DÚVIDAS

«Você não passa de um safado.»
Qual a classificação do verbo «passar» em «passar de»? E qual a classificação sintática do termo que lhe é posterior em frases como «Você não passa de um safado» e em «Você passou de cama ontem»? À luz da semântica, parecem-me, respectivamente, um verbo de ligação com um predicativo do sujeito. Em «Você passou de cama», parece-me «Você passou acamado». O que lhes parece?
Feminicídio ≠ uxoricídio
Marcello Sacco, jornalista italiano freelancer, escreve na sua crónica do Diário de Notícias, de 1 de fevereiro último a propósito da violência contra as mulheres em Itália: «Há até uma palavra nova, feminicídio, que apresentando-se como a versão feminina de homicídio, soa fatalmente a genocídio.» Não pode soar a genocídio, que significa assassínio em massa do género e quanto à introdução da palavra nova «feminicídio» é surpreendente que tal proposta venha de um jornalista italiano. Não temos nós latinos, o substantivo masculino (latim, uxor, esposa, mulher) e o adj. uxoricida? Propunha que a nossa comunicação social utilizasse este substantivo quando se refere ao homicídio de esposas/mulheres. Em prol da riqueza linguística. Acresce que o prefixo homo- tem o significado de idêntico, igual e portanto não possui género. Feminicídio só poderia ser o feminino de outra nova palavra: hominicídio.
Orações relativas com «onde»
Na frase «Os extremos do largo são, aliás, os únicos locais onde ainda se veem algumas pessoas a viver o espaço», qual a função sintática da oração «onde ainda se veem algumas pessoas a viver o espaço»? Na minha primeira análise, seria modificador restritivo do nome, uma vez que é introduzida pelo advérbio relativo "onde" e restringe os locais a que diz respeito... No entanto, parece-me ser obrigatório na frase, o que contraria a definição desse modificador... Na Gramática da Língua Portuguesa, de Zacarias Nascimento, aparece a informação de que o advérbio "onde" pode introduzir um complemento oblíquo (ex: «Do local onde moro avisto o palácio de Sintra» - neste caso, também está a restringir o local). Se for, de facto, complemento oblíquo, como classificar a oração? Obrigado.
Hífen com ênclise e mesóclise
O Dicionário Online Priberam, quando pesquisamos sobre a definição de 'Hífen', fornece-nos a seguinte informação: «hí·fen (latim hyphen, do grego hufén, como um, num só) substantivo masculino [Tipografia] Sinal gráfico horizontal (-) usado na separação de elementos de um composto, de alguns prefixos, de sílabas em fim de linha e de ligações enclíticas, mesoclíticas ou proclíticas. = TIRETE, TRAÇO DE UNIÃO Plural: hífenes. "hífen", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa.» Eu gostaria de saber se não há um erro por parte do Priberam quando afirma que o hífen pode ser utilizado em ligações proclíticas, uma vez que estas últimas possuem nas suas características o facto de apresentarem ausência de hífen (os pronomes clíticos não se unem por hífen às formas verbais às quais revelam ligação). Existirá, então, um lapso no Dicionário Online Priberam que deveria ser corrigido?
A combinação de formas pronominais tónicas e átonas
Em muitas leituras que já fiz, acabei por encontrar os dois pronomes se e lhe usados juntos. Gostaria de saber o porquê desse emprego. Exemplificando: concede-se-lhe, arrojou-se-lhe, opor-se-lhe, em frases como «Dê-se-lhe vista dos Autos.», «Fora adorada pelos pais, pelo marido, pelos filhos; inspirara mais de uma paixão e as suas amigas disputavam-se-lhe a preferência. Habituou-se a ser sempre a primeira», «Viu-se então que a idade o não abatia. Num desempenho de rapaz atlético aprumava-se-lhe a estatura elegantíssima entre as voltas do poncho desbotado que lhe desciam até às botas de viagem, flexíveis e armadas das rosetas largas das esporas retinindo ao compasso de um andar seguro.» Agradeço a ajuda, desde já.
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