Da autoria do escritor, poeta e tradutor português Vasco Graça Moura (1942-2014), um poema inserto no livro Testamento de VGM (Edições Asa, 2002, p. 20; também disponível na Quetzal Editores, numa edição de 2019).
Da autoria do escritor, poeta e tradutor português Vasco Graça Moura (1942-2014), um poema inserto no livro Testamento de VGM (Edições Asa, 2002, p. 20; também disponível na Quetzal Editores, numa edição de 2019).
Floresça, fale, cante, oiça-se e viva
a portuguesa língua, e já onde for,
senhora vá de si, soberba e altiva!
Se até aqui esteve baixa e sem louvor,
culpa é dos que a mal exercitaram,
esquecimento nosso, e desamor!
(...)
A minha língua é bonita como um vestido de domingo
é bela como o tempo
tem passado, presente e futuro
tem sons que enchem a minha casa de afetos
afetos dos sentidos, dos cinco
afetos que me afetam e me tocam
me vestem e despem a alma
e arrancam
os pregos que me amarram
e alteram a minha vida, numa transformação física
e tem cores que se misturam na água da minha boca
numa solução química, ora doce ora amarga.
a minha língua fica às vezes presa com...
Nunca vou conseguir avaliar esta língua apenas pela sua música. Está demasiado dentro de mim para que seja capaz de alcançar esse exercício. Disse a minha primeira palavra em 1975 e, desde então, o meu vocabulário tem aumentado. Ao ponto de, quando não sou capaz de dizer algo nesta língua, ter a sensação, certamente errada, de que se trata de um assunto impossível de descrever.
Eu amo tanto a nossa língua, esta nossa querida língua portuguesa! — fidalga de nascença pelos pais, cedo emancipada e logo rica, modesta no aspecto, dada no trato, grave no som, sóbria na tinta, gentil de linhas, e por ser desembaraçada de partículas inúteis, precisa nos conceitos, rápida nas máximas, evidente nos contrastes; e ao mesmo tempo cândida para bucólicas, terna para lirismos, altiloqüente nas estrofes das epopéias sonorosas, esquiva no diálogo curto, avolumada no discurso lento, s...
Nunca o Silvestre tinha tido uma pega com ninguém. Se às vezes guerreava, com palavras azedas para cá e para lá, era apenas com os fundos da própria consciência. Viúvo, sem filhos, dono de umas leiras herdadas, o que mais parecia inquietá-lo era a maneira de alijar bem depressa o dinheiro das rendas. Semeava tão facilmente as economias, que ninguém via naquilo um sintoma de pena ou de justiça — mesmo da velha —, mas apenas um desejo urgente de comodidade. Dar aliviava. (...)
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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