cantando, a Pátria nasceu;
Portugal floriu comigo
quando a poesia cresceu.
oh graça e sorriso dos poemas primeiros!
tanto andei a navegar,
que nos meus ritmos ficaram
íris e longes do mar. <...
Crónica da escritora brasileira Clarice Lispector (1920-1977) , incluída no livro A Descoberta do Mundo, editado postumamente, em 1984.
Nunca o Silvestre tinha tido uma pega com ninguém. Se às vezes guerreava, com palavras azedas para cá e para lá, era apenas com os fundos da própria consciência. Viúvo, sem filhos, dono de umas leiras herdadas, o que mais parecia inquietá-lo era a maneira de alijar bem depressa o dinheiro das rendas. Semeava tão facilmente as economias, que ninguém via naquilo um sintoma de pena ou de justiça — mesmo da velha —, mas apenas um desejo urgente de comodidade. Dar aliviava. (...)
A língua portuguesa é, sem dúvida alguma, uma língua particularmente harmoniosa e musical. Os seus ritmos são doces; as palavras que a tecem, em geral desprovidos de acentos, são tristes como côres de tons pálidos, e expressam-se sempre em voz baixa. Isto dá nevoeiro de ideal à prosa, e presta serviços inestimáveis ao artista melancólico, que é por via de regra português.
Qualquer estrangeiro pode traduzir com facilidade e presteza na sua linguagem todo o pedaço de prosa dos nossos bons autores, visto ser a sintaxe da nossa língua mui natural e correcta, sem a imensidade das inversões que vemos nos outros idiomas antigos e modernos, circunstância que os faz de difícil acesso a quem neles pretende ser instruído, e obsta à sua propagação…
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Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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