Consultório - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Respostas Consultório Classe de palavras: adjectivo
Abílio Silveira Médico Macedo de Cavaleiros, Portugal 3K

O adjectivo sonial, significando «relativo ao sonho», «onírico», existe na língua portuguesa?

Ou é um aportuguesamento da palavra francesa somnial?

Há vários dicionários brasileiros online que apresentam a palavra sonial como correcta, mas a Infopédia, da Porto Editora, nega a sua existência.

Antecipadamente grato.

Ana Vaz Técnica de ação social Lisboa, Portugal 5K

Ultimamente tenho reparado que em contexto culinário se usa a palavra decadente, como no exemplo «fiz uma sobremesa decadente, deliciosa».

A utilização da palavra neste contexto está correcta?

Obrigada!

José Carapinha Jurista Macau, China 5K

Qual é a designação correcta do tipo de energia renovável que se extrai da retenção de água nas barragens? Hídrica, ou hidráulica?

Jorge Nunes Redator Lisboa, Portugal 11K

Sei que o Acordo Ortográfico determina que os elementos de composição por prefixação, como mini-, super- ou hiper-, devem unir-se ao segundo elemento sem hífen, salvo nas exceções previstas.

No entanto, segundo vários dicionários, esses mesmos elementos podem ter a função de adjetivos, passando a ser grafados com acento e separados do substantivo que precedem, como por exemplo míni ou súper.

O que distingue ambas as utilizações? No primeiro caso não funcionam também por vezes como adjetivos? Será legítimo escrever tanto "superestilo" como «súper estilo»? "Minibola" e "míni bola"? E porque não «super sónico» e «mini bola» (sem acento)? Ou teria de ser «estilo súper/super» ou «bola míni/mini»?

Agradeço desde já a vossa ajuda e felicito-vos pelo vosso excelente trabalho.

Marcos Helena Estudante Lisboa, Portugal 5K

Quem lê Ricardo Reis sabe da necessidade de se colocarem umas gotitas de óleo no mecanismo da reflexão semântica, antes mesmo de se pôr o motor a carburar! E pode ser que, pelo tubo de escape, lá se expilam quaisquer grãos de chumbo que perdurarão pesados, rolando incessantemente pelo asfalto... Estando eu, portanto, a passar os olhos por uma dessas venerandas ;) odes ricardinas – sem qualquer pretensão de análise linguística, diga-se de passagem –, eis que o sino toca e a igreja se enche, repleta! Transcrevo o excerto que me serviu de inspiração para as posteriores análises:

«Nem vã sperança nem, não menos vã, / Desesperança, Lídia, nos governa / A consumanda vida. // Só spera ou desespera quem conhece / que há-de sperar. Nós, no labento curso / Do ser, só ignoramos. [...]»

Nesta passagem, a latinidade de R. R. vem à tona por meio daquela recusa contundente em não se permitir o "bárbaro" uso da vogal protética e daquele partícipio presente «labento» que escapa aos verbetes de dicionário1. Mas onde a fineza de estilo mais transparece é mesmo no uso do gerundivo «consumanda». Do que me relembro, conjugam-se neste adjectivo verbal (a) quer um valor modal deôntico de obrigação, (b) quer um valor diatético passivo no futuro (será por isso que certos latinistas falam do gerundivo como sendo uma espécie de particípio futuro passivo...). Parece, contudo, que, segundo a interpretação que escolhamos, isso nos levará a cambiantes de sentido diferentes.

Aceitando (a), contraria-se de certa forma o ideal de ataraxia, pois impele-se à acção. Pelo contrário, aceitando (b), o poeta referir-se-ia à «única certeza das nossas vidas» – o seu carácter efémero, aqueles estandartes com que publicita o seu próprio fim. Afinal, como ficamos?

Tudo isto me faz lembrar aquelo verso camoniano «... d'aspeito venerando...». Lendo-o à luz deste novo matiz (i. e. como se tratando da reminiscência de um particípio futuro passivo), parece que o autor quase que prevê que os receios do Velho se vão concretizar (e se não concretizaram?). Certamente que, contrariamente ao que apregoam bafientos dicionários, 'venerando' não poderá ser apenas um sinónimo de 'venerável'. Esquece-se-nos a expressão papal «damnabilis, sed non damnanda»? Sentir-me-ia satisfeito caso se dispusessem a partilhar a vossa visão sobre estes assuntos.

Desde já muitíssimo agradecido.

NOTA: TRADUÇÕES-TIPO

– valor modal deôntico de obrigação: «que deve ser...»

– valor diatético passivo no futuro: «que há-de ser...»

(São parecidas, hein?)

Susana Bourbon Professora Ovar, Portugal 7K

Gostaria de saber qual o substantivo que dá origem ao adjectivo atónito, isto porque atonia é o substantivo do adjectivo atónico, mas atónico e atónito são palavras diferentes.

Obrigada.

Marcos Helena Estudante Lisboa, Portugal 7K

Estava a ler Viagens na minha Terra, de Almeida Garrett, quando me deparo com o seguinte passo (capítulo XXI): «Oh! que imagem eram esses dois [Carlos e Joaninha], no meio daquele vale nu e aberto, à luz das estrelas cintilantes, entre duas linhas de vultos negros [constitucionalistas e realistas], aqui e ali dispersos e luzindo acaso do transiente reflexo que fazia brilhar uma baioneta, um fuzil...» A minha dúvida parte da surpresa que experienciei ao descobrir a palavra transiente, que tinha por inexistente à sombra de transeunte... A etimologia parece-me fácil de remontar: particípio presente do verbo latino transeo, -is, -ire, -i(v)i, -itum («atravessar, ir além de»). O que me espanta é o facto de se haver preservado os dois radicais, quando [o bulício próprio] à língua portuguesa apontariam apenas para a vitória triunfal da forma acusativa transeunte – possivelmente a única que se atesta como nome. Esconde-se aqui alguma outra razão que não esteja a reflectir o seu brilho?

Agradecido.

P. S. – Aproveito para agradecer ao consultor Gonçalo Neves pela sua amável solicitude em responder às questões de fundo clássico com a maior ciência e o maior detalhe. A que diz respeito à voz passiva é, sem dúvida alguma, soberba. A explicação, as citações... Muito agradecido.

Fausto Sá Cunha Médico Porto, Portugal 7K

Qual o significado de mezungueiro, que encontro num conto de Mia Couto? E já agora de chamboco.

Maria Amélia Oliveira Intérprete de conferência Porto, Portugal 29K

Qual a diferença entre judicial e jurisdicional?

Quando traduzo «contrôle juridictionnel» (fiscalização pelo juiz), qual dos dois adjetivos devo empregar?

Terrence Fraser-Bradshaw Educador Greater Georgetown, Guiana 10K

Tenho aprendido que, quanto ao superlativo relativo, os adjectivos que terminam em io recebem ii quando há consoante antes: serio-seriíssimo. Mas, no caso de cheio, deve ser, rigorosamente, "cheíssimo" e jamais "cheiíssimo", não?