Português na 1.ª pessoa - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Aguardente, cultura e língua portuguesa
Do grogue à cachaça

 «O vocabulário e as expressões correntes em uma determinada língua são reflexos do desenvolvimento histórico, social e cultural dos povos que a usam, revelando como vivem, trabalham, pensam, amam e interagem socialmente. (...)  Nesse amplo cenário, um dos campos semânticos curiosos [da língua portuguesa] é o que gira em torno da palavra aguardente, designação genérica de uma bebida destilada espirituosa, de alto teor alcoólico, que pode ser feita de cana-de-açúcar, frutas, cereais, raízes e tubérculos, entre outros.»

Crónica da linguista brasilerira Edleise Mendes , docente na Universidade Federal da Bahia, emitida no programa Páginas de Português de 19 de junho de 2022, da Antena 2.

 

Agradecimentos para quê?
Ainda as respostas a quem diz «obrigado»

 «Os agradecimentos portugueses não têm fim – é uma prova da nossa cortesia. Dizem os povos mais brutos que somos uns fingidos e uns hipócritas. Ainda bem que somos. O que seria da boa educação sem o fingimento e a hipocrisia?» – reflete o escritor Miguel Esteves Cardoso em crónica saída no jornal Público em 22 de junho de 2022, na sequência de uma outra, de 20 de junho, à volta de maneiras de formular respostas a um agradecimento.

 

 

Assédio, poder e sistemas de oportunidade
Conceitos de assédio

«O assédio na Universidade [em Portugal] é de espectro largo e em alguns casos de assédio moral corresponde ao sentido da palavra no discurso militar, i. e., o que verdadeiramente o que se faz é cercar, sitiar. São casos de perseguição que duram, muitos deles, anos a fio.» – escreve o professor universitário Carlos A. M. Gouveia refletindo sobre o conceito de assédio e os seus tipos na realidade universitária. Texto incluído no jornal Público em 23 de maio de 2022 e aqui transcrito com a devida vénia.

A Europa aqui tão perto
O novo significado do Dia da Europa

«Para muitas pessoas da minha geração e das anteriores, a Europa foi uma realidade distante, o que se refletia mesmo na língua do quotidiano, através de expressões como "ir à Europa" ou "emigrar para a Europa" [...].» Crónica da linguista Margarita Correia publicada no Diário de Notícias de 9 de maio de 2022, data em que se assinala o Dia da Europa e que serve de mote para uma reflexão da autora sobre como tem evoluído a relação de Portugal com a história europeia recente.

Dos lobos disfarçados de cordeiros, <br> ou da propaganda disfarçada de notícia
A confusão gerada pela expressão «pessoa lactante»

«[A] leitura [do título] da publicação [no Facebook da rádio RFM] desencadeou uma reação impulsiva e desproporcionada (as pessoas leem apenas os títulos e reagem) contra a linguagem neutra, inclusiva, dita "politicamente correta", que algumas forças tanto atacam, principalmente para desviar as atenções das muitas iniquidades que defendem (de religião, etnia, sexo, estrato social, etc).» Crónica da linguista e professora universitária Margarita Correia publicada no Diário de Notícias em 7 de fevereiro de 2022, na qual a autora critica a forma apressada como a rádio RFM pretendeu noticiar que um estudo daria a indicação (polémica) de se substituir a palavra mãe pela expresssão «pessoa lactante».

Quando os nomes próprios se transformam <br> em armas políticas
Antropónimos e eleições presidenciais em França

 «Uma das bandeiras que o candidato [às eleições presidenciais francesas] tem agitado na comunicação social é a do retorno aos "nomes franceses", defendendo a obrigatoriedade de "afrancesar os nomes próprios"», escreve a linguista Margarita Correia, em crónica publicada no Diário de Notícias de 3 de janeiro de 2022, a respeito do retorno à pretensa pureza dos nomes próprios franceses que é reivindicação de Éric Zemmou, candidato às eleições presidenciais francesas.

Translinguagem
A hibridização linguística na contemporeaneidade

«[O] conceito da translinguagem, oriundo do inglês translanguaging, ajuda-nos a compreender as práticas de linguagem e os modos como os sujeitos contemporâneos transitam entre línguas, construindo seus repertórios linguísticos de acordo com seus interesses de comunicação e de representação no mundo.»

Crónica da linguista Edleise Mendes para o programa Páginas de Português, na Antena 2, em 19 de dezembro de 2021. 

Joacine, o claro e o escuro
À volta do léxico associável à cor da pele

«Associar as dicotomias claro/escuro, luz/trevas ou dia/noite à concentração de melanina na pele é tão disparatado que se torna quase cómico», escreve o jornalista João Miguel Tavares*, discordando da deputada Joacine Katar Moreira e de todos os que, como ela, apontam a carga negativa associada à cor da pele em expressões e palavras herdadas dos tempos da escravatura e do colonialismo. 

Crónica disponível na edição de 7 de dezembro de 2021 do jornal Público, reproduzida a seguir, com a devida vénia, conforme a  norma ortográfica de 1945 do original..

Há racismo editorial no mundo literário em língua portuguesa?
O privilégio de que alguns escritores africanos gozam

«Não é novidade que os escritores africanos negros dos países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP) têm mais dificuldades de publicar no estrangeiro se comparados aos seus pares brancos ou mestiços. Mia Couto, de Moçambique, ou José Agualusa, de Angola, por exemplo, têm sido uma espécie de "porta-bandeira" dos seus países na arena editorial internacional», escreve a linguista, escritora e jornalista moçambicana Nadia Issufo, nesta peça publicada no portal da Deutsche Welle no dia 25 de junho de 2021.

O racismo em <i>Os Maias</i> de Eça de Queirós
Proposta pedagógica de investigadora luso-cabo-verdiana gera polémica

Em 18 de fevereiro de 2021, a investigadora luso-cabo-verdiana Vanusa Vera-Cruz Lima, doutoranda da universidade americana de Massachussetts Dartmouth, identificou passagens racistas em Os Maias, de Eça Queirós, e defendeu a necessidade de as edições escolares as assinalarem em notas pedagógicas. Semanas mais tarde, uma notícia sobre o assunto desencadeava alguma polémica em Portugal.

Sobre  a notícia dada pela agência Lusa  da palestra de Vanusa Vera-Cruz Lima, o jornalista Luís Miguel Queirós assinou no jornal Público do dia 3 de abril de 2021 um trabalho com a opinião de quatro especialistas portugueses em estudos literários e na obra queirosiana. 

Vide, ainda, o artigo de opinião Eça de Queiroz, "Os Maias" e uma pergunta sobre racismo, da autoria de Carlos Maria Bobone, no jornal digital Observador de 21 de fevereiro de 2021.