Esta pergunta é mera curiosidade: por que razão histórica/linguística é que o e, como em «eu e tu», é pronunciado "i"?
Geralmente diz-se que o português tem 14 vogais, mas não deveriam ser 15 se contarmos com a vogal /ã/, presente em «à antiga» (/ãːtiga/)?
A minha pergunta tem a ver com a fluência da língua portuguesa, nomeadamente como interligar oralmente as palavras numa frase de modo a que esta tenha um som fluido e sem grandes pausas entre as palavras.
Vim aqui fazer esta pergunta porque começo a olhar cada vez com mais preocupação, especialmente para os jovens, no que diz respeito à forma como se articulam verbalmente e interligam as palavras, nomeadamente as palavras que estão no plural quando a palavra seguinte começa com uma vogal. O que cada vez mais vejo acontecer é que se interligam as duas palavras com o auxílo do som "J" em vez do som "Z".
Usando como exemplo a seguinte frase: «Os amigos da Maria andam de patins ao fim-de-semana.»
O que me ensinaram a fazer para pronunciar correctamente e com fluidez esta frase foi usar o som "Z" para interilgar as palavras quando a anterior está no plural e a seguinte começa com vogal.
A frase, foneticamente, soaria da seguinte forma: «OzAmigos da Maria andam de patinzAo fim-de-semana.»
O que cada vez mais vejo acontecer é usar-se o som "J" em vez do som "Z", e a frase soa da seguinte forma: «OjAmigos da Maria andam de patinjAo fim-de-semana.»
Isto é algo que cada vez me faz mais impressão, porque é cada vez mais frequente acontecer, e não se trata de sotaques nem diferenças na pronúncia nas diferentes áreas geográficas de Portugal. É mesmo uma tendência crescente entre os jovens, inclusive já se vê pessoas (algumas celebridades) a falar assim na televisão, e gostaria de saber se esta forma de falar é, de facto, considerada oficialmente correcta no que respeita a língua portuguesa, em português europeu.
Permitam-me apenas um leve reparo [a propósito da resposta n.º 27 256]:
O p de Egipto sempre se pronunciou e pronuncia. Dou até um exemplo prático: no caso da liturgia não passa pela cabeça de ninguém pronunciar a palavra «Egito». Só de caso pensado...
P.S. – Haverá um número reduzido de intelectuais que omite o p de Egipto? Acredito que sim.
[A] propósito da definição, produção e percepção de ditongos, [recebi uma resposta vossa, com exemplos, que]* foi assaz taxativa: «Não sabemos de quem diga que não há ditongos em português.» Ora bem, a meu ver, os exemplos que o(a) prezado(a) consultor(a) listou mais não são que evidentes provas da impropriedade lexical que flutua em torno do conceito ditongo, o qual uso deturpado se generalizou. Em abono da verdade, o Dicionário da Língua Portuguesa – sem Acordo Ortográfico da Porto Editora define ditongo como sendo uma «sequência, numa sílaba, formada por uma vogal e uma semivogal». O verbete enciclopédico da Infopédia vai mais longe, afirmando que o vocábulo inglês fire se pronuncia [‘fajE].
Claro que estas afirmações incorrectas só podem vingar numa língua em que não existem verdadeiros ditongos, mas tão-somente combinações de vogal + semivogal. Nesta linha de pensamento, acresce citar duas fontes: uma informal, extraída de um fórum em linha (1), e outra formal, extraída do Précis de phonétique historique, de Noëlle Laborderie (2).
(1) «Ditongos em diferentes línguas? ■ Eu queria tirar uma dúvida: na língua portuguesa, os ditongos são formados pelo encontro de uma vogal + uma semivogal. em [sic] inglês e em outras línguas germânicas, por exemplo, os ditongos, por sua vez, são formados pelo encontro de duas vogais, sendo a mais forte o núcleo silábico. Foneticamente, existe alguma diferença entre os ditongos formados com as semivogais [j] e [w] e as vogais fracas [i] e [u]?»
(2) On remarque que y se vocalise (devient voyelle) en iꞈ diphtongal, c’est-à-dire un i qui n’est pas centre de syllabe (…).
N.B. – Noëlle Laborderie utiliza o Alfabeto Fonético de Bourciez nas suas transcrições, em oposição com as restantes fontes já citadas.
Conclui-se, pelos exemplos dados, que pronunciar [aj] não é o mesmo que pronunciar [aiꞈ], pois só a última transcrição é um ditongo. Para além do mais, em algumas evoluções fonéticas do latim para o francês, dá-se conta da fase em que o encontro de sons era um ditongo e daquela em que, pela consonantização de um dos elementos desse encontro, passou a ser uma sequência de vogal + semivogal.
Para concluir, não podia deixar de transcrever algumas correctas definições de ditongo, bem como a certa transcrição fonética de fire – /ˈfʌɪə/ (in Oxford Dictionaries).
Oxford «■ a sound formed by the combination of two vowels in a single syllable, in which the sound begins as one vowel and moves towards another (as in coin, loud, and side).»
Larousse «■ Voyelle complexe dont le timbre se modifie graduellement une fois au cours de son émission (par exemple en anglais [ei] day, [ou] nose ; en allemand [au], Haus ; en
espagnol [ue] muerte; en italien [uo] cuore). [En français moderne, il n’existe plus de diphtongues : les graphies eu, au, ou correspondent à des voyelles simples [ø], [o] et [u].]»
[...]
* N. E. – O consulente refere-se a uma resposta que lhe foi enviada diretamente, sem ter sido posta em linha no consultório.
Gostaria de saber se existe alguma regra que defina o som da letra o: quando se lê "ó", "u" ou "ô".
Muito obrigado.
Gostaria que esclarecessem a minha dúvida acerca da forma correta de escrever "Eufêmia" – ou será "Eufémia"? Eu sempre pronunciei "ê". Por uso julgava que esta era a forma correta, mas será que existem as duas grafias?
Se (aparentemente) existe um consenso entre os filólogos da certeza das formas "menistro" e "vezinho" ao ler ministro e vizinho, o que dizer "deregir" ao ler dirigir, como já se ouve na televisão?
Muita força para o Ciberdúvidas!
Eu nasci na Covilhã, mas fui para a Alemanha com quatro anos. Este verão, depois de 34 anos, decidi voltar para Portugal. Como cresci no estrangeiro, só aprendi o português com os meus pais, obviamente neste caso com o dialeto da Beira Baixa. Eu tenho tido dificuldades a adaptar-me ao dialecto lisboeta, e tenho amigos que gostam de se rir com a minha pronúncia de certas palavras. Uma diferença que eu não percebo é a pronúncia da palavra nasci ou cresci. Eu digo "nassi" ou "cressi", os lisboetas dizem "naschi" ou "creschi". Isso para mim não é lógico, porque só palavras com ch ou x deviam ser pronunciadas assim, correcto?
Gostava de lhes dizer que gosto muito da vossa página porque tem muitas informações interessantes.
Muito obrigada.
Tenho ouvido pronunciar a palavra Cister de maneiras diferentes. A sílaba tónica ora é a última, ora a penúltima. Gostaria que me esclarecessem se é uma palavra aguda ou grave e porquê.
Obrigada pela atenção.
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