito. Ou se é ou não se é, como escreve o jornalista Wilton Fonseca, neste texto publicado no jornal "i" de 11/05/2012.

 

Ao longo da campanha [das presidenciais, em França], à medida que o domingo eleitoral se aproximava, François Hollande passou de “candidato” a “favorito”, de “favorito” a “mais favorito” e finalmente a “cada vez mais favorito” (“Público”, dois dias antes das eleições).

O <i>plafond</i> e demais família

«Sem se importar com a tradução mais óbvia – o vulgaríssimo «tecto» – o "plafond" montou casa para toda  a família: o “plafonamento”, o “plafonado” e o “plafonar” já estão instalados; aguarda-se para breve a chegada dos demais parentes». Texto publicado no diário “i” de 27/04/2012, à volta de um modismo que medrou nos media e na boca dos políticos portugueses. Manteve-se a grafia de 1945, seguida ainda pelo jornal. Titulo da responsabilidade do Ciberdúvidas, adaptado a esta rubrica.