Qual será o significado concreto da terminação -um em vocábulos como vacum, ovelhum, cabrum, bodum?
Consultei o Dicionário Houaiss que apenas nos esclarece que vem do latim -unu- > - ũu > -um.
Parece não haver dúvidas que o vocábulo latino *insapidus, do latim clássico insipidus, originou o nosso vocábulo enxabido, que, com o prefixo de reforço des-, deu origem a desenxabido.
A minha pergunta é se é possível saber-se por que razão estas palavras se escrevem com x em vez de s, como acontece em algumas regiões aqui referidas na resposta "As variantes de desenxabido".
Muito obrigado,
Quarta-feira, 27/Mar/2019, RTP1, programa Joker. A dada altura surge a pergunta e as quatro hipóteses a considerar: «Ao que é relativo a S. Pedro do Sul chamamos… A- sulense B- sulano C- sulês D- sulino // E a resposta certa é… a B - sulano.»
No Grande Dicionário da Língua Portuguesa (Porto Editora) apuro que os vocábulos "sulense” e “sulês” não existem e sulino nos remete para sulista. Quanto a sulano: «adj. 1 relativo ou pertencente a S. Pedro do Sul, no distrito de Viseu, ou que é seu natural ou habitante; 2 designativo de uma raça bovina da região portuguesa de Lafões (Beira Alta) s.m. 1 vento que sopra do sul; 2 natural ou habitante de S. Pedro do Sul (De Sul, topónimo+ano).»
O Dicionário de Topónimos e Gentílicos de I. Xavier Fernandes e o Dicionário de Gentílicos e Topónimos do ILTEC, consultado no Portal da Língua Portuguesa, não mencionam o(s) gentílico(s) de S. Pedro do Sul. Encontrei sete obras/sítios que só consideram sulano como gentílico de S. Pedro do Sul, quatro que só consideram são-pedrense (entre os quais o Ciberdúvidas) e só um que considera os dois gentílicos (Infopédia – Porto Editora). Perante isto, recorro à vossa prestimosa ajuda.
Posso considerar como gentílicos de S. Pedro do Sul, no distrito de Viseu, os vocábulos são-pedrense e sulano? E já agora, o que me dizem de "sampedrense"? Este vocábulo está profusamente espalhado, pela cidade, como nome de lojas de comércio, assim como nome de colectividades desportivas.
Grato pela vossa resposta.
[N. E. – Na pergunta, ocorre a forma colectividade, anterior à norma ortográfica vigente, segundo a qual se deve escrever coletividade.]
* Aportuguesamento da marca registada X-ACTO®
Por simples análise à palavra x-acto [ɛks-aktou], fica evidente que a corruptela X-ATO, tanto em forma escrita como fonética, e outras semelhantes da marca X-ACTO® [ɛks-æktou] resulta[m] do afastamento erróneo do dífono [cs] representado pela letra xis na sua primeira sílaba x-, cuja pronúncia [ɛks] é completamente desarticulada mediante a sua substituição pela forma escrita xis, que é o nome da própria letra. Na sequência fonética x-acto [ɛks-æktou], a articulação do xis é insuprível pelo seu próprio nome, na medida em que o xis aqui não é uma figuração ou adjectivo de incógnita ou unidade desconhecida, mas o xis do alfabeto latino pronunciável pelo dífono [cs] com o apoio vocálico [ɛ].
* Origem e formação da marca registada X-ACTO®
Ao decompor-se a marca X-ACTO®, pronunciada em inglês [ɛks-æktou], fica demonstrado que a sílaba inicial X- originalmente é uma corruptela criada de propósito (ainda no início dos anos 1930) com o adjectivo castelhano exacto, que se pronuncia [ɛks-aktou] para se chegar à escrita truncada X-ACTO, porém mantendo sempre a mesma pronúncia [ɛks-aktou]; e para esse fim a vogal e- foi suprimida no início da primeira sílaba ex- na sequência fonética do adjectivo em castelhano exacto, cuja grafia, por acaso, então em 1930, era igual à grafia de igual adjectivo em português, e articulado de modo quase igual. Aliás, a supressão da vogal e inicial não dificulta o reconhecimento do adjectivo exacto [ɛks-aktou], quer seja pronunciado em castelhano, quer seja em português, ou ainda em inglês [ɛks-æktou].
* O aportuguesamento irregular da marca X-ACTO®
Quando se faz a desarticulação da consoante x (dífono cs), pronunciada [ɛks], como unidade fonética para se construir em português a corruptela xis- baseada apenas no nome da letra, o seu valor fonético ex- já não pode ser realizado pela forma escrita xis-; e uma vez feita essa desarticulação o adjectivo exacto, tanto em português como em espanhol, fica truncado e a parte restante toma a aparência escrita acto que é a mesma forma escrita do substantivo acto em português. Assim, em teoria, a sílaba inicial X- da forma vocabular X-ACTO é convertida em partícula incógnita, a qual conforme os padrões da língua deve ser transposta para o final da palavra, onde forma a locução Acto X (sem hífen). A forma Acto X é a única adaptação regular aos padrões da língua em processo igual ao processo que trouxe ao português a locução «raios x» (lido xis), adaptada do inglês x-rays [eksreiz] ou mesmo directo do alemão X-Strahlen (Röntgenstrahlen).
* Aportuguesamentos anormais da marca X-ACTO®
Como se vê a derivação imprópria da marca X-ACTO® nada tem a ver com outros casos de palavras que sofreram algum processo de aportuguesamento em maioria verificados na variante brasileira da língua, exemplicados pelos seguintes casos: chiclete, fórmica, gilete, jipe, lambreta, licra, óscar, pírex, polaróide, rímel, tartã ou vitrola. Além disso, há que se considerar que as corruptelas da marca X-ACTO® só começaram a ter uso em Portugal, ainda quando a maioria das pessoas que as usava nunca tinha visto antes qualquer objecto com a marca X-ACTO®, e tão-pouco sabia que se tratava de uma marca. Estas pessoas, induzidas em erro provocado por comerciantes inescrupulosos, desataram a utilizar as corruptelas da marca X-ACTO®, como nome genérico dado a um certo e então desconhecido objecto que deveria ter começado a ser conhecido em português pelo nome: cortador ou mesmo "cúter" (snap-off blade cutter) OLFA® e que se refere ao invento do japonês Yoshio Okada em 1956 e também à faca (knife Stanley) mais usada para cortar alcatifa, anteriormente chamada naifa (do inglês knife) e mesmo ainda hoje designada na linguagem popular «naifa do japão» (knife OLFA®).
* Imprecisão fonética dos aportuguesamentos impróprios da marca X-ACTO®
A prova de que a maioria das pessoas que usam corruptelas da marca X-ACTO® nunca viu antes a marca X-ACTO® escrita alguma vez é sustentada precisamente pelas pesquisas feitas em corpora e em motores de busca que revelam ocorrências das formas "xizato" (em maior número até do que "xizacto"), o que demonstra a propensão que os falantes têm de aproximar palavras não escritas e até desconhecidas aos padrões da língua corrente – portanto não se trata só de palavras estrangeiras. A marca X-ACTO® começou a constar dos dicionários de língua portuguesa, com a grafia x-acto somente a partir de 2003 (DLP Editora, edição 2003) e depois no VOP como estrangeirismo, logo não se pode suprimir dessa grafia o fonema c, tal como também não se suprime o fonema c da palavra facto, por aplicação das regras do novo AO de 1990, pois a sua pronúncia sempre foi muito clara na sequência fonética ac-to da corruptela [xizacto]. A qualificação de faca de corte exacto é atribuída à faca de pena devido ao ângulo de corte da sua lâmina situado entre 13° e 19°, enquanto em outros instrumentos, como por exemplo, o cortador (cutter) OLFA® ou mesmo a faca (knife) OLFA® o ângulo de corte da sua lâmina está situado a 0°, portanto não há. Este é o motivo pelo qual o nome faca X-ACTO® [ɛks-æktou] não pode ser dado a qualquer outro instrumento de corte que não possua essa característica de precisão. Bisturi [não cirúrgico], estilete [de precisão] ou faca X-ACTO® [ɛks-æktou] são, respectivamente, os nomes genéricos dados em Portugal e no Brasil à faca de pena composta por uma pequena lâmina que é substítuível, muito afiada e ajustável por encaixe num pequeno mandril montado na ponta de um cabo tubiforme. Note-se, esta faca de pena não deve ser confundida com a “pequena lâmina” que se liga por articulação a um cabo de resguardo, designada correntemente canivete e classificável também como faca de pena. Mediante este comentário, torna-se evidente que somente por ignorância é que alguém pode pegar na corruptela «XIS-ATO» obtida do nome de marca registada X-ACTO® [eks-æktou] e atribuí-la ao cortador (snap-off blade cutter) OLFA® ou à faca OLFA® (conhecida também por “naifa do japão”). Certos dicionários portugueses fazem registos de entrada no conjunto de significações e explicações referentes à corruptela «X-ATO» da marca X-ACTO® [eks-æktou] e outras corruptelas semelhantes.
Seria providencial que uma resposta do Ciberdúvidas pudesse ajudar a rectificar as acepções impróprias para afastar a continuação das misturas de nomes genéricos, principalmente quanto à corruptela «xis-ato» que é uma forma fonética de uso frequente em Portugal, porém, como se vê, completamente errada.
[N. E. – O consulente segue a ortografia anterior à norma em vigor, a do Acordo Ortográfico de 1990.]
Gostaria de saber qual é a forma correta do nome: "Gertrude" ou "Gertrudes"? Ou ambas são aceitáveis?
Obrigado.
O que é mais correcto: «Estou grata por este dia de sol», ou «Estou grata a este dia de sol»?
A questão é se o objecto da gratidão (este dia de sol) deve ser precedido de por ou de a. No mesmo sentido, quando se deve usar «grata por...» e «grata a...»?
Obrigada.
Poderiam confirmar-me a evolução fonética de dous>dois? Houve alguma epêntese do i? É apenas um processo de regularização da escrita? É esta a minha dúvida.
Obrigado pelo vosso trabalho.
O é da palavra xibolete pronuncia-se aberto ou fechado?
Sempre considerei que a grafia (e a pronúncia) da palavra nogado deveria ser assim mesmo, ou seja, sem acento e tendo como sílaba tónica a sílaba ga.
Hoje tive ocasião de ver uma reportagem da RTP [1] onde não só se escrevia como se pronunciava "nógado". Em todos os dicionários onde procurei só mencionam nogado, com exceção da Infopedia, que admite as duas formas.
A minha dúvida é se "nógado" é simplesmente uma versão corrompida da palavra original, que ganhou força por via da repetição, ou se existe algo mais que justifique a adoção dessa forma, que me parece estranha e afastada tanto do latim nucatus quanto do francês nougat (havendo até a versão nugá na língua portuguesa).
Muito obrigado pela atenção.
[1 O consulente refere-se a um apontamento da RTP sobre um nógado de mais de 60 m, confecionado para assinalar os festejos do Carnaval de 2019 na localidade de Vimieiro, no concelho de Arraiolos (Évora).]
Como pronunciar a palavra gaivotinha: com o aberto ou fechado? Porquê?
Obrigada.
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