Consultório - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Respostas Consultório Classe de palavras: substantivo
Valdemar Andrade Magistrado do Ministério Público (jubilado) Coimbra, Portugal 4K

Na resposta à pergunta 15437 (relativa à palavra presidenta), escreve-se o seguinte:

«O facto de começar a haver dicionários que registam a palavra presidente alterando a terminação de -e em -a para diferenciar a forma do feminino apenas significa que esses dicionários resolveram registar um modismo, uma ocorrência sem suporte linguístico na morfologia actual.»

Ora sucede que já dicionários editados em 1944 (o de Augusto Moreno) e em 1953 (o de Cândido de Figueiredo) registam a palavra presidenta, o que mostra que não está a começar nos nossos dias (já na segunda década do século XXI) a aceitação daquela palavra.

Isso leva-me a perguntar: poderá ainda considerar-se um modismo uma palavra que já há 60/70 anos era recebida em dicionários?

Antecipadamente agradeço os esclarecimentos que me forem prestados.

Paulo Araújo Economista Rio de Janeiro, Brasil 5K

A respeito da consulta formulada, em 3/6/2011, pelo Sr. Luiz Eduardo Bizin, professor em Sydney, Austrália, sobre a origem da palavra saudade, o Sr. Carlos Rocha nos dá excelente aula sobre o tema. Em resposta anterior, sobre o mesmo assunto, no Ciberdúvidas, foi feita menção ao verbete no magnífico dicionário de José Pedro Machado. Tenho esse dicionário e em sua epígrafe Machado diz que «Cabe ao [dicionário] de Antenor Nascentes o pioneirismo dos dicionários portugueses só etimológicos. De onde se depreende que todos os mais são e serão seus seguidores». Nascentes parece ter se dedicado com muito afinco ao vocábulo, e como esse dicionário é de 1932, reimpresso em 1955, mas hoje raro, tomo a liberdade de aqui reproduzir tudo que ele apurou sobre essa tão rica particularidade da língua portuguesa, sem correspondência semântica idêntica em qualquer língua; a mais semelhante que encontrei foi no catalão, enyorança, mas ainda assim incompleta porque não exige a vontade de rever.

«SAUDADE – Do lat. solitate, solidão, desamparo, que deu o arc. soedade, soidade, suidade, que sofreu influência de saudar (Diez, Dic., 486, M. Lübke, REW, 8074, A. Coelho, Pacheco J., Gram. Hist., 153, Pacheco e Lameira, Gram Port., 347, Leite de Vasconcelos, Opúsculos, I, 216, G. Viana, Apost., II, 407, Otoniel Mata, O meu idioma, 217, Nunes, Gram. Hist., 95, Xavier Fernandes, ALP, III, 73-6); esp. soledad, gal. soidade, soidá, soedade, soedá, suidade, saudade. Do significado de solidão, desamparo, passou ao do sentimento de quem se encontra solitário, longe daquilo que ama, a pátria, a família. Soedade encontra-se em Arraiz, Diálogos, II, 12 e V, 1. Soidade aparece (às vezes soydade) no Cancioneiro da Vaticana, ns. 119, 210, 214, etc., Cancioneiro da Ajuda, n. 389, e Azurara, Crônica da Guiné, 142. Finalmente suidade, aliás, suydade, em D. Duarte, Leal Conselheiro, 112, 151, 157, Cancioneiro da Vaticana, n. 758, Azurara, op. cit., 340, Samuel Usque, Tribulações de Israel, 3º , fl. 40 v, Conde D. Pedra, Livro da virtuosa bemfeitoria, 206 e 292. No século XVI a forma arcaica ainda aparece viva na Imagem da vida cristã, de Fr. Heitor Pinto, mas a moderna já aparece em Camões, soneto 83, Lusíadas, III, 124, em Gil Vicente, no Cancioneiro Geral, 39 v., na Eufrosina, etc. Eduardo Carlos Pereira, Gram. Hist., 66, viu influência de saúde. Cortesão admitiu a inaceitável série: soidade- *soadade- *suadade- saudade. G. Viana aceitou a influência de soudade, pronúncia vulgar a que corresponde outra mais vulgar em Lisboa sòdade. Cláudio Basto, RL, XVII, 275, XVIII, 178, admite que a transformação de soidade em saudade é de ordem literária; a mudança de oi em au seria influenciada, para assim dizer, por uma falsa latinização, ao invés da habitual mudança de au em oi. Lembra que já Bernardo de Lima, Dicionário da Língua Portuguesa, pág. VII, queria atribuir essa mudança aos escritores, quando notava ser o vocábulo saudade mais harmônico que soidade e que, por isso, embora havendo tido igual uso, começara a ser mais usado. C. Michaelis, A saudade portuguesa, objeta que, se o ditongo latino au se pode transformar em oi, cfr. auro, ouro, oiro, oi não pode transformar-se em au, logo é difícil admitir que de soidade saísse saudade. Além disso, da forma saudade, que parece moderna, há exemplos, raros, é certo; em documentos do século XIV, como a Vida de Santo Amaro: E Velliides lhes disse: Ay amigas, nom choredes ante ell, que auerá gran coyta e gran saudade (fI. 119). Entendeu aquela autora que devia ter havido confusão entre saúde, saudação, saudar (de salutare) com a palavra saudade, que derivaria de uma forma salutate. João Ribeiro, Curiosidades Verbais, 197-201, entende que saudade pode provir do ár. saudá. De acôrdo com informações do professor Ragy Basile, apresenta três expressões árabes, suad, saudá e suaidá, que têm o sentido moral de profunda tristeza e literalmente do sangue pisado e preto dentro do coração; na medicina as-saudá é uma doença do fígado que se revela pela tristeza amarga e melancólica. Poderia objetar-se, acrescenta êste autor, que são raras as palavras que exprimem sentimento, tomadas no árabe. Convém, entretanto, lembrar que a palavra, como foi dito, designa igualmente uma doença e muitas dêsse teor vieram do árabe: achaque, enxaqueca, soda (dor de cabeça), etc. E também são doenças a morriña galega, que traduz saudade e o Heimveh alemão que migrou do sul para o norte. E toda medicina hispânica e européia foi na era medieval ensinada por Avicena, Averroés e outros grandes mestres. Há perfeita identidade entre moléstias nervosas e sentimentos: hipocondria, melancolia, angústias... A respeito do vocábulo convem consultar: D. Duarte, Leal Conselheiro, cap. Do nojo, pesar, desprazer, avorrecimento e suydade; Duarte Nunes do Leão, Origem da lingoa portuguesa, 3ª ed., pg. 79; Fr. Isidoro de Barreira, Tratado das significações das plantas, flores e frutos que se referem na Sagrada Escritura; Severim de Faria, Notícias de Portugal; Sousa Macedo, Flores de Espanha e excelências de Portugal; D. Francisco Manuel de Melo, Epanáfora, ed. de 1676, pg. 287; Garrett, Camões; Camilo, Coisas leves e pesadas, pg. 91; Cortesão, artigo na revista portuense A Águia, 2ª série, 116; G. Viana, artigo na revista O Positivismo, IV, 169-70; C. Michaelis, A Saudade portuguesa, Julio Dantas, artigo em o Correio da Manhã, do Rio de Janeiro.»

Maria Almeida Professora Lisboa, Portugal 22K

Se «o regimento é um regulamento aprovado para uso próprio (interno) por um órgão colegial duma pessoa colectiva de direito público», então o que é um regulamento? No dicionário os termos também surgem como sinónimos.

Sendo professora e coordenadora de departamento que reúne várias disciplinas, sinto necessidade de garantir a diferença de dizer elabore-se um regimento do departamento ou um regulamento, porque, se de normas se trata, para ambos preciso de entender a essência da diferença prática na aplicação dos dois termos.

Obrigada.

Bruno Caldeira Engenheiro florestal Lisboa, Portugal 7K

Gostaria de saber se existem diferenças substanciais no entendimento entre as palavras mudanças e alterações, de forma a afirmar abusiva a tradução de «climate change» para «alterações climáticas», como normalmente o tema é tratado em português, em vez de «mudanças climáticas».

Madalena Barbosa Jornalista Lisboa, Portugal 2K

Deve-se escrever "uroselectividade", ou "urosselectividade"? Esta palavra refere-se à propriedade de um medicamento.

Obrigada!

Gabriela Lima Fonoaudióloga Bauru, Brasil 4K

Gostaria de tirar uma dúvida minha, que na verdade tem sido uma dúvida atual de diversos profissionais na área da fonoaudiologia. Nós temos uma avaliação de fala, feita de forma perceptiva, apenas escutando o avaliado, que sempre foi chamada de «avaliação perceptivo-auditiva». Após essa nova mudança, um determinado grupo passou a usar o termo sem o hífen, como "perceptivoauditiva". Hoje já se ouve controvérsias, dizendo que o certo seria manter o hífen. Enfim, qual seria a forma correta de escrever esse termo?

Desde já agradeço a atenção!

Iara Esteves Professora Rio de Janeiro, Brasil 6K

Qual o processo de formação que deu origem à palavra gasômetro?

Muito obrigada.

Paulo Lima Professor Matosinhos, Portugal 5K

Na resposta dada por Carlos Rocha, em 29/03/2006, a uma questão que confrontava as noções de empresarialidade e empreendedorismo, parece-me que o autor prestou um mau serviço à necessária distinção entre os dois conceitos que cada vez mais se confundem. Abstraindo de outros aspectos do problema, direi apenas que o empreendedorismo não está enfeudado ao universo empresarial e que é um conjunto de atitudes, aptidões e comportamentos que urge cultivar mas cuja aplicação não se limita à vida das empresas. Por exemplo, qualquer trabalhador dependente pode (e deve, até por razões de promoção e valorização profissional) ser empreendedor no seu trabalho por conta de outrem. O empreendedorismo é, de facto, condição necessária para se ser empresário de sucesso e, por isso, todos os empresários deverão ser empreendedores (mas também podem não o ser e há, infelizmente, uma elevada taxa de mortalidade de empresas à cabeça das quais estariam, possivelmente, empresários não empreendedores ou pouco empreendedores), mas nem todos os empreendedores terão, para o ser, de se tornar empresários.

Luz Dias Documentalista Lisboa, Portugal 4K

Agradecia que me esclarecessem quanto à grafia de «tapete de arraiolos», ou seja, se neste caso se grafa Arraiolos em maiúsculas ou em minúsculas. Em meu entender será em caixa baixa, uma vez que não se trata do facto de o tapete ser de Arraiolos, mas sim pelo tipo do tapete e por se tratar de uma expressão do tipo água-de-colónia, que, segundo as regras, é em caixa baixa. Estarei errada?

Muito obrigada, não por esta mas por todas as dúvidas que, ao longo de muitos anos, tenho conseguido esclarecer convosco.

Ney de Castro Mesquita Sobrinho Vendedor Campo Grande, Brasil 4K

Tenho encontrado a palavra macaronésio como adjetivo relativo à Macaronésia, região marítimo-insular do Atlântico Norte, dotada de características próprias, que engloba os arquipélagos dos Açores, da Madeira, das Canárias e de Cabo Verde. Pois bem, gostaria de saber se o adjetivo em apreço apenas qualifica estas ilhas do ponto de vista geográfico, da fauna, da flora, do clima, ou se qualifica também os seus habitantes, de modo que pudéssemos dizer: «populações macaronésias» ou «povos macaronésios».

Ficaria também contente se me dissésseis se macaronésio é também um substantivo, de maneira que se pudesse dizer «o macaronésio», ao fazermos menção de um homem nascido em um desses arquipélagos.

Gratíssimo eternamente.